31.12.07

Finale

A última, a final, a derradeira postagem de 2007!!!

E o assunto será: o que eu gostaria de fazer com este blog. Sim, porque tenho escrito coisas que podem ser escritas, algumas até que devem, mas não tenho liberdade para escrever aqui o que quero. Se isso fosse feito, estaria despedido de todos os empregos e preso por alguma coisa que não sei qual é.

Mas que vem me dando uma vontade enorme, vem dando sim. Arrisco?

É bem provável então que em 2008 eu seja preso. Uma boa troca para que algumas coisas sejam esclarecidas. Ademais, tenho direito à cela especial. Se puder levar todos os meus livros e um ventilador, não será nada muito diferente do que passo hoje.

E.C

Comi a autobiografia do Eric Clapton. É uma milagre que aquele homem ainda esteja vivo. Mas o importante do livro não foi isso. É a primeira vez que leio uma biografia, e este fato, por incrível que pareça, me ajudou um tanto. Comecei a colocar as minhas coisas em perspectiva, como se estivesse escrevendo a minha própria autobiografia.

É um bom modo de aprender a se dedicar às coisas importantes e não perder tempo com babela.

Feliz 2008!!!

P.S - Tenho umas 254 possibilidades para a última postagem musical do ano. Portanto, talvez passe de uma.

22.12.07

Da série: coisas que eu não entendo

Cruzeiro

Vi a foto de uma amiga minha num cruzeiro. Pessoas fazem cruzeiros.

Aí eu fiquei pensando nisso: o que é fazer um cruzeiro? E cheguei à seguinte definição:

- Fazer um cruzeiro é ficar trancafiado 7; 10; 15 dias num hotel que balança e que pode afundar.

E o que há de legal nisso?

O primeiro dia deve ser ótimo, mas depois eu não quero sequer imaginar.

A vantagem?

Bem, é chique. Dá status. E...

Ainda prefiro o meu ventinho de Pringles.

19.12.07

O funcionamento da classe

Depois vocês dizem que eu sou chato, que eu exagero, que eu fico pegando no pé da "classe artística".

Da Folha de hoje:

FOLHA - O governo já disse que não pára as obras. Como a sra. avalia isso?
LETÍCIA SABATELLA - A gente vê a decisão de dom Luiz de abrir mão da própria vida e de chamar a atenção para uma causa que vai atender às gerações futuras, e, ao mesmo tempo, vê o governo tão apegado à uma idéia de transposição e à idéia de modelo de desenvolvimento calcado no lucro de alguns.

FOLHA - A sra. acha que o governo Lula está fora da linha para a qual foi eleito?
SABATELLA - O Lula foi feito e construído através do empenho dele, é claro, e dos movimentos populares. Com a chegada do Lula, se acreditava numa democracia popular. Começou a ter isso num determinado momento, mas com o PAC, com essa política de aceleração do crescimento, vai aumentar o trabalho escravo, aumentar a prostituição infantil e não se faz uma reforma agrária. Com o PAC, há um retrocesso.

Percebam o tamanho da paçoca que esta mulher fez. É por isso que a "classe" sempre se identificou e defendeu o PT com unhas e dentes. A ordem do discurso é a mesma.

Se eu tivesse algum poder político obrigaria todo brasileiro a ler, decorar e fazer exercícios sobre o "Discurso sobre o método", de Descartes. Nada mais do que isso. Um livrinho de 100 páginas. Só. Não duvido que o país melhorasse uns 758% em duas gerações.

P.S - Bem, ao menos a moça é linda, disso ninguém pode reclamar. Quem sabe se o barba fosse mais bonitinho...

18.12.07

E aos 33 com o retorno de Júpiter...

Talvez alguém esperasse um texto sobre meu aniversário. Um texto bem escrito, paciente, colocador das coisas em seus lugares. Pois bem: simplesmente não há tempo para isso. Aos 33 anos não se tem muito tempo para repassar o que acontece na cachola.

O que o tempo me permite dizer é algo ralo, rápido, esfumaçado. Entretanto, não por isso, desconsiderável.

O período transcorrido entre os dias 08/12/06 e 08/12/07 foi o mais intenso destes anos todos. Leiam bem: anos todos. Nunca tantos acontecimentos agudos, exteriores e interiores, transcorreram com tanta freqüência e celeridade.

Muita alegria, muitos dias bons, muito sol. Muita doença, muita histeria, muita dor. Amigos novos, paixões novas, trabalho novo. Perdas doloridas porque perdas morais, readeqüações, tentativas, desistências.

Um filho novo porque mudado e uma mãe nova porque mais sábia - os anos farão com que os motivos desta fala sejam esquecidos; não ligo.

Comecei o ano com um amor que era amor, mas amor de amigo, e soubemos reconhecer, e talvez nos amemos mais agora e pra sempre.

Comecei o ano com o pé torcido.

Reconheci, definitivamente, o valor e o lugar dos meus amigos. Ganhei uma amizade nova, e das grandes.

Recoloquei minha cabeça no lugar, valorei outras coisas, e terminei o ano com o pé novamente torcido.

Terminei o ano com uma amizade que não é amizade, com algo que não vai dar em nada mas que é a minha mais nova perturbação del cuore.

Sim, meu coração se perturba. E agora é só isso.

O resto é leve, bem leve.

Quanto valeu a parada

Fabiano passeando feliz e lépido pelas ruas do centro de Campinas.

Lá, lá, lá, lá, lá - tchu tchururu tchutchu tchu tchururu tchuchu - Ah, que legal, faz tempo que eu não entro na Pontes!

Informação no mezanino - Qualquer livro a 10 pila. Hummm, será que tem coisa boa aí?
Olha, olha, olha - uns Engels, uns seres desconhecidos...
- Moço, tem mais estas caixas aqui ó, se quiser dar uma olhada...
- Ah tá, obrigado.
Hummm, interessante este - e põe o livro debaixo do braço. E mais este também. Hummm, e mais este.
Começa a desconfiança: mas será que estes aqui custam mesmo dez reais? Já sei, vou perguntar e passar vergonha porque é óbvio que eles não custam dez reais.
- Hei, estes também a dez reais?
- Sim, isso mesmo.

Uau, que maravilha - cambalhotas, beijo na boca da vendedora, coração desenhado com dedos no ar - três ótimos livros por trintinha!!!

Mas não basta pegar a oferta, tem que saber quanto se ganhou na coisa.
Chega em casa e vai pro micro - O Tambor/ Günter Grass - R$ 49,00 - Jung, A biography/ Deirdre Bair - R$ 49,80 - New Horizons in the Study of Language and Mind/ Noam Chomsky - R$ 74,00.
OK, 174 menos 30, 144.
Ô loco, por estar no lugar certo na hora certa, R$ 144,00!!!

E Fabiano sai pela sala feliz e lépido, imitando uma borboleta...

Key to Reserva: Martin Scorsese, Alfred Hitchcock, Herrmann

Fantástico!!!

Não deixem de ver...

4.12.07

Gisele Bündchen (texto atrasado)

Eu agora assino a Newsletter da agência Carta Maior. Sabem como é, né: não posso ficar lendo coisas vindas de um só lado. Na verdade, nunca fiz isso, o que me possibilitou a escolha pelo flanco mais lógico e coerente da batalha. Acontece que eu havia deixado a leitura do outro lado um pouco sem rédeas, à solta, sem a devida voracidade.

Resolvi mudar. Mudar para ser o mesmo. Leiam o texto abaixo e ficará fácil entender o porquê. Meus comentários vão depois.

De novo nossa imprensa comeu bola sobre a Venezuela. Em 2002 foi aquela vergonha dos nossos semanários e comentaristas saírem soltando foguetes na sexta-feira cantando em prosa e verso a queda de Hugo Chávez, enquanto no domingo à noite nele reentrava vitoriosamente no Palácio Miraflores reconduzido pelo povo e por militares legalistas que rejeitaram o tradicional papel sujo que as classes dirigentes sempre atribuíram às Forças Armadas na América Latina.

Desta vez foi o contrário. Embalados por bocas de urna duvidosas, comentaristas no domingo à noite e os jornais conservadores na segunda pela manhã anunciavam a vitória do “sim” no plebiscito venezuelano. As violas, violinos, guitarras, cellos e trombetas já se afinavam à torto e à direita. Seria uma vitória “apertada” numa “Venezuela dividida” e que permaneceria dividida enquanto Hugo Chávez permanecer no poder. Também se lançaria mão dos conhecidos acordes das “instituições em perigo”, do “enterro da democracia”, e por aí afora e adentro.

Pois o “não” ganhou. De repente, passou a importar pouco que as diferenças nas duas partes do plebiscito ficaram em torno de 1%, 1,5%. As manchetes do conservantismo proclamaram em uníssono: “A Venezuela”, assim em bloco, “A Venezuela disse não à reforma de Chávez”.
De quebra, ainda no domingo, falava-se da pesquisa sobre terceiro mandato no Brasil como se a rejeição a essa proposta fosse uma “derrota” para Lula. Enfim, é ainda a busca pelos derrotados em outubro do ano passado por impor alguma “derrota”, seja ela qual for, à vitória de Lula que tiveram de engolir.

Voltando à Venezuela. A vitória apertada do não e as reações subseqüentes confirmaram duas teses que estiveram presentes nas análises aqui da Carta Maior.

A primeiro é a de que o projeto de Chávez passava por dificuldades, que perdera apoios importantes e que as radicalizações do discurso do presidente venezuelano no plano externo visava provocar uma coesão que lhe faltava. Chávez embrulhou importantes e democráticas reformas no plano social com uma abertura para uma continuidade ilimitada no poder, o que provocou dois resultados complicados:

1) Perdeu apoio entre a intelectualidade e em setores do campo estudantil. Pode ser que setores universitários tenham se sentido ameaçados em suas prerrogativas pelas propostas igualitaristas que vinham no bojo do plebiscito. Mas houve uma perda de “impulso ideológico” que abriu espaço para posições contrárias às reformas. O plebiscito, tão complexo em sua totalidade, tendeu a se transformar na resposta a uma única questão, se Chávez poderia continuar indefinidamente na presidência, até que a morte os separasse (não são tolices as alegações de que ele possa ser assassinado), ou não. Isso “emparedou” o plebiscito e, se de um lado, mostrava a força do carisma do presidente, de outro expunha uma das fragilidades do movimento bolivariano, que é a dependência com exclusividade do comandante e do comando de Hugo Chávez. É verdade que, confirmando tese de Max Weber recentemente lembrada por José Luís Fiori em entrevista à Folha de S. Paulo, na América Latina tradicionalmente políticas inclusivas sempre foram bandeira de políticos carismáticos, de estilo acaudilhado e acaudilhantes, nunca dos nossos políticos liberais, que em geral representam aqueles que não se liberam jamais da visão de seus foros de privilégio e de benesses estatais chamadas de “investimento”. Vejam-se os exemplos históricos de Vargas, Perón e Cárdenas

2) A segunda tese presente em análises na Carta Maior foi comprovada, pelo menos de momento, pela reação do presidente Hugo Chávez ao resultado negativo no plebiscito. Ao contrário da direita venezuelana, que não aceitaria a vitória do “sim”, e da direita internacional, inclusive na imprensa, que já preparava a tese da fraude eleitoral, Chávez aceitou de pronto o resultado, ainda que declarasse que o projeto continua de pé. Sua declaração sobre a manutenção do projeto não contraria prática democrática nenhuma. Por exemplo, o projeto de independência ou de maior autonomia do Québec em relação ao restante do Canadá já foi plebiscitado duas vezes nos últimos 28 anos, sem que se levante um único comentarista irado dizendo que isso afronta a democracia. Na América Latina quem volta e meia não respeitou resultado eleitoral ou plebiscitário foi a direita, ou dando golpes depois ou mesmo antes, como nas recentes eleições mexicanas, seguindo o exemplo inaugurado pela “eleição” de Bush filho com a trucagem na Flórida. O comportamento de Chávez comprovou nosso comentário de que na Venezuela sim dividida entre uma massa popular permanentemente excluída da vida republicana e dos direitos da cidadania e uma minoria de privilegiados que patrocinavam um sistema político fechado e inextrincavelmente corrupto, Chávez é um ponto de equilíbrio, e não o contrário.

