20.12.06

Verão 1

No verão de 1997 eu tomei 31 chopps no Bar do Empório. Recorde pessoal.
Lá pelo vigésimo fui até a praia, mergulhei e voltei ensopado.
Entrei no bar pingando como se nada, nada tivesse acontecido.

Da volta pra casa me lembro apenas de um relance: eu, olhando pra fora do carro, maravilhado, tateando o braço do motorista do Táxi e dizendo - Nossa meu, como é que você enfiou a gente num estádio de futebol, de carro, e a essa hora!?!? Huhu!!!

Era o sambódromo.

15.12.06

Pequenas coisas

Foram dez anos fora da casa da minha mãe.

Em meu momentâneo retorno, uma constatação bem simples: a esquizofrenia atravessa a família.

Meu avô acorda às 5:00h para dar sopinha de leite com pão para as cachorras.

Minha mãe canta o dia todo Carinhoso para o papagaio porque "ele gosta".

Dará tempo de meus sintomas começarem a aparecer?

Tenho que sair daqui logo.

12.12.06

Aniversário

Sexta foi meu aniversério.

Na sexta eu fiz trinta e dois anos.

Na sexta em que eu fiz trinta e dois anos fui também esqüartejado.

Na sexta em que fiz trinta e dois anos fui esqüartejado a golpes de diamante.

Na sexta em que fui esqüartejado cinco golpes de diamante me partiram em seis pedaços.

E estes seis pedaços partidos se uniram novamente no sábado.

E no sábado eu nasci de novo.

E no domingo eu fui criança de novo.

E nesta segunda eu fui adolescente de novo.

E daqui a alguns dias viverei coisas novas de novo: ficarei nervoso de novo; errarei de novo; parecerei atrapalhado de novo.

E terei de novo frescas lembranças de primeira vez.

De novo...

De nov...

De no...

De n...

7.12.06

Todas as vezes que eu acesso o blog pra escrever alguma coisa há uma frase, um trecho de poema que nunca sai do campo de digitação.

Finalmente ele ganhou: já que insiste tanto em aparecer, agora vai. Quem sabe assim ele some.
Com vocês, o dito:

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que,
tecido, se eleva por si: luz balão. (JCMN)

Agora posso voltar a escrever em paz.

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Ontem escutei uma música que não ouvia há uns dez anos.
Normal, vocês poderiam dizer. E o que isso teria de mais? Dããã...
Aí é que entra a questão: era uma das minhas cançoes preferidas e simplesmente tinha sumido, tinha se apagado da minha cachola. Coisa estranha, hein...?

Bom, o fato é que eu adorava Fala, dos Secos & Molhados.
Adorava porque é o tipo de composição que gosto: piano, violinos em "crescendo", um teclado malucão, uma melodia linda, um vocal sem comentários.

Adorava porque a letra falava sobre mim de uma maneira assustadora.

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto.

Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto.

Fala.

Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto.

Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto.

Fala.


Sim, meus caros, demorei-me bastante a começar a falar.

Ouvia, observava, observava mais um pouco e ouvia: jamais achava que a minha fala era necessária. Poucas vezes acreditava que falar certas coisas valia a pena. Pensava que as pessoas falavam demais. Fabiano mudo até vinte e poucos anos.

Disto coisas boas e más:

1) agora tenho certeza de que não há necessidade de se falar tanto;
2) sei muito sobre os outros, percebo muito, noto nuances divertidíssimas;
2) não sei me expressar direito quando falo. Se pudesse, escreveria sempre;

Mas o fato é que o feitiço se virou: ando verborrágico, falando demais.
E como não sei falar, acabo falando besteira, me excedendo, fazendo o desejo jorrar da ponta da língua (língua como o maior orgão para satisfação de desejos), o que me tem feito falar ainda mais um pouco pra pedir desculpas, pra explicar que sei que a minha fala pode estar atravessando o desejo alheio, que a minha fala não deve ser muito considerada.

