29.3.08

MAGIC TO DO

O ano era o de 1983. Em um apartamento, no 13o andar de um antigo prédio da rua José Paulino, a nata do teatro campinense se encontrava quase que diariamente.

Naquele mesmo espaço onde eu havia visto e ouvido pela primeira vez Thriller - um choque -, aquelas pessoas diferentes, iluminadas, com suas roupas coloridas e justas, suas polainas e malhas, chegavam falando alto, gargalhando, gesticulando horrores - é claro que havia uns quietos também: estes eram mais charmosos, pareciam sempre esconder algo, quase me causavam medo -.

Discutiam textos, passos, iluminação. Eu era só um pirralho que ficava calado num canto - o que eu saberia depois ser à minha moda - admirando aquilo tudo, entendendo pouco, muito pouco, mas me deliciando muito com o clima. Ah, que nostalgia irritante daquele clima...

Em um destes encontros - para mim inesquecíveis - uma coisa de outro planeta pousou na sala daquele velho apartamento: um aparelho divido em duas peças, no qual se colocava uma fita e se podia ver um filme a qualquer momento. Um espanto!!!

No dia seguinte ao pouso alienígena as pessoas começaram a aparecer com uma freqüência maior do que em qualquer outro momento: tinham que entender e copiar as letras e as músicas, marcar as coreografias, anotar os textos. O que se via na TV era um negro talentoso demais e um loiro com cabelos cacheados. O que se via na TV era Pippin.

Minha memória havia guardado em um lugar raso o clima e as pessoas, mas tinha colocado Pippin em algum lugar mais profundo. Pois bem: hoje ele me reapareceu, e eu procurei coisas no Youtube. E melhor: encontrei. E fantástico: ao mesmo tempo em que a canção de abertura se trilhava algo se abria em minha memória, nota a nota, compasso a compasso - a canção estava lá, praticamente intacta. E como eu aproveitei este momento! E como eu fiquei encantado com isso!

Uma mágica refeita 25 anos depois.

P.S - Eu quero remontar Pippin!
A canção é esta aí embaixo...
O que mais a dizer?

Join us........ Leave your fields to flower
Join us........ Leave your cheese to sour
Join us........ Come and waste an hour or two
Journey....... Journey to a spot ex-
citing, mystic and exotic
Journey........ Through our anecdotic revue

We've got magic to do........ Just for you
We've got miracle plays to play
We've got parts to perform.... Hearts to warm
Kings and things to take by storm
As we go along our way

Veja o texto acima!!!

Eu voltei, voltei para ficar... porque aqui, aqui...

Vamos às coisas destes útimos tempos.

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Vocês perceberam que a eleição presidencial nos Estados Unidos está se estruturando da mesma forma que a última que tivemos por aqui?

Sim, porque enquanto aqueles que tinham a faca a o queijo na mão lutam para saber quem mandarão para as eleições trazendo um enorme desgaste ao candidato (Serra e Alckmim aqui - Hilary e Obama lá), o partido das falcatruas (PT aqui, republicanos lá - por mais hilário que isso possa parecer) ganha pontos com seu candidato fazendo propaganda eleitoral há muito e sem a perda que pode ser trazida pelos debates antecipados (Lula aqui - McCain lá - eu sei, McCain não será reeleito, mas é situação).

Isto significa que a série "Como se perder uma eleição ganha" terá um novo capítulo, agora nas terras do norte. Querem apostar quanto?

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João inspirado na manhã de quarta-feira. Acorda e vai fazer uma experiência sobre a terra do quintal. Muito erudito, conclui e informa à minha mãe que o solo ali é argiloso e não arenoso, o que favorece o plantio de café, por exemplo.

Mais tarde, do nada, pergunta: Vovó, quanto você ganha por festa?
Minha mãe responde e ele: Nossa, é muito pouco. Pede um aumento. De 35%, por exemplo.
Vó Lúcia diz que não pois acha difícil que aumentem tanto sua parte.
Então vem João: Vó, entra de greve.

Analisando friamente os fatos acima concluo com tristeza que: OK, tenho uma sementinha do MST em casa. Justo eu, um reaça, tenho um projeto de comuna que é sangue do meu sangue!!!

Mas a partir de segunda tudo vai mudar - fora com os livros da terceira série. Vamos ler os dois tijolos de "A riqueza das nações" e depois, sei lá, um "Sobre a liberdade", do Mill. Quero ver se a coisa muda ou não muda.

P.S - Já fui ver se não há qualquer peça com cara do Che escondida. Não. As cuecas continuam com o Batman, o Superman e o Naruto estampadas na parte da frente.