As manchetes conservadoras se perguntam com estardalhaço qual será agora o futuro de Hugo Chávez e de seu governo. É bom nos perguntarmos qual será o futuro da direita venezuelana, impulsionada por esta inesperada e até incômoda vitória no plebiscito de domingo passado. (Incômoda porque lhe traz a obrigação da democracia, o que é um peso para ela). Retomará sua inspiração golpista que pode lançar o país numa guerra civil?


Estou aqui

Vejam vocês o que é um texto modelo de passarela, um texto símbolo sexual: muito bonito, bem escrito mesmo, mas sem um mínimo de conteúdo. Tadinho!

Pra quem estava no mundo real neste domingo, e não no fantástico mundo de Bobby, a explicação para o comportamento da imprensa brasileira, quiçá mundial, é de uma de uma obviedade até chata.

A primeira notícia que eu, simples mortal (e todas a agências, inclusive a Reuters) recebi sobre o referendo foi a seguinte: pesquisas oficiais de boca de aurna anunciam a vantagem de 10% do Sim. Outros números foram anunciados mas tão logo Chávez soube das informações veio com a sua emblemática democracia: se divulgarem outros dados que não os fornecidos pelo governo, mando fechar o veículo divulgador, ou seja, o canal de rádio ou TV.

Daí se seguiu:

a) O Conselho Eleitoral deveria dar boletins de hora em hora sobre a
apuração, iniciando os trabalhos por volta de 21h ou 22h (horário do Brasil).
b) Esses boletins não foram divulgados e, no lugar deles, "porta-vozes" anônimos do governo começaram a divulgar loucamente os resultados da boca-de-urna e a afirmar que a oposição já sabia o resultado do referendo e deveria se comprometer a acatá-lo.
c) A oposição, ao menos desta vez, agiu inteligentemente e não mordeu a isca. Não gritou "fraude" — acho que era o que pretendia o governo, a fim de encontrar um meio de melar o jogo.
d) Por volta de 2h30 no Brasil, um "porta-voz" anônimo do Conselho Eleitoral anunciou misteriosamente que os resultados seriam entregues aos blocos (governo e oposição) antes de serem divulgados.
e) Menos de uma hora depois, subitamente, o Conselho Eleitoral divulgou a vitória do "Não", e Chávez reconheceu a derrota, mas com um detalhe importante: derrotado por enquanto, disse ele.

Agora outras coisas: a diferença de 1 e 1,5% é balela, porque metade da população venezuelana não compareceu às urnas. Por que será? Lembrando que a votação ocorreu por pacotes, sendo que aquele que continha o Sim para a principais mudanças, dentre elas a reeleição, também alterava a carga horária de 8 para 6 horas diárias. Falcatrua? Claro que não, isso é coisa da nossa mente pervertida que não entende a revolução democrática bolivariana.

Agora uma pergunta: e se o DEM resolve propor e agir aqui no Brasil da mesma forma que Chávez, como a moçada velha ou a velharada moça vai nomear as mudanças?

29.11.07

pOEmS

Este vai para o Rodrigo que, apesar das milhas de distância, soube indicar o carregamento de rosquinhas Mabel (ainda que auxiliado por JodJahn).


Amalgama a filigrama pernoitada por
Pernasticidas devastadores de membros
E paridores de homenscotocos que aguardam
Onibugias repletos de nojentificantes buços
Indicadores não de efloração mas de privation of
Alimentação educación masturbazione e maisquemia.

Fagocitando estrelas em busca de luz
Help me if you can ou se fores de intenso brilho
De minha janela relógios luminosos tvs sirenes chuva bicicletas partos pássar
E tudo o mais para o qual devolvo minha resignada nostalgia pré-bregolacrimosa.

Mademoiselles valsetes satiescas sacaneando saberão já
De seus embriões ressecados ou precisarão de horóscopo
Para informá-las que dada a coisa umaduasquatrosetemil vezes
Não haverá superego que dê conta nem um só pau e o resto é passar
o Silvester Settant'anni und sola em companhia apenas de grandes
lábios mais esgarçados que Orelhas de velhinhas com brincões
(brinquedos per versos do tempo).

M o v i m e n t o l e n t o
Nota sustentada
Prestidigitador tristeúrgico do centro da cidade morre de fomeleve
febrosa Para que o poema voe de um lado ao outro da cabeça que o
Depositará nos Dedos que apertarão o gatilho e lhe darão
Um fim e farão o poeta famósseo.
E n fim.

Carlos Santana

Baila Maria Caracoles!!!

Uma delícia...

26.11.07

Pernilongos genocidas

A notícia da última semana foi:

Duas equipes independentes de cientistas deram um salto nas pesquisas com célula-tronco ao conseguirem fazer com que células humanas adultas da pele "voltassem no tempo" e passassem a agir como se fossem as versáteis células-tronco embrionárias, conseguindo posteriormente se diferenciar em outros tecidos do corpo. A técnica surge com a promessa de que talvez, no futuro, possa substituir o uso das polêmicas células-tronco embrionárias. As CTEs são hoje as queridinhas dos pesquisadores por conta de seu potencial terapêutico. Como elas têm a capacidade de se transformar em qualquer outro tecido do organismo, podem, em tese, ser usadas para o tratamento de doenças degenerativas, como diabetes e mal de Parkinson. O problema é que, para obtê-las, é necessário destruir embriões, fato que enfrenta a resistência de grupos religiosos. Com o novo trabalho, a Casa Branca parabenizou os cientistas por resolverem problemas médicos "sem comprometer os elevados objetivos da ciência e o sagrada da vida humana".

Cientistas do Japão e dos EUA pegaram células da pele humana (fibroblastos) e induziram nelas a tão desejada pluripotência (versatilidade) da CTEs. Após essa reprogramação, elas não só assumiram uma aparência de CTEs como também um funcionamento semelhante ao delas, chegando a se diferenciar em neurônios e células cardíacas. "Estamos agora em posição de gerar células-tronco específicas para pacientes e doenças sem usar embriões", declarou Shinya Yamanaka, autor de um dos estudos, em comunicado. "Com essas células, poderemos compreender mecanismos de doenças, procurar por drogas eficientes e seguras e tratar pacientes com terapia celular."

My mind

Ouvi muita gente dizer que aqui estaria a solução para a questão ética da utilização das células tronco embrionárias.

Pra mim, a considerar a argumentação e a postura católica para o problema, o que teremos aqui, usando uma lógica radical, é o seguinte: se você pode modificar as células para que elas exerçam qualquer função, qualquer papel celular, você tem potencialmente uma célula embrionária em cada célula humana.

Para a igreja católica a vida começa na concepção, ou seja, quando pela fecundação do óvulo pelo espermatozóide cria-se a primeira célula do que virá a ser um novo indivíduo. O argumento católico é então sustentado por uma espécie de potencialidade: a vida já está lá, potencialmente, e vai se realizar pelo cumprimento do sentido teleológico que está embutido na célula (sim, bastante aristotélico).

Se radicalizarmos a questão e jogarmos a potencialidade das células para aquelas que por modificação podem se tornar embrionárias, não teremos então mais o direito de dispensar célula que for. Qualquer célula será, seguindo seu curso - agora antinatural - uma vida.

E agora José?

Agora se a problemática for levada a sério você estará proibido de coçar as costas, podendo por ter cometido esta heresia ser enviado diretamente ao inferno. Quantas criancinhas estarão sendo mortas, desperdiçadas pelo seu ato inconseqüente!

A descoberta medicinal da humanidade não será mais o antibiótico, mas o repelente. Já vou tentando descolar uma grana alta fundando uma ONG para financiar a compra de Autan.

O Greenpeace que se vire com os mosquitos.

20.11.07

She lives in Paris

Estava passeando pelo portal Terra quando me surgiu a seguinte questão fundamental: quais as revistas que o Terra disponibiliza? Cliquei lá - Revistas - e o primeiro nome da lista é Caros Amigos, aquele folhetim de humor que comento pra dar risada de vez em quando.

Ler Caros Amigos é voltar no tempo. No tempo cronológico e no tempo da inteligência. Tem blogs de articulistas com a seguinte chamada: Enquanto houver um explorado e um oprimido não haverá paz. Se um aluno meu, do primeiro ano, me dissesse isso, eu ficaria constrangido, daria pra ele um ponto negativo e perguntaria de qual banca de camiseta na feira hippie ele havia tirado a bobagem.

Mas o bonito não pára por aí. Olhem o texto de uma moça fina, que mora em Paris, mas que já viveu em Roma, Miami, Los Angeles e Havana (nesta última como embaixatriz francesa em Cuba). Por que ela não vendeu tudo, deu o dinheiro pro partido castrista em foi morar em Cuba eu não sei, mas que é uma árdua defensora do regime, isto ela é.
Vamos a um trecho do bonitão:

Recebi com grande choque as falsas informações publicadas numa revista brasileira em matéria sobre Ernesto Guevara, El Che.

Claro, não é algo novo, mas é algo que me toca.
Estive em Havana durante últimos três meses, elaborando uma exaustiva investigação, compilando materiais e entrevistas para o especial Che - Combatente e Intelectual, publicado pela Caros Amigos. Estive com os que estiveram com o Che e que estão vivos, trabalhei junto aos historiadores e especialistas do Centro de Estudos Che Guevara de Havana, que conserva todas as cartas, diários, notas, documentos dele. Em nenhum momento minhas conversas, nem minhas entrevistas foram censuradas, ao contrário, sentiam-se felizes em poder compartir informação.

Pena que os jornalistas de tal revista não tiveram o tato de incluir em suas pesquisas os cubanos de Cuba, que são 11.400.000 de pessoas prontas para uma boa conversa, e se limitaram a entrevistar uns e outros da notória máfia anticastrista de Miami, muitos, entre os quais, membros de uma organização chamada Fundação Cubana Americana, que aplicou métodos terroristas contra Cuba, alimenta grande parte das virulentas campanhas anti-revolucionarias, e financia senadores norte-americanos para elaborar leis contra Cuba.


Essa moça aí, como diria meu amigo reacionário, só pode ser uma fanfarrona. Vai visitar uma ditadura que mata sujeitos que não se adequam ao discurso e vem dizer que a fala dos pobres pode ser considerada como fonte? Que a documentação existente naquele lugar, e disponobilizada ao público, deve ser tomada como fonte? Pesquisa extensa em três meses? Tá doidja, bichim? É ser feliz demais né?

E o restante então? Olhem a paranóia:
máfia anticastrista de Miami... membros de uma organização chamada Fundação Cubana Americana, que aplicou métodos terroristas contra Cuba.


Minha querida, não há necessidade de se aplicar métodos terroristas contra Cuba. Ela já faz isso em si e por si mesma. Até o Saramago, o sempre cego, desistiu de Fidel há poucos anos quando soube que três desertores haviam sido recém chacinados pelo regime. Quantos foram antes? Mil, dois mil, dez mil, vinte mil?

Provavelmente a moça não sabe disso porque os felizes cubanos com quem ela compartilha informações não lhes disseram. Felizes é ótimo. Deviam estar rindo da cara da pobre e ela nem percebeu. Normal pra quem é da esquerda, aquele povo que precisa de tecla SAP pra piada e ironia.

Cada um tem a sua Disney, mas nem todo mundo percebe (ou tem idade psíquica pra perceber) que seu respectivo Mickey é de mentira.

17.11.07

freudianas

Faz 13 horas que minha mãe foi viajar. Isto significa que nosso superego para questões domésticas se encontra nesse instante na capital do Paraná.

O cadeado da cozinha em cima da garrafa de café: o primeiro sintoma. Almoço atrasado, o segundo. Agora eu e meu irmão já combinamos que não vamos arrumar as camas - a mãe é quem liga pra isso.