Cala.

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Fato: os bebês de colo me amam. Não sei o que eles vêm de tão engraçado em mim, mas olham pra minha cara e começam a rir.
Fato: eu nunca sei e nunca saberei o que fazer, simplesmente porque não sei lidar com pessoas desconhecidas. Tenho dificuldade em primeiros contatos, ainda que sejam com bebês.
Então eu pego uma revista, me viro, vou tomar água.
Mas se alguém já a viua cena, aí fudeu. Moço mal, não gosta de crianças, coisa e tal.
- Não minha senhora, mas é que com o bebê não há linguagem fática. Com bebê eu não posso falar sobre o tempo ou sobre o jogo da seleção. Então eu fico sem graça. Então eu é que fico com vontade de chamar a minha mãe.

Ontem fui fazer um exame e um deles ficou rindo pra mim. Fui ao banheiro e não voltei mais.

4.12.06

Godspell


Hoje me deu uma saudade, mas uma saudade de Godspell.

Então fui procurar coisas no Google, no YouTube, e acabei achando algo que interessou.
Queria mais imagens, sim, mas esta aí de cima, da capa do disco, já me serviu.
E serviu porque no Youtube tem quase o filme todo, ou ao menos quase todas as canções.

Tem All for the Best: http://www.youtube.com/watch?v=UhVaQbyWz_g&mode=related&search=

Tem Bless the Lord: http://www.youtube.com/watch?v=csz8CYXjOB4&mode=related&search=

Tem Beautiful City: http://www.youtube.com/watch?v=NBjUchDgLOs&mode=related&search=.

Tem todo o resto.

Tenterei recuperar algumas fotos da nossa montagem e colocá-las aqui.
Tenho uma só, de um ensaio. Vamos ver o que sai da Opus esta semana.

3.12.06

Porque hoje é sábado...

Quais sinais devem ser seguidos?

Há um descompasso entre o meu corpo e o meu cérebro, reestabelecendo um cartesianismo que já deveria ser arcaico.

De um lado a dor, e do outro tudo o que é possível.
Engolir o mundo só não me é possível por conta do meu corpo falho.

Og ég fæ blóðnasir
En ég stend alltaf upp

Até quando?

Sim, estou com medo.
Pode ser nada, mas quero que isto seja afirmado, repetido, comprovado. Até então...

Sexta faço trinta e dois anos. Ando ultimamente no mundo dos sonhos.
Retorno aos 6 e misturo imagens esmaecidas com pensamento complexo.

Descompasso novamente.

Repensar o mundo atravessando as sensações com lógica formal.
Minha mãe me deixa na escola pela primeira vez. Entra no Fusca naquele dia chuvoso e some. Quem é S e quem é P? Munch aristotelizado.

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A seda azul do papel que envolve a maçã: sempre senti o cheiro deste verso.

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Pouquíssimas letras de música são poemas verdadeiros. A maioria não passa de um bando de orações fracas potencializadas pela melodia. Tenho asco de quem não percebe isto. Comparar Chico Buarque com João Cabral é uma infâmia. Chega a doer. Dói tanto quanto a dor de quem não entende a música cabralina. Esta é dadaísmo pessoal. É música satinesca.

A minha é Gubaidulina. Foi tirada de Gubaidulina e de Schnittke. É provável que jamais seja algo, mas é uma tentativa com sinceros tons formais. E friso isto: uma tentativa ingênua, purificada, longe da bobagem musical hermaniana. Aliás, sempre ligo este pessoal à crítica ao jazz que é claramente de Adorno na Dialética do Esclarecimento: muito claro que há objetivos secundários. Muito claro que a estética se dissocia de si e se torna mentira. Cada movimento interessante é criado para ser interessante, e não para ser movimento. E assim se desenvolve a nova salvação da música brasileira, que não passa de pop bem feito com todos o elementos imagéticos da salvação: cristos no backstage.

E viva a dipirona.