Talvez eu escreva mais posts sobre isso, mas a Virada Cultural pra mim não passou de um bom posto de observação. Um lugar onde me diverti muito gostando de nada. Um lugar onde o mundo da imagem se mostrou com tanta força que eu acho melhor começar a pensar melhor sobre isso. Bem, vamos ao momentos dos quais me lembro e das questões que me suscitaram.
1. Cupinzeiro - todo mundo já ouviu falar do Cupinzeiro. Todo mundo fala bem do Cupinzeiro. Por quê? Porque é "in", porque é "cult", porque "resgata a história da nossa cultura" subdesenvolvida. A formação é péssima, os sujeitos tocam mal, as pessoas que colocam a voz são desafinadas e sequer sabem lidar com o microfone. Enfim, coisa pra antropólogo, etnólogo, como quase tudo o que aconteceu na tal Virada. Onde é que estava o Bons Tempos hein? Ah, o Bons Tempos não mistura piercing com tatuagem com roupa BG e faz pesquisa. Eles fazem o que músicos devem fazer, tocam e com alegria, e isto não cabe no nosso discurso progressivojeca, na nossa culturajeca.
Bem, ouvindo estes trastes eu tomei três cervejas e comprei um sabonete de uma moça que faz "pesquisas com essências naturais". Ao menos os sabonetes eram melhores do que o Cupinzeiro. Ela também faz sabonetes em forma de pinto e xoxota, o que eu achei legal. De qualquer forma, com tanta pesquisa, no ano que vem a Virada terá patrocínio do CNPq, acho eu...
2. Estação Cultura - perdi o show do Tom Zé que era a única coisa que eu queria ver. Quando lá cheguei já estava rolando um som com DJ's. Falaram da Negra Li mas se ela apareceu por lá eu não vi (olha só, fez até rima - se eu fosse o Marcelo Camelo diriam que eu estaria me aproximando muito do parnasianismo neste memomento). Tive uma conversa muito esclarecedora sobre um dos piores dias da minha vida e que me explicou muita coisa. Depois tomei mais 345 latas de cerveja e fiquei pensando que se aquele povo todo fosse composto por filhos meus eu cortaria o cabelo de todo mundo, colocaria uma roupa decente e botaria todos pra lerem Fausto, Eu, e um Mário Sá-Carneiro por exemplo, só pra começar (talvez fosse melhor Reinações de Narizinho, pensarei melhor sobre isso). Isto sim seria virada cultural. Fica aí meu filho, tenta enfiar alguma coisa neste oco acima do seu pescoço e amanhã a gente conversa. Vira a noite aí e vamos ver se seu vocabulário amanhã passa de 250 palavras.
Mas uma coisa, entretanto, é fato: todo mundo muito bem produzido com suas roupas huhu, seus cabelos huhu, suas tatoos e piercings huhu. Pensei também em pôr uma imã no teto da estação e de 30 em 30 minutos colar todo mundo lá em cima, via piercing. Hopi Hari de galera huhu.
Amanhã continuo a minha participação na Virada Cultural porque tenho que escrever mais dois textos pro site.
P.S sobre a noite - Ninguém ficava com ninguém porque ninguém sabia quem era o quê. Só as lésbicas ou bis femininas se beijavam porque, afinal de contas, ser bi ou lésbica também é ser cult, também é ser huhu. Então elas se acabaram como se também fossem, e talvez se tornaram, atrações da Virada (ali tem malabares, ali tem designers de luminárias, ali tem lanche natural e ali tem mulher se beijando). Individualismo e hedonismo à qualquer preço. E ainda querem fazer a revolução sem controle ou respeito do que lhe é mais próprio, ou seja, o corpo. Antes que falem de mim: não, não. Não sou retrógrado a este ponto não. O que me incomoda é o ato massificado e ingênuo, o imagético, o circo.
Huhu pra vocês e até... que agora eu vou fazer pesquisa.
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