Outras decisões já tomadas: só comeremos frituras, faremos xixi de porta aberta e brincaremos com os animais atrasando as suas refeições. A casa é, finalmente, dos bárbaros!

Até terça, quando Dona Lúcia voltar, serão instalados no quarto pôsteres de mulheres nuas misturados aos do Ayrton Senna, das Ferraris, dos filmes de terror e de propaganda de cerveja.

Latas de cerva com bitucas de cigarro também serão benvindas.

Tá tudo dominado!

16.11.07

Extra, Extra, Extra!!!

Notícias de Curitiba: o bebê já está virado, encaixado, e minha irmã tendo contrações.

Guilherme chegará antes do esperado. Minha mãe arrumou as malas e está seguindo pra ajudar no parto - isto graças à residência que ela fez em frente à TV assintindo a cerca de 248 partos no Discovery Home & Health. Não há manobra ou patologia que ela desconheça.

Boa sorte pra todos. Os meninos ficarão por aqui esperando ansiosamente notícias sobre o mais novo membro do clã.

O vento das batatas

Vocês já perceberam que os tubos de Pringles vêm com excesso de ar?

Basta você tirar aquela tampa plástica de cima e lá está, inflado, o último obstáculo entre você e as batatas.

Pois bem: então você pega na aba e puxa, e ao puxar aquele papel um ventinho escapa rapidamente. Eu adoro aquele ventinho, não me perguntem o motivo. Sempre que compro uma Pringles coloco a cara bem próxima ao tubo e abro: cabelos esvoaçantes, cara de satisfação, propaganda de xampu - xampu de batatas.

O ser humano se satisfaz com umas coisas muito esquisitas.

3.11.07

A política e as rosquinhas

Em meio a toda aquela confusão, dos bate-bocas e do dar-em-nada do mensalão, uma figura apareceu só pra passar vergonha: Sandro Mabel. Este figura só pedia a palavra pra levar belas lambadas depois. Quando a situação ficou muito ruim pro lado da peça, com acusações irrespondíveis, ele sumiu.

Problema: as rosquinhas Mabel despareceram junto. E eu, um viciado em rosquinhas Mabel, fiquei a vagar pelo mundo de uma maneira muito mais infeliz. Eu não sei se os supermercados não quiseram ligar um produto de suas pratelheiras com a desfaçatez de um bobalhão e preferiram vender só as rosquinhas Panco (que não chegam aos pés da Mabel), ou se o tal do Sandro resolveu se vingar do mundo causando tristeza e sintomas de abstinência. Só sei meus caros, só sei que nada sei, que não quero saber, que quero minhas rosquinhas de volta.

Bring back, bring back, bring back my Mabel to me, to me
Bring back, bring back my Mabel to me...

fabianescas

Chegar em casa, encontrar seu filho fazendo tricô e sua mãe no Google Earth, tentar achar aquilo tudo normal e ir direto pro banho sem dizer palavra que seja.

P.S - Pai, vamos jogar futebol?
Vamos João, vou pegar a bola.
Ah, espera só um pouquinho que antes eu quero terminar esta carreira (e acelera o embate entre as agulhas)...

20.10.07

A bobagem às vezes está só no modo como se fala

Nesta semana ocorreu um caso interessante: um sujeito saltou dos livros de biologia e veio parar na vida real; e não foi só isso - veio parar porque falou besteira.

O caro Watson, amigo do Crick, com quem dividiu os méritos do desvelamento da estrutura do DNA, simplesmente chegou a um jornalista e disse: olha, os africanos ou negros são menos inteligentes.

Hummm... Bobagem? Racismo?

Talvez até tenha sido. Entretanto existe um sério problema nesta fala, problema que o behaviorismo ignora e que mostra toda a sua falta de alcance. E por quê? Porque se pode dizer uma coisa sem pensar minimamente no que se está dizendo, ou dizer a mesma coisa tendo passado por um processo de argumentação muito extenso.

O que eu acho no caso do senhor Watson? Que ele falou besteira mesmo. Há, entretanto, um modo de se chegar à mesma conclusão por caminhos mais espinhosos, mais elaborados e, pasmem, sem um pingo de racismo.

É o que tentarei fazer esta semana. Ou nas próximas. Pra quem quiser, é só acompanhar.

17.10.07

Poeminha de aniversário para o João

Pedaço meu
Eu inteiro.
Parte de mim
Maior que o
Todo de mim.
capim!
pudim!

Mão minha em miniatura.
Mão que escreve melhor do que a minha.
Boca que fala mais do que a minha.
Sorriso que brota mais fácil do que o meu
Em pernas que pensam bolear melhor
Do que as minhas (por enquanto eu deixo,
Até chegar sua vez de deixar).

Ser meu lançado no tempo.
Pipa alçada no espaço.
Laços que ponteiros afrouxam
e refaço.
assim!
pra mim!

Minha mão trêmula
Na miniatura da sua.
Sua mão trêmula na
Tremedura da minha.

Eu solto no tempo
E você alçando pipas
A corar meu outro
Diferente espaço.
fim!
sim!

Não,
Na sua parte
Renasço.


(E paro por aqui pra lhe dar um abraço)

15.10.07

Os mano pá...

Na Folha de hoje

A pluralidade e a revolução dos idiotas

REINALDO AZEVEDO

O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto



HÁ UMA revolução em curso: a dos idiotas. Eles começam agredindo a lógica e terminam justificando o assassinato. Voltarei a esse ponto.
Na semana passada, o escritor e rapper Ferréz escreveu um artigo neste espaço em que tratou do assalto de que Luciano Huck foi vítima. Lê-se: "No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes". Ele não pode ser mal interpretado porque não pode ser bem interpretado: fez a apologia do crime, o que é crime. Será este jornal tão pluralista que admite alguém como Ferréz? Será este jornal tão pluralista que admite alguém como eu? Lustramos ambos o ambiente de tolerância desta Folha? A resposta é "não".

O artigo do tal é irrespondível. Vou eu lhe dizer que o crime não compensa? Ele tem motivos para acreditar que sim. Lênin mandaria que lhe passassem fogo -não sem antes lhe expropriar o relógio. Apenas sugiro ao jornal que corrija seu pé biográfico: ele é um empresário; o bairro do Capão Redondo é seu produto, e a voz dos marginalizados, o fetiche de sua mercadoria. Ir além na contestação de seu libelo criminoso seria reconhecê-lo como voz aceitável na pluralidade do jornal. Eu não reconheço.
Na democracia, o direito à divergência não alcança as regras do jogo. Um democrata não deve, em nome de seus princípios, conceder a seus inimigos licenças que estes, em nome dos deles, a ele não concederiam se chegassem ao poder. Ao publicar aquele artigo, a Folha aceita que potencialmente se solapem as bases de sua própria legitimidade. Errou feio.
O poeta Bruno Tolentino é autor de um verso e tanto: "A arte não tem escrúpulos, tem apenas medida". O mesmo vale para a ação política.
Idealmente, há quem ache que o mundo seria melhor sem propriedade privada -eu acredito que, sem ela, estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos.
Posso acalentar quantos sonhos quiser, sem escrúpulos. Mas o regime democrático tem medidas. Uma delas é o respeito às leis -inclusive às leis que regulam a mudança das leis. Se admitimos a voz do assalto, por que não a da pedofilia, a do terrorismo, a da luta armada, a do racismo? Aceito boas respostas.
O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto, para quem o crime é uma precognição política a caminho de uma revelação.
Tal suposição, somada à patrulha que tentou transformar Luciano Huck no verdadeiro culpado pelo assalto, contribuiu para esconder um fato relevante. A cidade de São Paulo teve 49,3 homicídios por 100 mil habitantes em 2001. Em 2006, 18,39 (uma redução de 62,69%). Em 2001, havia presas no Estado 67.649 pessoas; em 2006, 125.783 (crescimento de 85,93%). Não é espantoso? Quanto mais bandidos presos, menos crimes. Quanto mais eficiente é a polícia, menos mortos.
Eis que, no dia 11, abro esta mesma página e dou de cara com um artigo de Sérgio Salomão Shecaira. Escreve: "(...) O Estado de São Paulo concentra quase a metade dos cerca de 419 mil presos brasileiros (...). Enquanto, no Brasil, existem 227,63 presos por 100 mil habitantes, em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes". Ele está descontente.
Quer prender menos: "Enquanto, no Estado de São Paulo, em 2005, houve 18,9 homicídios por 100 mil habitantes, no Rio de Janeiro a cifra foi de 40,5, e, em Pernambuco, de 48. No entanto, nesses dois últimos Estados, o número relativo de presos é bem menor que o paulista".
Shecaira é mestre e doutor em direito penal e professor associado da Faculdade de Direito da USP. Mas ainda não descobriu a lógica, coitado!
Ora, por que será que São Paulo tem, por 100 mil, menos da metade dos homicídios que tem o Rio e quase um terço do que tem Pernambuco? Porque há mais bandidos na cadeia!
Mas ele quer menos. Logo... Em vez de Ferréz se alfabetizar politicamente no contato com Shecaira, é Shecaira quem se analfabetiza no contato com Ferréz.
A tragédia não é recente. Aconteceu com a universidade: em vez de ela fornecer teoria aos sindicatos, foram os sindicatos que lhe forneceram táticas de greve. Em vez de Marilena Chaui ensinar ao companheiro as virtudes do pensamento, foi o companheiro que explicou a Marilena por que pensar é uma bobagem.
A minha pluralidade não alcança tolerar idiotas que querem destruir o sistema de valores que garantem a minha existência. E, curiosamente, até a deles.

12.10.07

Sobre os vídeos, e mais...

Coisas rápidas sobre o que foi abaixo:

1. O Air apareceu na minha vida sem querer. Estava ouvindo um disco do Jamiroquai que meu irmão havia gravado e, de repente: nossa, que som interessante! Que coisa diferente este álbum do Jamiroquai! Bem, não era Jamiroquai, era esta dupla de franceses que faz este som esquisito. O único problema do Air é a inconstância: produz coisas fantásticas como Eletronic Performers, e coisas bizarras e horríveis. Baixem um CD e confiram. No mais, acho que Erik Satie gostaria de Air.

2. A lenda do pianista do mar é um dos meus filmes prediletos. Quando o vi, no cinema, tive a certeza de que ali estava algo grandioso. Acho que acertei. Esta cena, junto com aquela em que o piano valseia pelo salão de baile do navio são marcos. Lindo de dar raiva.

3. Meu desejo ficou estacionado em algum lugar. Precisa ser reelaborado, recriado, reposto. Isso é possível? Por enquanto, ao invés de buscá-lo, prefiro ouvir antigas canções madrugada afora.

22.9.07

Por que sou nietzschiano?

Ler Nietzsche é uma experiência no mínimo das mais peculiares. É necessário que todas as armas estejam empunhadas, que todas as referências estejam dispostas, que todas as possibilidades de interpretação se atentem para que se chegue a algum lugar.

Dias atrás estava lendo a Terceira Dissertação de A genelogia da moral, e isto por conta de uma questão que eu achava que poderia ser interessante pesquisar. Nesta dissertação Nietzsche trata sobre os ideais ascéticos, fazendo um levantamento da psicologia do sacerdote. Ora, haverá aqui alguma indicação aproveitada por Freud desta análise quando este estrutura a sua psicologia da religião? É cedo ainda para que eu possa responder.

Mas o que eu quero, meus caros, não é falar disso. Eu quero é citar uma passagem extraordinária a qual eu ainda não havia entendido. E nao havia entendido porque não estava devidamente gaio para entendê-la. Estava levando o texto muito a sério para poder rir dele. Afinal, não era aquele um texto filosófico? Errado, era um texto nietzschiano. A passagem:

O que significam ideais ascéticos? - Para os artistas nada, ou coisas demais; para os filósofos e eruditos, algo como instinto e faro para as condições propícias a uma elevada espiritualidade; para as mulheres, no melhor dos casos um encanto mais de sedução, um quê de morbidezza na carne bonita, a angelicidade de um belo e gordo animal;

Quando a "ficha caiu" eu ria sem parar. Como é que se pode escrever isso num texto "sério"? Pois bem, a filosofia de Nietzsche se constrói assim: fazendo o que se diz que tem que ser feito. Desestrurar a linguagem, exceder em figuras, não ser emburrado demais.

