28.6.08

Gostei!

Do blog do Reinaldo:

Tio Rei exercita o seu lado legiferante e exige teste de bafômetro para dirigir o país.

17.6.08

Malo - Suavecito

Textinho do Click

Quando a filosofia trata da questão do tempo, dificilmente ele aparece como o conhecemos: aquele tempo do relógio, dos segundos após segundos; aquele tempo como a gente usa na física, mensurável, e com o qual é possível medir outras coisas, como velocidade ou espaço.

O tempo na filosofia surge para tratar de questões de outra ordem, com outros significados. Vamos a um exemplo: o tempo em Kant.

Para Kant, o tempo é algo cuja representação, cuja percepção, é algo que temos a priori. Parece que estou falando grego, não é?

Calma que eu explico melhor: para Kant, o tempo – assim como espaço - é algo anterior a qualquer percepção que temos das outras coisas.

Para um exemplo, imagine, pense numa bola. Ao pensar numa bola, esta bola estava onde? Estava em algum lugar, não estava?

Ainda que você imagine um fundo preto e coloque a bola neste lugar, a bola é pensada em algum lugar no espaço. Pois bem: quando Kant diz que o espaço é uma representação a priori, é isto que ele quer dizer. Que sempre pensamos o espaço antes de pensarmos nos outros objetos do mundo, e que quando pensamos estes objetos, é impossível que eles não estejam no espaço.

Pois bem: com o tempo acontece a mesma coisa. A mesma bola que você pensou estando em algum lugar teve que estar neste lugar em um determinado momento, em um determinado espaço de tempo. É impossível que a gente pense em um objeto estando ele em momento algum.

Será que você conseguiria fazer isso? Pensar um objeto fora do tempo? Eu não consigo.

Já para um outro filósofo, Husserl, o tempo diz respeito à percepção que temos das coisas em nossa consciência, não precisando que este tempo corresponda àquele do mundo externo à nossa mente.

Um exemplo disso?

Você já se deve ter perguntado: por que alguns momentos passam tão rápido e outros demoram tanto para passar? Mas ora, o tempo não é sempre o mesmo?


Pois então: segundo Husserl, o tempo é uma questão de percepção, uma questão de consciência.

Isso significa que o tempo possui divisões diferentes, e que você pode viver muito tempo em um momento mínimo, ou nada em um momento enorme. O que define o tempo é portanto o que se passa na mente, a forma como percebemos as coisas, e não o cuco que está na parede.

O tempo da física serviria então só para questões práticas, como não chegar atrasado a um lugar ou medir uma velocidade. Aliás, quando você está em um carro, na estrada, você percebe a velocidade sempre da mesma maneira?

Até a próxima semana!

11.6.08

O que eu ando fazendo, ou, porque não escrevo mais com freqüência neste blog

O manuscrito K, anexado à carta datada em 1 de janeiro de 1896 , e cujo subtítulo é Um conto de Natal, compõe-se basicamente no mesmo modelo esquemático e pelos mesmos dados que irão ser apresentados em Novas observações.... O texto, contudo, não é idêntico, e traz, assim como o manuscrito H, certas tentativas de entendimento das afecções que acabaram sendo omitidas no artigo publicado, sendo que uma delas é realmente expressiva para a nossa questão, e isso por conta do papel que ela desempenhará na evolução das idéias de Freud sobre o tema.

Estamos falando obviamente de uma hipótese levantada sobre a paranóia, e que diz respeito tanto àquilo que é reprimido por projeção quanto às conseqüências desta repressão para a formação dos sintomas.

Ainda no início do texto Freud aventa a possibilidade – e aqui está o passo adiante deste escrito - de que em um caso de paranóia apenas o afeto seja reprimido por projeção, sendo mantidas na consciência as representações a ele ligadas, ou seja, o conteúdo da vivência desprazerosa. Ocorrência puramente conjetural, pois não há um caso que comprove tal possibilidade. Acontece que, para que possamos entender como as coisas se dão neste momento e quais as questões que aqui surgem, devemos nos ater em outro ponto – e este grandemente delicado e significante, a saber: como se configura no exterior, e aparece ao eu, o conteúdo representacional projetado. Voltemos, pois, aos textos analisados sobre a projeção para um melhor vislumbre do problema.

No texto publicado, quando da análise do trâmite do conteúdo das representações - e aí tanto na histeria quanto na neurose obsessiva - a afirmação é clara: em ambos os casos o conteúdo, ao ser reprimido, se encontra ausente da consciência. Já no que diz respeito à paranóia, a lembrança da cena originária se encontrará presente, mas projetada. A questão que surge aqui é: ora, mas como isto se daria concretamente? O conteúdo seria plenamente mantido, com a preservação das imagens, só que agora instauradas através das interpretadas falas alheias?