28.3.08

Angel - Jimi Hendrix

Angel came down
From heaven yesterday,
Stayed with me just long enough
To rescue me....

And she told me a story yesterday;
About the sweet love between the moon and the deep blue sea.

Then she spread her wings high over me.
She said: I'll come back again to see you tomorrow....

13.3.08

Um interessante de Elio Gaspari

Daqui a oito dias completam-se 40 anos de um episódio pouco lembrado e injustamente inconcluso. À primeira hora de 20 de março de 1968, o jovem Orlando Lovecchio Filho, de 22 anos, deixou seu carro numa garagem da avenida Paulista e tomou o caminho de casa. Uma explosão arrebentou-lhe a perna esquerda. Pegara a sobra de um atentado contra o consulado americano, praticado por terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária. (Nem todos os militantes da VPR podem ser chamados de terroristas, mas quem punha bomba em lugar público, terrorista era.)
Lovecchio teve a perna amputada abaixo do joelho e a carreira de piloto comercial destruída. O atentado foi conduzido por Diógenes Carvalho Oliveira e pelos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, além de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada.
A bomba do consulado americano explodiu oito dias antes do assassinato de Edson Luís de Lima Souto no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e nove meses antes da imposição ao país do Ato Institucional nº 5. Essas referências cronológicas desamparam a teoria segundo a qual o AI-5 provocou o surgimento da esquerda armada. Até onde é possível fazer afirmações desse tipo, pode-se dizer que sem o AI-5 certamente continuaria a haver terrorismo e sem terrorismo certamente teria havido o AI-5.
O caso de Lovecchio tem outra dimensão. Passados 40 anos, ele recebe da Viúva uma pensão especial de R$ 571 mensais. Nada a ver com o Bolsa Ditadura. Para não estimular o gênero coitadinho, é bom registrar que ele reorganizou sua vida, caminha com uma prótese, é corretor e imóveis e mora em Santos com a mãe e um filho.
A vítima da bomba não teve direito ao Bolsa Ditadura, mas o bombista Diógenes teve. No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lhe uma aposentadoria de R$ 1.627 mensais, reconhecendo ainda uma dívida de R$ 400 mil de pagamentos atrasados.
Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou dois quartéis, participou de quatro assaltos, três atentados a bomba e uma execução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre as quais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía de casa. Tudo isso antes do AI-5.
Diógenes foi preso em março de 1969 e um ano depois foi trocado pelo cônsul japonês, seqüestrado em São Paulo. Durante o tempo em que esteve preso, ele foi torturado pelos militares que comandavam a repressão política. Por isso foi uma vítima da ditadura, com direito a ser indenizado pelo que sofreu. Daí a atribuir suas malfeitorias a uma luta pela democracia iria enorme distância. O que ele queria era outra ditadura. Andou por Cuba, Chile, China e Coréia do Norte. Voltou ao Brasil com a anistia e tornou-se o "Diógenes do PT". Apanhado num contubérnio do grão-petismo gaúcho com o jogo do bicho, deixou o partido em 2002.
Lovecchio, que ficou sem a perna, recebe um terço do que é pago ao cidadão que organizou a explosão que o mutilou. (Um projeto que re- vê o valor de sua pensão, de iniciativa da ex-deputada petista Mariângela Duarte, está adormecido na Câmara.)
Em 1968, antes do AI-5, morreram sete pessoas pela mão do terrorismo de esquerda. Há algo de errado na aritmética das indenizações e na álgebra que faz de Diógenes uma vítima e de Lovecchio um estorvo. Afinal, os terroristas também sonham.

8.3.08

Sobre o amor e suas possíveis variações

Esse objeto transcedental chamado "vida amorosa" é sem dúvida uma das facetas desta atordoante vida que nos causam maior difculdade. Lidar com o outro é algo muito difícil, encontrar um outro é uma missão ingrata, encontrar e conseguir continuar se encontrando, pior ainda.

Por conta disso, a fim de resolver minhas questões sentimentais, criei um subterfúrgio indefectível: me apaixonei por uma moça do Orkut e me dei o direito de fantasiar sobre o assunto.

Ou seja: já nos conhecemos em um encontro ímpar, já namoramos, já nos casamos e agora estamos no segundo filho. Ela é linda, perfeita, genial, me ouve, me ajuda, está sempre de bom humor, me faz massagens, discute política e ética, adora João Cabral, psicanálise, me dá banho, me deixa dar banho, me deixa fazer massagens, está sempre bem disposta sexualmente falando e não sexualmente também, além de gostar como eu de fazer coisas estranhas madrugada afora.

Oh C..., Oh C..., onde mais encontrarei alguém como você?