A questão do artista

Em um post abaixo, em que eu falava da classe artística tomando as rédeas do pensamento tupiniquim, deixei em aberto a questão sobre se aquele destranbelhamento acontecia no mundo todo. Bem, ainda lendo a Terceira Dissertação, me deparei com isto: eles estão longe de se colocar independentemente no mundo, e contra o mundo, para que as suas avaliações, e a mudança delas, mereçam em si interesse! Eles sempre foram os criados de quarto de uma religião, de uma filosofia, de uma moral; sem contar que, infelizmente, não raro foram dóceis cortesãos de seus seguidores e patronos, e sagazes bajuladores de poderes antigos, ou poderes novos e ascendentes. Ao menos necessitam sempre de uma proteção, de um amparo, uma autoridade estabelecida: os artistas não se sustentam por si sós, estar só vai de encontro a seus instintos mais profundos.

Pois bem, qualquer semelhança com o que acontece hoje não é mera coincidência. E a minha pergunta está respondida.

* Pra quem não sabe, Porquê não somos nietzschianos é um livro escrito por vários marxistas franceses. Tem coisa pior do que ter estes dois qüalificativos trabalhando juntos: marxista e francês? Só juntando mais qüalificativos: barata marxista-francesa; fiscal de trânsito marxista-francês; pedagoga construtivista marxista-francesa (apesar de que esta é uma tautologia); psicóloga comportamental marxista-francesa.

Ai, sai pra lá: paro por aqui porque já estou ficando arrepiado!

17.9.07

Essa aí só falta internar...

Leiam, e depois façam o que quiser:

Em entrevista à revista argentina "Debate", a filósofa Marilena Chaui admitiu pela primeira vez a possibilidade de que tenha existido o mensalão, que ela antes qualificava de uma "construção fantasmagórica" da mídia.
A filósofa petista, porém, mantém sua tese de que a imprensa manipulou o caso para criar uma imagem negativa do governo Lula, buscando seu impeachment.
Para ela, se ocorreu, o mensalão não foi algo inédito: "Nenhum governante governa sem fazer alianças e negociações com outros partidos. Essa negociação tende à corrupção. Essa compra e venda ocorreu sistematicamente nos governos José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, sem que os meios se manifestassem sobre o assunto", disse.
Ela admite agora que "há indícios de que alguns membros do primeiro governo de Lula negociaram com parlamentares, de acordo com essa mesma tradição. Mas o PT e seu presidente operário, como ousam fazer o mesmo que os partidos da classe dominante? Que ousadia absurda! Resultado: os meios de comunicação transformaram a situação em um caso único, nunca visto antes, e construíram a imagem do governo mais corrupto da história do Brasil", disse.
Para Chaui, "o falso moralismo ocupou o lugar de uma discussão de ética republicana porque permite atacar o PT naquilo que é seu ponto de honra: a ética na política". (RODRIGO RÖTZSCH)


Deu pra entender a lógica da mulher, não deu? Vamos lá:

Todo partido político comete falcatruas.
O PT é um partido político.
Logo, o PT comete falcatruas.

O que não deu pra entender foi a ética. Ela se tranformou em moral de classes. Será isso mesmo?

A vontade que dá é de abrir um processo e fazer a dita provar o que diz sobre os governos anteriores. E prendê-la, ao final, por dois motivos: falar besteira, e ser condizente com o crime organizado.

3.9.07

Enquanto isso, o nosso Sócrates...

E o homem do "só sei que nada sei" continua aprontando das suas.

Nesta semana disse coisas de arrepiar os cabelos, e isso com aquela altivez de sempre, trazida pela segurança de quem pode falar o que quer que seja por estar protegido por seus escudos míticos.

Duas foram as pérolas. Na primeira delas, afirmou sem constrangimentos que não tem dúvidas de que "as coisas boas feitas por seu governo hão de fazer esquecer os crimes referentes ao mensalão". Ora, há duas leituras-descontruções possíveis aqui, cada uma delas deixando a fala ainda mais caduca.

Na primeira podemos ignorar o argumento fundante porque simplesmente ele é falso: foram tantas coisas boas assim? Qual a melhor? A estabilidade econômica a que chegamos por conta do governo FHC? O PROUNI que financia também, e em sua maioria, universidades desqüalificadas? O Bolsa-Família que já existia e foi ampliado sem que um objetivo mais eficaz, a inserção no mercado de trabalho, viesse à tona? O aparelhamento do Estado por companheiros?* Ou a eficácia e a presteza mostradas no caso dos acidentes aéreos? A escolha aqui fica difícil, o que nos fornece o sentido da primeira leitura.

Já para inaugurar uma segunda, vamos nos esquecer destes fatos e aceitar que "nunca antes neste país" havíamos tido um governo como esse. Ao assumirmos esta hipótese a colocação ganha outro sentido, sentido este por assim dizer, mais histórico: algo com o qual já tínhamos trabalhado antes. Querem ver? É só seguir a lógica, o que podemos fazer juntos: se o que há de bom supera o que há de mal, estamos novamente do campo do... rouba mas faz. Sim meus caros: roubamos, desviamos, ocultamos, mas se em contrapartida fazemos, o que há de mal nisso?

E assim se faz a ética neo-socrática de Garanhuns. Uma retomada de argumento de outro grande pensador brasileiro, o senhor Paulo Maluf.

Bem, desvendados os sentidos da frase de nosso líder, podemos continuar e pensar um pouco sobre a outra boa fala da semana: o PT é o partido mais ético do Brasil.

Para entendermos melhor esta aqui façamos o mesmo processo de leitura da primeira pérola já que, veremos, elas possuem estruturas idênticas. O PT é o partido mais ético do Brasil: baseado em quais fatos isto é dito? Destes que vêm a público? De todas as histórias que já conhecemos e que serão ainda mais abertas pelo julgamento no Supremo? Algo nos diz aqui que esta afirmação não passa de balela. Mas haveria uma saída sim, podemos ler isto de outra maneira, e o que é pior, de um modo mais preocupante.

Ao afirmar que "o PT é o partido mais ético do Brasil" Lula pôde querer dizer que o seu partido é o que "menos apronta". Sim, é o mais ético porque é o que menos usa a máquina do Estado para benefício próprio. E o que se fez aqui? Aqui Lula afirmou que, para ele e para os seus, a ética não é algo do campo do absoluto mas sim do relativo. Traduzindo: se X roubou R$20,00 e Y R$30,00, X é mais ético do Y. Não é fantástico isso? Sim, sabemos que existem crimes diferentes e que para tipo ou gravidade há diferentes penas. Mas não existe um linha que diga que, se aquele matou, o outro que só tirou um braço é um bom homem. É um homem mais ético. Esta aberração do pensamento é o que foi afirmado por nosso presidente, nosso líder-filósofo.

Um viva ao nosso Kant barbado!

* - o número de funcionários públicos contratados desde o início do governo Lula já chegou a quase 200.000, ou seja, 20% do que é hoje o número total. É, nunca antes neste país se apadrinhou tanta gente...

Cartola na cadeia

Hahaha... Tem gente que vai querer me matar aqui, mas o que é que eu posso fazer?

Para levantamento de provas, sigam as instruções: cliquem no vídeo abaixo e, quando o baixo começar a tocar (baixo ou cello?) cantem: Bate outra vez, com esperanças no meu coração...

A estrutura de "As rosas não falam" é toda baseada neste trecho, concordam? É, na verdade, quase sempre uma repetição deste trecho.

E o que se percebe quando se escuta Vocalise, de Rachmaninoff? Que quem compôs "As Rosas não falam" não foi um brasileiro do tipo mítico (pobre, morador do morro, sambista de nariz esquisito), mas sim um russo! Isso mesmo, um russo, o que significa que "As rosas não falam" é um... plágio (ainda que inconsciente, sei lá!).

Não dá aqui nem pra dizer que se trata de um caso de zeitgeist, ou que, como disse Bento Prado de forma divertida, havia mais coisas no ar na época do que os aviões da VASP.

E agora, o que faremos?

Já me disseram que o fato foi inverso, ainda que Vocalise seja de 1912 e "As rosas..." de 1976. É a nossa lógica-esquisita de novo tentando salvar a pátria.

E viva a castanha!

9.8.07

Caminhando e cantando...

Vivemos por muito tempo uma situação que não sei se foi sui generis (o que se conheço sobre história de outros lugares não me permite definir), mas que nos trouxe uma peculiaridade jacu que nos atrapalha até hoje, e isso por conta dos acontecimentos de Abril de 1964.

Instaurado o golpe, nossos intelectuais começaram a fugir ou a serem "fugidos" de casa, o que nos trouxe um complicador dos grandes: quem iria pensar o país, pensar sobre o país, ou mesmo pensar sobre qualquer coisa?

Pois bem, sabemos quem assumiu tal posicionamento: a classe artística - músicos, atores, teatrólogos e assim vai. O modus operandi? Era recortar uma frase do Sartre, juntar umas viagens lisérgicas bem loconas e mandar bala. Qualquer bobagem era considerada pensamento sério. E assim vivemos um bom período da nossa história recente.

Mas o grande problema mesmo é que (e é aí que eu queria chegar), ainda que todo mundo tenha voltado há mais de 20 anos, o pessoal criativo continua achando que falar sobre política, semiologia, ética, transgênicos ou seja lá o que for é a mesma coisa que escrever peças do Zé Celso Martinez Corrêa e, pior, acreditam que seu pensamento alógico bicho-grilado deva ser exposto como algo correto, concreto, bem cabeça mesmo sabe.

Uma amiga outro dia me chamou a atenção para o blog de um desses moços que ainda não se tocaram da coisa e ainda por cima a pegou herdada - um com sobrenome de animal de corcova que vive no deserto.

Meus deus do céu, que confusão!!! Alhos, bugalhos, enxovalhos - tudo temperado com salsinha, molho de tomate, uns torresminhos e muito samba. O sujeito produz lingüística, filosofia da mente, psicologia do desenvolvimento: tudo com o mesmo graceço, seriedade e autoridade com que elaborou e narrou a mais metafísica das questões metafísicas - do que é feito o samba?

Sei de um povo que fica louco com as indagações que saem daquela cachola. Num programa de tv outro dia um fã citou uma música em que o dito rimava algo como andança e dança, perguntando todo emocionado sobre a facilidade que o tal tinha de compor "aliterações". Rima pobre agora é aliteração - socorro! - um Bandeira na testa do inútil. Mas não ligue ainda, o programa não ficou só nisso não. Em num exemplo de hermenêutica e conhecimento dos textos antigos, disse que não era como Platão que queria "jogar os poetas do penhasco". Ai, ai, ai: lê o que quer e fala o que não queremos ouvir. O Inútil, agora elevado ao posto de categoria, deve ter se arrepiado ao presenciar tamanha erudição.

Surgiu um probleminha e amanhã eu volto pra falar do blog. Farei a emenda dos textos pra esse não ficar assim, caducão.

Inté...

4.8.07

... and then ten years have got behind you...

As perguntas que não querem calar são: quando é que e como eu me atrasei na vida e fiquei assim, fora do tempo exato, correndo eternamente atrás das coisas?

Sim, porque não é possível que alguém esteja sempre correndo atrás do rabo: minhas contas vencem e eu pago uma semana depois; meus prazos do trabalho expiram e eu estou na metade do material; a banda mais nova que escuto é Creedence; minha dissertação, bem...

Já pensei em algumas respostas, hipóteses do tipo:

a) nasci depois dos nove meses, o que me daria um déficit fixo e eterno;
b) entro em pane em alguma momento do dia e me desligo - um lapso momentâneo, o que significa que meu déficit, com passar dos anos, só aumentará;
c) fui abduzido por extraterrestres, passei alguns meses fora da Terra e, ao voltar, tive a memória do tempo de abdução apagada. Ou seja, atraso = tempo de abdução;
d) minha percepção do tempo é falha. Sujeito transcedental com defeito de fabricação;
e) como doce de leite demais e fico bolado, igual beija-flor. Esperança de melhoras então quando a diabetes chegar.