Freud, em nenhum momento e em nenhum dos textos, é claro sobre a questão. A estrutura da neurose é consecutivamente, ou seja, em ambos os textos anteriormente analisados, reiterada, e nela a projeção aparece como o mecanismo que gera o sintoma primário. Este, por sua vez, parece ser sempre algo do campo afetivo, ou seja: não há referência às lembranças quando Freud trata do primärsympton, somente auto-acusações transfiguradas. Os delírios, então, ocorreriam não mais do que como formas de adequação da realidade externa à realidade psíquica: uma forma de dar sentido à sensação de ser perseguido. As representações começariam pois a surgir apenas quando a doença se instalasse concretamente, sendo que as alucinações apareceriam como fatos reajustados pela formação de compromisso.

Para articular as questões postas aqui em jogo, a fim de que na projeção afeto e conteúdo representacional fossem tratados com igual aprofundamento e que ainda se esclarecessem as suas relações com a formação dos sintomas, algo teria que mudar de estatuto como, por exemplo, a atuação da formação de compromisso já no aparecimento do sintoma primário. E não é isso o que Freud, ao que nos parece, faz no manuscrito K. Vejamos nesta longa citação:

“O sintoma primário formado é a desconfiança... o conteúdo da experiência retorna sob a forma de um pensamento que ocorre ao paciente como alucinação visual ou sensorial. O afeto reprimido parece retornar invariavelmente nas alucinações auditivas.
As partes das lembranças que retornam sofrem uma distorção ao serem substituídas por imagens análogas, extraídas do momento presente - isto é, são simplesmente distorcidas por uma substituição cronológica, e não pela formação de um substituto. As vozes, igualmente, lembram a autocensura, como sintoma de compromisso, e o fazem, em primeiro lugar, distorcidas em seu enunciado a ponto de se tornarem indefinidas e de se transformarem em ameaças; e, em segundo lugar, relacionadas não com a experiência primária, mas justamente com a desconfiança - isto é, com o sintoma primário.
Como a crença foi separada da autocensura primária, ela assume o comando irrestrito dos sintomas de compromisso. O eu não os considera como estranhos a si mesmo, mas é impelido por eles a fazer tentativas de explicá-los, tentativas que podem ser descritas como delírios assimilatórios.
Nesse ponto, com o retorno do recalcado sob forma distorcida, a defesa fracassa de vez; e os delírios assimilatórios não podem ser interpretados como sintomas de defesa secundária, mas como o início de uma modificação do eu, expressão do fato de ter sido ele subjugado.”


Tal pendência, conforme apontada por nós, terá de esperar alguns anos para que possa ser, ainda que não totalmente, resolvida.

6.6.08

Italians vs. Europeans Bruno Bozzetto

Sensazionale!!! Qualsiasi somiglianza...

Um texto dos bons, com argumentos dos bons, para calar os bocós

O sujeito que escreveu o texto abaixo, Gustavo Ioschpe, costuma produzir umas coisas bem das ruizinhas. Mas neste aqui ele acertou. Aliás, acho que deixou tudo o que tinha para acertar para usar de uma cacetada só. Não deixem de ler...

Virou consenso no Brasil associar o nosso fracasso educacional com as maquinações do sistema capitalista/neoliberal. Segundo essa leitura, calcada em Marx, interessaria aos "poderosos", à "elite", que o proletariado não fosse instruído ou, no máximo, recebesse uma educação totalmente "alienante", para que não questionasse suas mazelas nem incomodasse o status quo e apenas continuasse fornecendo sua mão-de-obra barata para a manutenção do sistema. Essa leitura da situação se tornou absolutamente hegemônica: vai da imprensa à academia, dos mais louvados pensadores do tema à correspondência enviada a este articulista por professores dos grotões do Brasil. Vejamos alguns exemplos. De Emir Sader: "A educação, que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tornou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista: ‘fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema capitalista, mas também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes’. Em outras palavras, tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes. (...) No reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital (...)". Lucyelle Pasqualotto: "Podemos analisar que a educação como vem sendo, historicamente, organizada está para atender ao capital, numa sociedade inerentemente excludente e contraditória. (...) Oferece diferentes níveis, modalidades, métodos educacionais, a fim de dar continuidade ao seu elemento diferenciador e, ao mesmo tempo, apregoando o discurso da unificação e universalização da educação. Discurso este que, em uma sociedade capitalista, onde os meios de produção, inclusive o conhecimento[,] são propriedade privada, quanto muito pode proporcionar uma educação mercantilizada, excludente e diferencial". Amelia Hamze: "Proporcionar a qualidade de ensino e a gestão democrática da escola levaria a invalidação da sustentação do poder amparada pelo estado capitalista".

Essas teses, como de costume, são apenas frutos da verborragia dos "pesquisadores" que as produzem. Não vêm embasadas por nenhuma tentativa de comprovação quantitativa – até porque a maioria de seus autores se confunde com qualquer operação matemática ou estatística que requeira sofisticação maior do que calcular o troco do táxi e costuma, convenientemente, mascarar essas deficiências sob um discurso ideológico segundo o qual a própria quantificação, do que quer que seja, seria uma vitória da superestrutura neoliberal, mercantilista. É pena, porque essa teoria – de que o capitalismo requer a falta de educação, ou a educação de baixa qualidade – é facilmente conversível em uma hipótese testável. Se esses pensadores estiverem certos, espera-se que os países mais capitalistas sejam aqueles com os piores e mais excludentes sistemas educacionais, enquanto aqueles em que o capitalismo não conseguiu estender seus tentáculos malévolos deveriam ter populações formadas por cidadãos altamente instruídos e intelectualizados.