Temos uma relação dos sonhos. Somos o casal mais perfeito do mundo. Para resumir a coisa toda, basta que eu diga que já lhe escrevi 53 poemas de amor.

Na semana passada peguei um ônibus para a UNICAMP. Sentei-me lá na frente. Quando estava próximo ao meu destino, passei pela roleta e fui para trás. Ao olhar para o fundo da bumba, notei que ela estava lá - os mesmos olhos claros que eu havia visto nas fotos (cor da parte de dentro da uva, sabe, aquele verde de dentro da uva?), as sardas, o cabelo castanho, tudo era igual, só que agora com alguns adicionais: ela tinha voz, ela tinha movimentos, ela tinha até três dimensões.

Gelei. E se ela soubesse de tudo? E se ela descobrisse a nossa história? Estaria tudo acabado?

Ela não percebeu. Nem se deu conta da minha existência. Desceu na faculdade de educação onde faz mestrado (segundo o Orkut), e sequer olhou para trás. Senti-me aliviado e suspirei: não era possível que tudo terminasse assim, de uma maneira tão abrupta, inesperada. Algumas estórias de amor são para sempre - e esse é o nosso caso.

Desci do ônibus, duas paradas depois, extremamente feliz, aos saltos. Quem sabe um terceiro filho numa casinha branca e ensolarada? Há como a vida ser melhor conosco? Acho que não...

Somos o casal mais perfeito do mundo e ninguém precisa saber disso, e ninguém sabe disso, inclusive ela, a minha deusa que tem os olhos da cor da parte de dentro da uva (vocês sabem né, aquela parte de dentro, esverdeada, que a gente engole...?).

2.3.08

Contra a fenomenologia e o existencialismo, um pouco de Camus

SRA. VIGNE (distraída) - Quais são, senhor Vigne, as ridículas superstições que diz abandonar?
SR. VIGNE - A religião, minha mulher.
SRA. VIGNE - Ah, é! (sobressaltando-se) Então é a religião?
SR. VIGNE - Sim, minha mulher, tenho o prazer de lhe informar que até o presente momento vivemos na ignorância e no erro. Agora, ao contrário, acabo de aprender a verdade: que não há verdade superior e que não existe mesmo verdade alguma, que tudo é acaso, que pode haver fumaça sem fogo e que, enfim, tudo é nada vezes nada.
SRA. VIGNE - Ufa, se não sou eu quem está ouvindo errado, é você que está ensandecido. E, no lugar de dissertar como um arcebispo, seria melhor tomar conta de seu pequeno caixeiro, que está a um passo de explodir após ter se entupido com seus bombons de marshmallow.
SR. VIGNE - Isso vai lhe ensinar, minha mulher. É totalmente indiferente que ele coma marshmallows, que exploda ou que não exploda.
SRA. VIGNE - Agora entendi! É mais um de seus ataques de mau humor. Você terá febre de noite e vai tomar um purgante amanhã, como de hábito.
SR. VIGNE - Pare de ser vulgar, senhora, e não atribua ao mau humor aquilo que advém do puro e nobre conhecimento.
SRA. VIGNE - Eis, com efeito, uma nova ciência, que o levará longe. Bem, seja como quiser, e, já que nada serve para nada, você não vai jantar hoje, ao passo que eu continuarei a chafurdar na ignorância e no erro enquanto como sozinha aquele gordo pernil que Deus -sim, Deus, ele mesmo- nos enviou nessa manhã.
SR. VIGNE - Acontece, minha querida, que você não é um "ser-aí" e por isso é necessário que eu jante bem ainda que nada faça sentido.
SRA. VIGNE - Isso está ficando divertido, meu tresloucado marido, e terei prazer se me explicar essa nova maravilha.
SR. VIGNE - Quer dizer, eu... Enfim, é pelo seu bem que eu devo jantar.
SRA. VIGNE - Pelo meu bem?
SR. VIGNE - Sem dúvida, pois... (ele hesita, depois fala rápido, como um iluminado) ...A partir daquilo que acabo de aprender, eu não sou nada sem você e devo me tornar aquilo que sou ajudando-a a ser aquilo que você é, donde se conclui que, sendo aquilo que sou, devo fazer aquilo que você faz e que, sendo aquilo que você é, você deve me deixar fazer aquilo que é preciso fazer para que você e eu sejamos aquilo que nós somos. Eis a razão pela qual eu devo jantar. Está claro?
SRA. VIGNE - Tão claro que vou agora mesmo ao hospício pedir socorro urgente.

Carlos Santana - Song of the Wind

Porque esta merece ser ouvida...