De qualquer forma, seja a explicação qual for, continuo aqui, com a moça das Casas Bahia me ligando diariamente pra perguntar quando é que eu vou pagar e qual o motivo do atraso (devo transmitir a ela minhas hipóteses?); com os e-mails de cobrança do trabalho baixando de hora em hora (devo também?); chegando esbaforido e suado pras aulas (hein?); com o primeiro capítulo da dissertação pela metade (ah, deixa pra lá...).

Soluções pra questão, favor postar aqui.

28.7.07

Madrugada-manhã de quinta, 26/07/07

E vamos a mais um dos sonhos dantescos que infalivelmente me assolam. Apesar de ter acordado tenso e cansado, poucos minutos se seguiram da lembrança do chamado conteúdo manisfesto do sonho ao entedimento de seu contéudo latente. Na verdade o processo para o reconhecimento das significações se pareceu mais com uma redução fenomenológica do que com uma análise propriamente dita. O resultado me deixou chocado pela explicitude do tema e de seus adendos. Vamos à peça:

Acordo pela manhã com um barulho ensurdecedor. Olho pela janela de um prédio que está na Av. Orosimbo Maia: um F-16 cruza o céu. Fico maravilhado com a cena, até que ele despeja bombas sobre algum lugar perto da rodoviária. Aqui acontece o primeiro corte.

Estou já na rua onde pessoas correm pra lá e pra cá. Sei que o João está em um lugar seguro. Quando consigo avistar toda a Glicério, há um Harrier metralhando um prédio, andar por andar. Pergunto a alguém que corre sobre o que está acontecendo e ela me informa da guerra. Contra quem? O Peru. Os aviões brasileiros ainda estão em Aparecida. Fico puto e me pergunto: mas como os aviões peruanos chegaram antes que os brasileiros? Desde quando Peru tem dinheiro pra comprar F-16 e Harrier? Segundo corte.

A situação é deseperadora. Bombardeiros e caças não param de cruzar o espaço. Alguém surge com armas para uma tentativa de abate pelo chão. Pequenas bombas começam a cair presas a pára-quedas amarelos. Corte três.

Estou ao lado de uma enorme catedral gótica e prestes a entrar em um túnel. Parte da lateral da catedral desaba quase sobre mim (ela parece ser feita de areia). Faço parte de um grupo agora. As bombas em pára-quedas conseguem entrar no túnel. Todos nós corremos. Corte quatro.

Entre nós há três peruanos disfarçados que em dado momento tentam nos matar. Não conseguem. Dominamos os rapazes, deixando-os presos em algum lugar. A situação melhora. Aviões brasileiros começam a chegar. Subo em um carro de som e saio andando pelo centro que não é mais o centro de Campinas: Rio ou Salvador. Pessoas mortas pelo chão, igrejas destruídas até a volta à Orosimbo Maia. Corte cinco.

Como é que tudo isso será recuperado? E os infiltrados? E os mortos? Os aviões lançam bombas que logo se transformam em minúsculos raios. Primeiramente negros, organizados, logicamente dispostos. Em um segundo momento se transformam em algo amarelado e começam a trazer vida a tudo e a todos, apagando a destruição e os destruidores. Minha mente é rapidamente invadida por "... sic itur ad astra". Alguma coisa a mais acontece, mas não me recordo. Fim do sonho.


Na minha descontrução algumas coisas ficaram muito óbvias. Por que a guerra começou na Orosimbo Maia? Por que F-16 e Harrier? Por que o Peru? Por que Aparecida? Quem eram os três rapazes? Igrejas destruídas? Rio ou Salvador? Fim da guerra pelo restabelecimento completo do anterior? Ad astra. Todas estas questões têm respostas.

Algumas ficaram em aberto, claro. Mas o essencial está aí, esclarecido.

Os acontecimentos dos últimos dois dias (quarta e quinta) me troxeram este sonho ao me colocarem em outro, provavelmente de curta duração, mas sonho.

27.7.07

Olha o homem aí gente!!!

Às 20h30 de 17 de julho de 1996, um Jumbo da TWA explodiu sobre o Atlântico minutos depois de levantar vôo de Nova York. Todos os 212 passageiros e 18 tripulantes morreram. Nas caóticas horas que se seguiram, as famílias das vítimas que convergiram para o Aeroporto Kennedy reagiam com ira e desespero à falta de notícias sobre a tragédia. Levadas para um salão, viram a porta abrir-se para o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. O que se passou em seguida foi um dos momentos mais fortes dos seus oito anos na Casa Branca. Desacompanhado, ele foi de grupo em grupo, abraçando e confortando as pessoas em voz baixa. Ouviu protestos, cobranças, desabafos. Quando enfim se retirou, o ambiente era apenas de quieta resignação.

Não se pode exigir de chefes de governo convencionais a naturalidade quase sobre-humana com que ele se entrosa com gente do povo, mesmo nos piores momentos, evocando o sentido original do termo grego simpatizar: sentir com. Nas situações de luto coletivo, esse talento dos chefes de governo para a comunhão produz um efeito terapêutico que não se limita aos atingidos mais de perto pelo acontecimento doloroso. Transmite, para toda a sociedade traumatizada, o sinal confortador de que o dirigente maior da nação, além de solidário no sofrimento, é alguém em cujos cuidados se pode confiar. Clinton é um caso à parte, mas agora mesmo outros governantes o imitaram - e não foi pela primeira vez.

Na manhã do último domingo, um ônibus que transportava 50 peregrinos poloneses ao santuário de Notre-Dame de la Salette, perto de Grenoble, a 700 quilômetros de Paris, mergulhou num rio, matando 26 deles. Duas horas depois, ali já se encontravam o primeiro-ministro François Fillon e outros membros do governo francês. Pouco mais tarde, quando chegou ao local, o presidente da Polônia Lech Kaczynski encontrou à sua espera o colega Nicolas Sarkozy. Depois de visitar os sobreviventes hospitalizados, ele anunciou que acompanhará pessoalmente o inquérito sobre o acidente.

Impossível não comparar tais condutas com o sumiço do presidente Lula depois da catástrofe de Congonhas em que morreram 199 pessoas.

Principalmente porque, transmitidas as condolências em rede nacional, após 72 horas de relutância, ele tornou a submergir. Passou o fim de semana trancado na residência oficial e só voltou à tona no programa de rádio das segundas-feiras Café com o Presidente, gravado no seu gabinete. Tornou a dizer, então, o óbvio ululante sobre a impropriedade de se fazer “julgamentos precipitados” sobre a explosão do Airbus da TAM. E, na contramão até do senso comum, considerou “quase irresponsável” que se debatam publicamente as causas da tragédia.

Hoje, o quase emudecido Lula volta à vida normal - à sua maneira, bem entendido. Viaja à noite para o Nordeste, seu reduto por excelência, para um giro por Aracaju, João Pessoa, Natal e Teresina. À época do escândalo do mensalão, o Nordeste era o pouso preferido do presidente. O pretexto, desta vez, é o lançamento de projetos do PAC, o que rende a discurseira para platéias prontas a aplaudir seja lá o que lhes diga o seu ídolo, embora, pelo retrospecto, isso não garanta futuras realizações práticas. O lançamento do PAC na Região Sul, com a presença de Lula nos três Estados da região, estava previsto para a semana passada. Compreensivelmente, foi adiado em razão do desastre da TAM - mas compreensivelmente apenas à luz do seu oportunismo - para depois de 10 de agosto, no regresso de uma viagem ao exterior.

O fato é que, desde a sexta-feira que precedeu a tragédia, quando foi vaiado no Maracanã, o chefe de governo que deixou correr à solta o apagão aéreo, fiel ao princípio de que “a gente faz quando pode, e se não pode deixa como está para ver como é que fica”, parece ter dividido os brasileiros em dois grupos.

De um lado, aqueles junto aos quais procura se reconfortar - certo de que lhe são gratos e não lhe negarão aplausos em quaisquer circunstâncias. De outro, aqueles que, não lhe devendo nada, o aplaudem quando julgam que merece aplausos, mas vaiam quando julgam que merece vaias, como aconteceu na abertura do Pan. Resta saber por quanto tempo Lula evitará as cidades que congregam as parcelas do povo mais críticas do seu desempenho.

24.7.07

fabianescas...

Começar a discutir o relacionamento com uma pessoa com a qual não se tem um relacionamento, criando assim uma tensão desnecessária e quase estragar (ou estragar) tudo.

Quem mais consegueria tal proeza?

23.7.07

Ainda sem tempo

Bem, como já deu pra perceber, ando sem tempo de escrever por aqui - e é por isso que vocês andam vendo filminhos demais.

Para tentar resolver esta história de uma forma mais apreciável, coloco no blog o curriculum do senhor top top, aquele que deixou o país perplexo na semana passada (o vídeo está no post abaixo).

A reportagem veio do Mídia Sem Máscara.

Marco Aurélio Garcia, conhecido como “MAG”, nos anos 60 e 70 do século passado foi uma liderança do trotskismo internacional. Nos anos de luta armada no Brasil viveu exilado na França e no Chile. Após a Anistia, voltou para o Brasil e foi um dos que colaboraram na fundação do Partido dos Trabalhadores e, em 1990, na condição de Secretário de Relações Internacionais do PT, um dos organizadores e fundadores do Foro de São Paulo, que não passa de uma nova Internacional para a América Latina. É professor licenciado do Departamento de História da Unicamp.

Em dezembro de 2002 – ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso -, por instância do presidente eleito e já na sua condição de futuro assessor internacional do governo Lula, coordenou o envio de uma carga de gasolina para normalizar o abastecimento do mercado interno na Venezuela, seriamente abalado por uma greve coordenada pelas oposições a Hugo Chávez.

Valendo-se de sua cobertura de assessor internacional do presidente Lula mantém conversações com os grupos armados e de oposição a vários governos da América Latina, o que, evidentemente, não poderia ser feito pelos diplomatas do Itamaraty. Esses contatos são feitos em nome do Foro de São Paulo.

Marco Aurélio Garcia agora é o coordenador da candidatura do presidente Lula, substituindo “o bando de aloprados” (frase utilizada por Lula em uma entrevista concedida dia 25 de setembro de 2006 a três rádios populares de São Paulo e do Rio de Janeiro) da sua equipe de coordenação de campanha pegos pela Polícia Federal quando tentavam adquirir, por cerca de 2 milhões de reais, um dossiê fabricado para prejudicar as candidaturas de José Serra e Geraldo Alckmin. Nessa entrevista, Lula, que mais uma vez não sabia de nada, não titubeou em jogar a culpa no presidente do PT, Ricardo Berzoini, que foi quem escolheu e coordenava a tal equipe.

Esta introdução objetivou publicar o artigo abaixo que foi escrito em Caracas por Johan Freitas e publicado originalmente no site do grupo MilitaresDemocraticos.com, da Venezuela.

Finalmente, recorde-se que todas as fontes citadas nas referências do artigo foram solenemente ignoradas pela imprensa nacional.

***

O brasileiro que ganha tempo para Chávez. Seus vínculos terroristas e com Saddam

Johan Freitas, Caracas

“Devemos dar a impressão de ser democratas”, disse Marco Aurélio Garcia, o marxista de linha dura atrás do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. E acrescenta: “...teremos que aceitar inicialmente algumas práticas. Porém, isso não é para sempre”.

Na semana passada Marco Aurélio Garcia esteve na Venezuela, oferecendo apoio a outro suposto democrata, Hugo Chávez. A greve geral na Venezuela secou os postos de gasolina e estrangulou os automobilistas. Os efeitos da greve ameaçam derrubar Chávez do poder. Porém agora, graças a Marco Aurélio Garcia, o navio “Explorer Amazon” dirige-se ao porto venezuelano carregado de 520.000 barris de gasolina sem chumbo da companhia petroleira brasileira Petrobras.