Em realidade, o que ocorre é exatamente o oposto: quanto mais capitalista o país, melhor e mais abrangente é o seu sistema educacional. Cruzei os dados referentes a educação e capitalismo de 167 países. Usando o instrumento da estatística de regressão, descobre-se que o desempenho educacional explica, por si só, 47% da posição de um país na escala do capitalismo. A relação é estatisticamente fortíssima: a probabilidade que a percebida ligação entre as duas variáveis seja fruto de erro é inferior a 0,00000001%. Essa robustez não é casual: indica que o sistema capitalista exige sociedades com alto nível educacional, e, quanto mais instruída é a população, mais capitalista o país tende a ser, e vice-versa.

Por que no Brasil ainda se acredita no oposto? É a junção do mofo intelectual com a vigarice. Marx já cometia erros de interpretação da realidade quando escrevia seu Manifesto Comunista e O Capital, há 150 anos. O que se aplicava àquela realidade histórica, porém, não se aplica à nossa – o capitalismo mudou, e muito, neste século e meio. O período do início da Revolução Industrial era, sim, uma época em que a competência necessária ao trabalhador era mínima e sua jornada de trabalho era desumana. Para apertar parafusos em uma linha de montagem esfumaçada por dezesseis ou vinte horas por dia, em repetição incessante, era apenas necessário alguém que soubesse ler, se tanto. O capitalismo do século XXI, porém, é outro. O conjunto de habilidades e conhecimentos necessários é muito maior – até para trabalhar em uma linha de montagem de uma fábrica é preciso capacidade analítica para lidar com um maquinário cada vez mais sofisticado. E, quanto mais capitalista e desenvolvido um país se torna, mais diminui a importância das áreas fabril e de produção de commodities e aumenta o peso de setores de serviço e de alta tecnologia, em que o principal insumo é o cérebro das pessoas. Não é por acaso que alguns campeões do capitalismo, como Coréia do Sul e Estados Unidos, hoje se aproximam da massificação da matrícula de ensino universitário, com taxas beirando os 90%. O profissional de sucesso do mercado internacional de hoje é a antítese do proletário da Inglaterra de Marx: precisa ser altamente capacitado em sua área e, ao mesmo tempo, ter uma formação multidisciplinar e abrangente. Enquanto isso, nossos pensadores continuam recebendo soldo dos nossos impostos para suas análises em que até hoje, quase vinte anos depois da falência do socialismo, tentam mostrar como Marx tinha razão. A essa incapacidade de alguns, soma-se o oportunismo de muitos. Esse tipo de análise reverbera no professorado porque o seu corolário é simples: o insucesso educacional é resultado de uma sociedade corrompida pelo capitalismo. Eu quero ensinar, mas a superestrutura não me permite. A única maneira de produzir uma mudança efetiva na educação é através da revolução social, e acreditar que o esforço individual de um professor ou diretor pode fazer qualquer diferença diante de forças sociais e históricas tão poderosas já seria uma rendição ao espírito atomista, ilusório, que é a marca do capitalismo. A falência intelectual pavimenta o caminho do conformismo e cinismo de cada um.

Essa prisão mental em que nos encontramos acaba por prender em amarras o próprio país. Esperando pela revolução social, abandonamos a possibilidade da revolução mais maravilhosa que existe: a que se dá pelo conhecimento. Silenciosa e pacífica, é a verdadeira redentora: perto de dominar a eternidade representada pelo saber, desapropriar uma fábrica ou fazenda parece brincadeira de criança.

E essa é uma revolução em que não há perdedores. Todos os setores se beneficiam de uma população mais instruída. Em um mundo globalizado, a idéia de que a elite gostaria de confinar a população à ignorância para não ver sua posição ameaçada é fajuta. Se o empresário não tiver trabalhadores competentes, será destruído pela competição das empresas de outros países, com gente qualificada. Só há, estranhamente, um único tipo de organização, que eu saiba, que se beneficie de uma população iletrada: são os partidos de esquerda. Nas últimas eleições presidenciais, segundo o Datafolha, Lula só perdeu em um grupo: o dos eleitores com ensino superior. Entre eles, em pesquisa de 17 de outubro – doze dias antes da eleição, portanto – Lula tinha 40% das preferências, contra 50% de Alckmin. Felizmente, para ele, a maioria de nossa população só tem ensino fundamental, grupo em que o petista liderava por 57% a 28%.

2.6.08

Thelonious Monk In Berlin 1973

fabianescas

1 - Ficar muito, mas muito feliz mesmo, com o sorriso até a nuca, por ter descoberto - em um domingo gelado e depois de meio quilo de jujuba - que Feuerbach também fez uso da lei de Haeckel (a ontogênese repete invariavelmente as etapas da filogênese).

2 - Abrir uma Fanta Mundo Tailândia pra comemorar.