A que se devem sua presença e sua ajuda? Por que o Brasil intervém para desmontar uma greve de caráter eminentemente interno? Por que Lula deseja que Chávez se mantenha no poder? Podemos vislumbrar as chaves a estas perguntas observando detidamente Marco Aurélio Garcia, o homem por trás do plano.

“A democracia não é mais do que uma farsa para alcançar o poder”

Em uma entrevista ao tablóide francês “Le Monde”, o presidente eleito do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, repete as palavras aprendidas com Marco Aurélio Garcia quando descreve as eleições democráticas como uma farsa, que é simplesmente um passo necessário para alcançar o poder.

Para Marco Aurélio Garcia, estas palavras não são só uma teoria. Ele as viveu pessoalmente no período de 1969 a 1973, quando era um ativista político estrangeiro no Chile durante o regime de Salvador Allende. [3]. Allende foi eleito democraticamente porém, uma vez que alcançou o poder, usou o governo para fechar jornais e controlar com mão de ferro os partidos de oposição. Em um conhecido escândalo público, uma grande quantidade de armamento cubano foi encontrada em sua residência, enviados por Castro para armar as milícias civis, com o objetivo de “defender a Revolução Socialista no Chile”. As ações do brasileiro foram fundamentais para esta ação. Este foi o primeiro contato de Marco Aurélio Garcia com as operações cubanas no exterior.

Em 1980, Marco Aurélio Garcia fundou junto com Lula da Silva o “Partido dos Trabalhadores” (PT). Desde então, tem sido seu assessor para assuntos exteriores.

Voltemos a 1990. Enaltecido por Castro, que a estas alturas havia orquestrado incursões militares em mais de 30 países, Marco Aurélio Garcia convoca uma reunião de todos os grupos de esquerda da América Latina e do Caribe. Atendem ao chamado os representantes de 48 partidos comunistas e grupos terroristas. Esta reunião converte-se no “Foro de São Paulo”, com Marco Aurélio Garcia à sua cabeça – um título que ainda conserva no presente, doze anos mais tarde.

O Foro de São Paulo apóia o terrorismo

Atuando como o líder do Foro de São Paulo, Garcia controla e coordena as atividades subversivas e extremistas que se sucedem desde o Rio Grande até a Patagônia, Argentina. Vários dos membros do Foro de São Paulo são terroristas, alguns dos quais estão na lista dos mais procurados pelo FBI. Isto não é uma coincidência. O Foro de São Paulo, sob os auspícios de seu Secretário Executivo Marco Aurélio Garcia, estabeleceu como política o apoio a grupos terroristas. Considere esta entrevista tomada no X Congresso, levado a cabo em 7 de dezembro de 2001 em Havana, Cuba, na qual ele se refere aos grupos terroristas colombianos “Exército de Libertação Nacional” (ELN) e as “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia” (FARC): “9. Ratificamos a legitimidade, justiça e necessidade da luta das organizações colombianas e nossa solidariedade com elas”.

O novo eixo do terrorismo inicia-se em Cuba, passando pela Colômbia, é financiado pelos milhares de milhões de dólares do petróleo venezuelano e finaliza na superpotência brasileira.

De acordo com as política ditadas por Havana, o líder do Foro de São Paulo, Marco Aurélio Gracia, expressou um especial interesse pelo terrorista Manuel Marulanda Vélez, codinome “Tirofijo”, o líder das FARC. A cada ano, desde 1990, Garcia se auto-impôs como uma prioridade realizar encontros pessoais com enviados das FARC. Estes encontros foram realizados não só em solo cubano – sempre com a presença de Fidel Castro – mas também no México, para onde Marco Aurélio Garcia viajou, a fim de reunir-se em 5 de dezembro de 2000 com Marco León Calara, membro das FARC. Os temas tratados nesses encontros mantêm-se sob um manto de sigilo. Entretanto, cada vez que se reunem, as FARC incrementam seus ataques com um altíssimo custo de vidas humanas.

A lista das FARC e do ELN

Chávez tem apoiado ativamente os membros das FARC e do ELN fornecendo cédulas de identidade falsas, armamento, munições e lugares seguros para a retirada das tropas em ordem. Também recebem apoio de Cuba, onde os líderes destes grupos terroristas descansam e as tropas são treinadas. Inúmeras denúncias muito bem documentadas do presidente e vice-presidente de CAVIM, de diretores da ONIDEX, de efetivos da DIM e da DISIP chegaram ao conheciento público nos meses passados e sustentam estas asseverações. Desta maneira, Chávez se assegura de contar com guerrilhas armadas que serão usadas para debilitar a democracia venezuelana e forçar seu regresso ao poder.

O que o futuro proporciona ao Brasil e à região

Sob Marco Aurélio Garcia, a política exterior do Brasil será manejada desde Havana. A diplomacia do Brasil a cargo de Garcia trabalhará ativamente contra as políticas que os Estados Unidos auspiciam na região, que se iniciarão com seu apoio a Fidel Castro: “cuidaremos de eliminar o bloqueio a Cuba”.

Marco Aurélio Garcia descreve seu partido político, o PT, como “radical, de esquerda, socialista”. Porém, Garcia é mais que um radical e mais de extrema esquerda que um socialista: é de fato um comunista de linha dura que quer reviver o comunismo no mundo. No artigo que escreveu sobre o “Manifesto Comunista”, de Karl Marx, ele conclui que “A agenda é clara. Se o horizonte que buscamos é o comunismo, é hora de reconstrui-lo”.

Marco Aurélio Garcia trabalha muito próximo com outros políticos de tendência marxista ao redor do mundo e aparece em antologias que são lidas como um “quem é quem” dos que apóiam o terrorismo internacional: de Cuba, Mário Machado e Marta Harnecker; da China, YunLin Nie, autor de “O Manifesto Comunista e o Socialismo com características chinesas”; Pham Nhu Cuong representa o Vietnã; e Mohamed Latifi é o contato iraniano. Também colaboram outros extremistas de países democráticos como Seppo Ruotsalainen da Finlândia (autor de “O Processo e o Manifesto Revolucionário”), Allan Woods da Inglaterra (“O Manifesto Comunista Hoje”) e Pierre Zarka da França (“O Manifesto do Partido Comunista”). Todos eles compartilham um profundo e intenso ódio contra os Estados Unidos e a sociedade ocidental.

20.7.07

Jornal da Globo - Reação de Marco Aurélio Garcia

Este é o tipo de gente com a qual lidamos. É a moral reinante e aprovada.

Eu me senti enojado. Alguém por aí também quer arrumar desculpas?

16.7.07

11.7.07

Nóis é nóis

Há algumas semanas, no meio de uma conversa via chat com uma professora de Geografia (se não me engano), fui dizer o óbvio sobre as greves e paralizações das universidades paulistas, ou seja: a) que a questão era puramente política e b) que os pobrezinhos eram massa de manobra dos partidos de esquerda (PT, PC do B, PSTU e adjacências).

A garota não concordava com minha colocação acreditando ser aquilo algo sem fundamento. Questionou-me sem dúvidas: onde você leu isso? Que tipo de coisas você lê? Resposta da questão 1: ora, todo mundo havia noticiado. Até o Correio Popular se atreveu a escrever cerca de 3 matérias sobre o assunto, indicando de quais partidos vinham as novas lideranças estudantis e o enfraquecimento da UNE, que segundo os revoltadinhos do Sucrilhos, tinha perdido a força de ação por estar mancomunada com o governo Lula.

É claro que eu poderia ter dito que conhecia muito bem a coisa porque havia estudado no antro dos cabelos rebeldes. Que sabia muito bem como tudo se configurava dentro dos Centros Acadêmicos, com seus estudantes-políticos profissionais que foram meus veteranos (não de curso, mas de Instituto) e ainda estão lá, de boina e camiseta vermelha, querendo fazer a revolução.

A resposta à questão 2 pode ser dada de duas maneiras: a) quais autores leio ou quais jornais ou revistas leio. Bem, sobre os autores, quem me conhece sabe: leio essencialmente Hobbes, Nietzsche e Freud. Isto tem um motivo sim, e que J.S Mill resumiu assim em seu Sistema de Lógica: "Os seres humanos na sociedade não têm propriedades senão as derivadas das leis da natureza do homem individual, e que se podem realizar em termos destas". Isto quer dizer que para falar sobre política e sociedade é necessário antes dizer sobre qual é o homem que compõe estas instituições. O que vem fora disso não me interessa. É claro que leio e li dezenas de autores. Que leio quase tudo que cai em minhas mãos. E adiantando as coisas, fiz duas matérias sobre Marx na faculdade: 8 e 10. Média 9. Aposto com quem quizer que 99% da galera vermelha não chega aos 5.

Passemos agora para segunda possibilidade de resposta: leio de tudo - jornal de bairro, encarte de geladeira, bula de remédio. Mas pensando melhor na questão da garota lembrei-me de uma comunidade do Orkut onde se vê: Leu na Veja, azar o seu. A imagem que acompanha o texto é a de um burro lendo Veja. E aí eu me pergunto: por que tanto ódio?

Alguém aí sabe me dizer qual foi a revista que publicou a reportagem na qual o irmão Pedro denunciava Collor? Ah, a Veja. E aí a Veja era de esquerda ou de direita? Hein? Outra pergunta: qual foi a revista que melhor cobriu os casos absurdos do mensalão e trouxe à tona os desmandos de Palloci, de Dirceu, de Gushiken? Hein? Algum dos descortinados amigos do presidente conseguiu se defender? Aqui a Veja era de direita ou esquerda? A melhor resposta para a pergunta: nem um nem outro, ora. A questão é que os "nossos" ladrões são boas pessoas e não se pode falar mal deles.

Quero deixar bem claro que não defendo Veja aqui. Que interesse teria? Não sou dono, não sou funcionário. Mas é necessário um pouco de perspectiva histórica e lógica, coisa na qual somos péssimos. Querem ver? Olha só a Caros Amigos:

Agora, que estamos sendo demitidos em massa, o que acontecerá com esses alunos? O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley já chegou e não foi necessário o uso da genética. Bastaram algumas gestões do PSDB para que uma geração inteira de jovens se transforme em profissionais-gama com diplomas de terceira categoria. Assim, os ricos continuarão cada vez mais ricos e os pobres agora têm sua ignorância reconhecida e sustentada por diplomas universitários assinados e reconhecidos pelo MEC.

Este texto diz respeito à dispensa por conta das faculdades particulares de mestres e doutores. Do ensino de baixa qualidade que elas oferecem. Do futuro dos alunos que estudam nestes lugares. Vamos analisar o texto: bastaram algumas gestões do PSDB para que uma geração inteira de jovens... com diploma de terceira categoria.

Agora vamos colocar os olhos para fora e pensar: foi mesmo o PSDB que fez isso? O verdadeiro culpado? O PT governa há quase dois mandatos e o que foi feito? Nada? Claro que não: foi criado o PROUNI. E o que faz o PROUNI? Financia estas faculdades, paga-lhes prestações para que o ensino criticado (com razão) se mantenha e venha a florescer ainda mais. E então cara pálida?

Na mesma edição Ricardo Antunes diz que a Venezuela é a maior democracia da América Latina, e há ainda uma entrevista imperdível com o neto do Trótski. Preciso comentar? Ah, e sabem quem escreve o último artigo da revista: Emir Sader. (por favor, sem risos)

Mas eu leio assim mesmo: leio Caros Amigos, Carta Capital, Veja, Caras, Super-Interessante, Folha, Estadão, Correio, frasco de desodorante, pote de margarina, embalagem de bolacha...

P.S - A melhor revista brasileira sobre as questões políticas e sociais foi a Primeira Leitura, que fechou por falta de patrocínio.

___________________________________________________

Somos pouco lógicos e não queremos saber de história, mas somos tão criativos que inventamos o cheque pré-datado, uma UNE que não é presidida por um estudante e as ONGG´s, Organizações Não-Governamentais Governamentais.

___________________________________________________

Estava me lembrando do caso Collor e das questões que permearam o afastamento: quem pagou a reforma na casa da Dinda? Quem comprou o FIAT Elba?

Mal sabíamos o que viria. E olha que engraçado: o Collor foi afastado e o Lula não.

Isto gera uma enquete:

Quando fomos mais jecas?

( ) Naquela época?
( ) Agora?

Dê sua opinião.

4.7.07

Então, né...

A gente fala, fala, e depois é chamado de chato, de reacionário, de direita conservadora e coisa e tal. Podem me chamar do que quiserem, menos de anti-ético ou burro. Isso aí embaixo é só a pontinha do iceberg da galera ixperta salvadora de vidas. Eles sempre me comoveram tanto...

Curso fantasma desvia verba do MEC em São Paulo

São Paulo - Parte dos milhões de reais destinados ao programa de alfabetização de jovens e adultos mantido pelo Ministério de Educação tem ido pelo ralo. Apenas no primeiro semestre deste ano, o ministério liberou cerca de R$ 20 milhões para entidades que têm sede na capital paulista e são responsáveis por executar o Programa Brasil Alfabetizado, mas admite que não sabe o que é feito do dinheiro.


A proposta de erradicar o analfabetismo esbarra em um esquema de desvio de verba que envolve organizações não-governamentais credenciadas pelo MEC. Durante mais de um mês, o Jornal da Tarde analisou as contas do ministério e procurou 130 das 241 turmas montadas pelo Centro de Educação, Cultura e Integração Social de São Paulo - uma dessas ONGs, com sede em Guaianases, zona leste de São Paulo. Pelo menos 65 delas são fantasmas. Há, ainda, professores que não receberam salários, educadores contratados para alfabetizar em três lugares ao mesmo tempo e duplicidade de turmas.


As ONGs são pagas para alfabetizar pessoas de 15 anos em diante. Na capital paulista, 12 entidades foram cadastradas - 11 já receberam verbas para cumprir aquela que seria uma das mais importantes metas do ministério: acabar com o analfabetismo. Em São Paulo, parte dos 68 mil alfabetizadores cadastrados atua desde o início do ano. Mas, terminado o primeiro semestre, centenas deles não viram um centavo da verba liberada.


Para ser cadastrada, a ONG precisa ter o seu projeto aprovado pelo MEC. O Centro de Educação, Cultura e Integração Social de São Paulo recebeu sinal verde em 2006.


A ONG paulista ganhou R$ 632.887,20 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para alfabetizar 5.709 pessoas, com 146 alfabetizadores. A verba foi depositada em 3 de abril. Só pelo grupo de 65 turmas fantasmas, a entidade recebeu pelo menos R$ 98.800,00 e deixou de alfabetizar um mínimo de 650 alunos. Até sexta-feira, grande parte dos educadores não tinha recebido salário.

24.6.07

Sobre a música abaixo...

Bem, a situação é a seguinte: sim, eu assisto Paraíso Tropical.
Dentro do possível, não perco um capítulo. E uma das coisas que mais me chama a atenção na novela é a sua trilha sonora. Voltarei a falar dela por aqui.
O fato é que essa música aí embaixo é uma das minhas preferidas, e há uma versão dela na novela que é cantada e que eu nunca tinha ouvido. Conhecia duas versões: uma do Santana, onde na verdade ela não é tocada inteira mas faz parte do solo de Samba pa Ti, e a outra do George Benson, feita toda, mas sem vocais.
E como o Youtube realiza quase todos os seus sonhos, encontrei esta versão na qual os dois tocam Breezin' juntos. Chatinho, chatinho.

Troquei a seriedade pela brincadeira. Se tiver paciência, falo sobre o poema, que já fala demais por si.

3.6.07

USP 1

A USP não está em greve. Os alunos querem aula. Estão parados os de sempre, os estudantes profissionais. Vejam o caso da FEA, por exemplo. Quem estuda ali quer ser economista ou administrador, e não especialista na revolução que nunca haverá. Mais: está empenhado em ter uma boa formação — também em ser analista crítico do país, sem dúvida (há até professores que ainda são marxistas, imaginem só...) —, mas pretende se livrar logo da canga paterna (alguns já livres) para ganhar a vida; quer ser dono do próprio nariz e senhor do próprio destino. A FEA fez assembléia e decidiu: as aulas continuam.

Já os adolescentes retardados que vivem pendurados nas tetas da família, de algum partido ou ONG (muitos desses adolescentes já poderiam ter direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso), bem, estes só pensam na greve. Eles querem nos fazer crer que se trata de um problema político, mas é mentira, como sempre. A questão é psicanalítica. Falta o quê? Limite familiar, puxão de orelha, autoridade. É por isso que qualquer analista logo identificaria o que querem narcisistas: polícia. Sua invasão é um grito de socorro: “Alguém nos reprima, pelo amor de Deus, já que nossas famílias não conseguiram cumprir a contento a tarefa”. Querem um pai para chamar de seu, mesmo que esse pai seja eu, hehe. Huuummm. Não tenho vocação para lidar com preguiçosos arrogantes. Falta-lhes é um chute no traseiro (metafórico, é claro...). Se, um dia, meus filhos invadirem prédio público num regime democrático, não terão meu apoio. Levarão é um puxão de orelha.

A esperança da greve era a tropa de choque do Sintusp, um sindicato que não consegue passar pela maioria dos dispositivos do artigo 5º da Constituição Federal. É aquele cujo caput diz o seguinte: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. É o fascismo disfarçado de socialismo; é o diabo disfarçado de capeta. Nem a paralisação dos funcionários — que estão submetidos a métodos violentos, constrangedores — é integral.

Alô, alunos da USP: hora de resistir. Estão em confronto dois modelos de universidade:
1) o de São Paulo, em que vigora a autonomia universitária;
2) o de Lula, do PT e das esquerdas, que entrega o terceiro grau para as mantenedoras privadas, amigas do poder, que são alimentadas com o leite de pata do dinheiro público do ProUni, sem precisar oferecer nem mesmo qualidade.

Que fique claro: eu sou crítico da gratuidade. Acho que é preciso cobrar de quem pode pagar. E quem não pode deveria estar obrigado a alguma forma de ressarcimento social pelo bem que recebe do conjunto dos paulistas. Mas este sou eu. Serra não quer nem ouvir falar em cobrar mensalidades das três universidades estaduais. Ele disse que a estrutura que seria criada para distinguir os que podem ou não apagar acabaria sendo cara, ineficiente e contraproducente. E há também o princípio: ele é favorável ao ensino universitário público e gratuito.

Mesmo sendo crítico do modelo paulista, é óbvio que eu o considero melhor do que o modelo lulista. Ou, por acaso, nos quatro anos e meio de governo Lula, as universidades federais e as privadas (ops!) que o PT financia conseguiram competir com USP, Unicamp e Unesp? E vejam que coisa: por lá, a extrema esquerda não promove baderna, não é? Ela vem fazer bagunça justamente no modelo que funciona melhor, embora muito longe do ideal.

Resistam, uspianos! Defender a greve é dar um tiro no próprio pé. Os paulistas desdentados podem começar a achar que não vale a pena sustentá-los.

Depois eu falo da UNICAMP.

21.5.07

A Virada Cultural do ponto de vista de um ancião

Talvez eu escreva mais posts sobre isso, mas a Virada Cultural pra mim não passou de um bom posto de observação. Um lugar onde me diverti muito gostando de nada. Um lugar onde o mundo da imagem se mostrou com tanta força que eu acho melhor começar a pensar melhor sobre isso. Bem, vamos ao momentos dos quais me lembro e das questões que me suscitaram.

1. Cupinzeiro - todo mundo já ouviu falar do Cupinzeiro. Todo mundo fala bem do Cupinzeiro. Por quê? Porque é "in", porque é "cult", porque "resgata a história da nossa cultura" subdesenvolvida. A formação é péssima, os sujeitos tocam mal, as pessoas que colocam a voz são desafinadas e sequer sabem lidar com o microfone. Enfim, coisa pra antropólogo, etnólogo, como quase tudo o que aconteceu na tal Virada. Onde é que estava o Bons Tempos hein? Ah, o Bons Tempos não mistura piercing com tatuagem com roupa BG e faz pesquisa. Eles fazem o que músicos devem fazer, tocam e com alegria, e isto não cabe no nosso discurso progressivojeca, na nossa culturajeca.

Bem, ouvindo estes trastes eu tomei três cervejas e comprei um sabonete de uma moça que faz "pesquisas com essências naturais". Ao menos os sabonetes eram melhores do que o Cupinzeiro. Ela também faz sabonetes em forma de pinto e xoxota, o que eu achei legal. De qualquer forma, com tanta pesquisa, no ano que vem a Virada terá patrocínio do CNPq, acho eu...

2. Estação Cultura - perdi o show do Tom Zé que era a única coisa que eu queria ver. Quando lá cheguei já estava rolando um som com DJ's. Falaram da Negra Li mas se ela apareceu por lá eu não vi (olha só, fez até rima - se eu fosse o Marcelo Camelo diriam que eu estaria me aproximando muito do parnasianismo neste memomento). Tive uma conversa muito esclarecedora sobre um dos piores dias da minha vida e que me explicou muita coisa. Depois tomei mais 345 latas de cerveja e fiquei pensando que se aquele povo todo fosse composto por filhos meus eu cortaria o cabelo de todo mundo, colocaria uma roupa decente e botaria todos pra lerem Fausto, Eu, e um Mário Sá-Carneiro por exemplo, só pra começar (talvez fosse melhor Reinações de Narizinho, pensarei melhor sobre isso). Isto sim seria virada cultural. Fica aí meu filho, tenta enfiar alguma coisa neste oco acima do seu pescoço e amanhã a gente conversa. Vira a noite aí e vamos ver se seu vocabulário amanhã passa de 250 palavras.
Mas uma coisa, entretanto, é fato: todo mundo muito bem produzido com suas roupas huhu, seus cabelos huhu, suas tatoos e piercings huhu. Pensei também em pôr uma imã no teto da estação e de 30 em 30 minutos colar todo mundo lá em cima, via piercing. Hopi Hari de galera huhu.

Amanhã continuo a minha participação na Virada Cultural porque tenho que escrever mais dois textos pro site.

P.S sobre a noite - Ninguém ficava com ninguém porque ninguém sabia quem era o quê. Só as lésbicas ou bis femininas se beijavam porque, afinal de contas, ser bi ou lésbica também é ser cult, também é ser huhu. Então elas se acabaram como se também fossem, e talvez se tornaram, atrações da Virada (ali tem malabares, ali tem designers de luminárias, ali tem lanche natural e ali tem mulher se beijando). Individualismo e hedonismo à qualquer preço. E ainda querem fazer a revolução sem controle ou respeito do que lhe é mais próprio, ou seja, o corpo. Antes que falem de mim: não, não. Não sou retrógrado a este ponto não. O que me incomoda é o ato massificado e ingênuo, o imagético, o circo.

Huhu pra vocês e até... que agora eu vou fazer pesquisa.

18.5.07

But the sun is eclipsed by the moon...

Palavras sobre vida e morte. Palavras sobre imanência, transcendência, passado e aquilo que virá.

Vida 1 - Semana passada foi aniversário da minha avó. Aniversário da Dona Hilda. Ou como eu costumava chamá-la até pouco tempo atrás: vó Uda. Se pudesse classificá-la em alguma nosologia, diria que ela é a hiperativa mais tranqüila que eu já vi na vida. Do alto dos seus 78 anos não pára um segundo: acorda às 6h para a ginástica, às 8h já está indo para o centro onde trabalha de voluntária na farmácia da igreja, e volta somente às 16h pra casa, quando então faz as “suas” coisas. Some de vez em quando, deixa todo mundo louco (uma tia chorando aqui, a outra ligando pros hospitais), até que chega a já sabida ligação : - Olha, eu estou aqui em Curitiba viu, liguei pra vocês não se preocuparem. Curitiba, São Paulo, Florianópolis – ela simplesmente vai sem falar pra ninguém. No ano passado fez uma cirurgia em São Paulo, sumiu por três dias, e depois ligou pra dizer que “tinha dado tudo certo”. Lida com a vida de forma invejável: sempre sem estresse, sempre no pra tudo dá-se um jeito. Bem, pra quem criou cinco filhos sozinha e ainda manteve a sanidade, acho bom que comecemos a acreditar nesta história. Vó Uda, com todo meu amor, um feliz aniversário, ainda que atrasado.

-----------

Vida 2 – Minha irmã, minha linda irmãzinha está grávida. E a família toda com os sorrisos encostando nas orelhas. Minha mãe não cabe em si e eu, eu mesmo, serei “tio”. Viva, viva, viva!!! O João também não se controla pelo fato de que terá um primo. Semana de comemoração e início da contagem regressiva. Em Janeiro mais um membro da família pra correr pela casa. Mais Papai Noel, mais recomeço. Beijo mana e Gary, e parabéns!


Perda – No Domingo, dia das mães, uma aluna minha, a Gabi, faleceu. Tinha problemas cardíacos, precisava de um transplante e não o conseguiu a tempo. A classe triste (segundo colegial), a escola triste, os professores abalados. Gabi fazia brigadeiros para o seu próprio aniversário quando começou a sentir-se mal. Não voltou mais pra casa, não voltará mais pras aulas. Existe toda uma estranheza, toda uma névoa que envolve a questão da morte. Mas o que me entristece, o que me preocupa, é aquilo que não foi vivido. É a pletora de experiências de que alguém com 16 anos é privado. Terá a Gabi amado? Terá a Gabi começado a compreender alguns dilemas pelos quais temos que passar? Terá a Gabi sentido e compreendido a felicidade de ter estar com amigos, ou ficado melancólica com as questões que não temos condição de responder? Talvez alguém o saiba.
Fique em paz menina...

11.5.07

11/05/2007

Noite de sexta-feira: meia barra de doce-de-leite, dois iogurtes de morango, trinta páginas de "O jovem Törless", trinta páginas de "Inibição, sintoma e angústia", 20 mg de diazepam e cama.

P.S - Também alguma coisa infrutífera, mas pela qual vou insistir um pouco.

10.5.07

Haroldo de Campos, poesia, povo...

Quem me conhece sabe de minha adoração pela poesia concreta e, mais especificamente, por Haroldo de Campos e suas Galáxias. Quem me conhece deve saber também de minha estranheza em relação a alguns poetas, Drummond por exemplo, que diz coisas simplórias de maneira simples, o que me faz perguntar qual a graça de seus textos, que são bem diferentes de um Bandeira, que está em um outro lugar, que expõe peculiaridades e finezas desconcertantes de modo simples, o que é bem diferente.

Bem, o fato é encontrei este texto do Régis Bonvicino que coloca algumas coisas em seus lugares, propondo uma análise muito perspicaz daquilo que vagava em minha cachola mas jamais havia conseguido elaborar direito. Aí vai:

Haroldo de Campos, morto no último dia 16 de agosto, aos 73 anos, foi um poeta que operou no paradigma internacional-erudito em contraposição ao nacional-popular, um dos vetores do século XX - um século onde os artistas perseguiram, como uma obrigação imposta pelos ideólogos marxistas, a idéia de "povo". Esta operação custou-lhe o preço, em vida, de ataques e muita incompreensão simultâneos a homenagens e reconhecimento, quase sempre provenientes do "exterior", onde, num paradoxo, não foi suficientemente traduzido. Desapareceu sem ter uma edição de seus poemas e textos críticos em inglês - a língua universal. Na verdade, o percurso de Haroldo revela-se, bastante, no confronto tenso entre estes dois paradigmas, com a prevalência irradiante do primeiro, o que o poderá projetar como um artista do século XXI, com a galopante relativização das fronteiras nacionais e com o fim à vista de muitas oposições como estética versus tecnologia etc. Apesar de que, pontue-se, seu internacionalismo se cruza, algumas vezes, com vieses nacionalistas, como, por exemplo, quando reivindica Gregório de Mattos como "poesia brasileira", quando não mais se aceita a idéia de "brasilidade" na colônia ou em qualquer outra época, conceito equivocado, já que não há, sobretudo, naquele período, nacionalidade brasileira distinta da portuguesa. Não há, na verdade, Brasil mas "província ultramarina". Gregório de Mattos, antes de ser um poeta "brasileiro", é, como me lembra Alcir Pécora, numa carta, "um caso bem sucedido de aplicação de modelos satíricos ibéricos no caso colonial. Não há nada no mesmo patamar em Portugal".

O internacional-erudito foi também o móvel inicial e fundante do modernismo brasileiro de 1922. Uma leitura, mesmo que rápida, do Prefácio Interessantíssimo, que abre a Pauliciéia Desvairada, primeiro livro modernista de Mário de Andrade, datado de 1921, patenteia-nos a vocação internacional do autor: "Você já leu São João Evangelista? Walt Whitman? Mallarmé? Verhaeren?" ou "Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo". Oswald de Andrade escrevia, em 1928, em seu Manifesto Antropofágico, a confirmar a inflexão internacionalista do modernismo, que: "Só me interessa o que não é meu". Esta frase, de Oswald, sintetiza, igualmente, todo o percurso de Haroldo de Campos, poeta, tradutor e crítico. Sua primeira poesia, mesmo sendo um tanto antimodernista, apresentava, de plano, já um caráter de busca do internacional-erudito. Leia-se o verso do poema "Super Flumina Babylonis", do livro Auto do Possesso, datado de 1950: "Animei as estátuas. Babilônia,/ para dançar diante de ti...". Pouco anos depois, Haroldo estaria participando ativamente, como um de seus idealizadores, do movimento concretista, em meados dos anos 1950, que, além de libertá-lo de um tom, como já se disse, um tanto passadista de seu primeiro momento, projetá-lo-ia para mais adiante da fronteira nacional, em todos os aspectos. Vieram as traduções de James Joyce, Ezra Pound, o interesse por e.e. cummings, por Stéphane Mallarmé, a retomada dos princípios das vanguardas européias do início do século XX, sobretudo, dos das mais construtivistas e que se propunham como linha evolutiva da cultura e da arte e de aspectos do modernismo brasileiro, como a teoria da antropofagia, que se pode resumir com a frase de Oswald, retirada do manifesto já mencionado: "Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo".

O concretismo foi um movimento que repropôs o paradigma internacional-erudito, valendo-se, também, dos instrumentos da cultura popular mas não nacional: a ele interessava o poema cartaz e o design dos letreiros, o design da luz em movimento, o confronto da palavra com página branca. Haroldo escreveu pouquíssimos poemas concretos estrito senso, apesar da fama em direção oposta. Leia-se um deles (em diálogo aberto com Mondrian) que, décadas depois, inspiraria a canção Lua, 1974, de Caetano Veloso: "branco branco branco branco/ vermelho/ estanco vermelho/ espelho vermelho/ estanco branco". Veloso: "... Lua lua lua lua/ [...]/ Estanca/ [...]/ Branca branca branca branca...".

Há dois momentos altos , em minha opinião, na trajetória do Haroldo de Campos poeta, sempre mais questionado do que o crítico (a redescoberta de Sousândrade), pensador e tradutor (criou uma teoria própria da tradução), respeitado na maior parte das vezes, desde um Arte no Horizonte do Provável (1969), passando por Metalinguagem , reeditado depois domo Metalinguagem e Outras Metas (1992) e ideograma (1977) até uma Poesia Russa Moderna (1968), passando pelas traduções de Stephane Mallarmé (1974) e pelas traduções de Homero, estas últimas a acentuar que, na última quadra da vida, radicalizou no paradigma internacional-erudito, universalizante, distanciando-se um tanto, por exemplo, do tropicalismo, com o qual não só dialogou como se encantou/deslumbrou num determinado momento de sua carreira. Esses dois momentos altos são Galáxias (1963/1976) e Educação dos Cinco Sentidos (1985), este emblemático dos problemas de sua poesia, em algum sentido. Problemas: quando compara Gal Costa a Safo, por exemplo. Uma qualidade inédita: um despojamento nunca antes visto em seus textos, exceto nos raros poemas concretos ; um despojamento mais livre e intrínseco.

Numa definição precária, poderia chamar Galáxias, uma "proesia" forjada com o auxílio de várias línguas, de um caderno de viagens. Um caderno internacional, escrito por um brasileiro. Nele estampa-se, com nitidez, a vocação internacional-erudita do Haroldo poeta, como no fragmento onde percebe, crítica e duramente, a Espanha franquista dos anos de 1960: "[...] reza calla y trabaja em um muro de granada trabaja y calla y reza y calla y trabaja y reza em granada um muro da casa del chapiz ningún holgazán ganará el cielo olhando para baixo [...]". Holgazán quer dizer mandrião ou vadio. Neste pequeno trecho, registra-se a ditadura do General Franco e seu uso do catolicismo: nenhum vadio ganhará o céu! O traço popular aparece muitas vezes nos fluxos de Galáxias, mas mediado sempre pelo tom erudito - herdado, no âmbito brasileiro, das prosas de invenção de Mário e Oswald de Andrade e, depois, de Guimarães Rosa. É significativo o fragmento que se inicia desta maneira: "como quem escreve um livro como quem faz uma viagem como quem descer descer descer katábasis até tocar o fundo e depois subir...".

Perpetuou-se, infelizmente, no Brasil o conceito de que grandes poetas são nordestinos ou mineiros que migraram para o Rio de Janeiro e não até mesmo os cariocas ou fluminenses. Só um carioca, ligado à Bossa Nova, foi considerado um grande poeta no século XX: Vinícius de Moraes e ainda assim era chamado de "poetinha". Grandes poetas brasileiros são Manuel Bandeira ou João Cabral, pernambucanos no Rio, ou Drummond, mineiro no Rio. E agora Ferreira Gullar, maranhense no Rio. São Paulo precisou criar movimentos culturais para ser "aceito" na federação e, assim mesmo, até hoje, convive com a fama de que não produziu "grandes poetas": Mário e Oswald de Andrade, por exemplo, são considerados "grandes figuras". A idéia do "poeta" vinculou-se, no país, à daquele que, erudito, manteve sentimentalmente um elo com a idéia do popular e do nacional, com a idéia do puro, do não industrializado...

Em A Educação dos Cinco Sentidos encontra-se um Haroldo de Campos fascinado pelo popular. Ao mesmo tempo em que se lê poemas dedicados a Octavio Paz, o belíssimo "Transblanco" ("[...] tomei a mescalina de mim mesmo/ e passei esta noite em claro/ traduzindo BLANCO de octavio paz"), depara-se com, a propósito de Diana e do amor: "[...] Mas diz-lhe que me esgana/ passar tanta tortura/ e que desde a Toscana/ até o Caetano/ jamais beleza pura/ tratou com tal secura/ um pobre trovador [...]". Aqui, percebe-se com clareza o confronto tenso entre internacional-erudito e nacional-popular. É o Haroldo pressionado pelo sucesso da palavra falada (pela busca equivocada da brasilidade, um conceito equívoco, como já se disse...) em contraste com a solidão da palavra escrita. Toscana e Caetano, um ótimo letrista, compositor e cantor mas não um poeta como Eugenio Montale, por exemplo, mesmo que assim de Campos o tenha generosamente homenageado.
Sem declarar expressamente creio que Haroldo percebeu que, a partir de meados dos anos 1980, o concretismo fazia já pouco sentido, como movimento de renovação, e que o tropicalismo, outro movimento de cunho mais internacional, importante, que denunciara a "geléia geral brasileira", havia começado a integrar a ela, apesar da qualidade da produção de seus protagonistas, principalmente de Caetano Veloso e Tomzé. Assim, retomando o paradigma inicial, retornou ao internacional-erudito, findando seus dias ao lado de Homero, escrevendo uma poesia novamente de cunho um bocado passadista e já igualmente, a meu ver, distanciado da idéia de vanguarda, que abraçara com paixão no meio-dia e na tarde solar de sua existência.

Régis Bonvicino, 20 de agosto de 2003