11.7.07

Nóis é nóis

Há algumas semanas, no meio de uma conversa via chat com uma professora de Geografia (se não me engano), fui dizer o óbvio sobre as greves e paralizações das universidades paulistas, ou seja: a) que a questão era puramente política e b) que os pobrezinhos eram massa de manobra dos partidos de esquerda (PT, PC do B, PSTU e adjacências).

A garota não concordava com minha colocação acreditando ser aquilo algo sem fundamento. Questionou-me sem dúvidas: onde você leu isso? Que tipo de coisas você lê? Resposta da questão 1: ora, todo mundo havia noticiado. Até o Correio Popular se atreveu a escrever cerca de 3 matérias sobre o assunto, indicando de quais partidos vinham as novas lideranças estudantis e o enfraquecimento da UNE, que segundo os revoltadinhos do Sucrilhos, tinha perdido a força de ação por estar mancomunada com o governo Lula.

É claro que eu poderia ter dito que conhecia muito bem a coisa porque havia estudado no antro dos cabelos rebeldes. Que sabia muito bem como tudo se configurava dentro dos Centros Acadêmicos, com seus estudantes-políticos profissionais que foram meus veteranos (não de curso, mas de Instituto) e ainda estão lá, de boina e camiseta vermelha, querendo fazer a revolução.

A resposta à questão 2 pode ser dada de duas maneiras: a) quais autores leio ou quais jornais ou revistas leio. Bem, sobre os autores, quem me conhece sabe: leio essencialmente Hobbes, Nietzsche e Freud. Isto tem um motivo sim, e que J.S Mill resumiu assim em seu Sistema de Lógica: "Os seres humanos na sociedade não têm propriedades senão as derivadas das leis da natureza do homem individual, e que se podem realizar em termos destas". Isto quer dizer que para falar sobre política e sociedade é necessário antes dizer sobre qual é o homem que compõe estas instituições. O que vem fora disso não me interessa. É claro que leio e li dezenas de autores. Que leio quase tudo que cai em minhas mãos. E adiantando as coisas, fiz duas matérias sobre Marx na faculdade: 8 e 10. Média 9. Aposto com quem quizer que 99% da galera vermelha não chega aos 5.

Passemos agora para segunda possibilidade de resposta: leio de tudo - jornal de bairro, encarte de geladeira, bula de remédio. Mas pensando melhor na questão da garota lembrei-me de uma comunidade do Orkut onde se vê: Leu na Veja, azar o seu. A imagem que acompanha o texto é a de um burro lendo Veja. E aí eu me pergunto: por que tanto ódio?

Alguém aí sabe me dizer qual foi a revista que publicou a reportagem na qual o irmão Pedro denunciava Collor? Ah, a Veja. E aí a Veja era de esquerda ou de direita? Hein? Outra pergunta: qual foi a revista que melhor cobriu os casos absurdos do mensalão e trouxe à tona os desmandos de Palloci, de Dirceu, de Gushiken? Hein? Algum dos descortinados amigos do presidente conseguiu se defender? Aqui a Veja era de direita ou esquerda? A melhor resposta para a pergunta: nem um nem outro, ora. A questão é que os "nossos" ladrões são boas pessoas e não se pode falar mal deles.

Quero deixar bem claro que não defendo Veja aqui. Que interesse teria? Não sou dono, não sou funcionário. Mas é necessário um pouco de perspectiva histórica e lógica, coisa na qual somos péssimos. Querem ver? Olha só a Caros Amigos:

Agora, que estamos sendo demitidos em massa, o que acontecerá com esses alunos? O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley já chegou e não foi necessário o uso da genética. Bastaram algumas gestões do PSDB para que uma geração inteira de jovens se transforme em profissionais-gama com diplomas de terceira categoria. Assim, os ricos continuarão cada vez mais ricos e os pobres agora têm sua ignorância reconhecida e sustentada por diplomas universitários assinados e reconhecidos pelo MEC.

Este texto diz respeito à dispensa por conta das faculdades particulares de mestres e doutores. Do ensino de baixa qualidade que elas oferecem. Do futuro dos alunos que estudam nestes lugares. Vamos analisar o texto: bastaram algumas gestões do PSDB para que uma geração inteira de jovens... com diploma de terceira categoria.

Agora vamos colocar os olhos para fora e pensar: foi mesmo o PSDB que fez isso? O verdadeiro culpado? O PT governa há quase dois mandatos e o que foi feito? Nada? Claro que não: foi criado o PROUNI. E o que faz o PROUNI? Financia estas faculdades, paga-lhes prestações para que o ensino criticado (com razão) se mantenha e venha a florescer ainda mais. E então cara pálida?

Na mesma edição Ricardo Antunes diz que a Venezuela é a maior democracia da América Latina, e há ainda uma entrevista imperdível com o neto do Trótski. Preciso comentar? Ah, e sabem quem escreve o último artigo da revista: Emir Sader. (por favor, sem risos)

Mas eu leio assim mesmo: leio Caros Amigos, Carta Capital, Veja, Caras, Super-Interessante, Folha, Estadão, Correio, frasco de desodorante, pote de margarina, embalagem de bolacha...

P.S - A melhor revista brasileira sobre as questões políticas e sociais foi a Primeira Leitura, que fechou por falta de patrocínio.

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Somos pouco lógicos e não queremos saber de história, mas somos tão criativos que inventamos o cheque pré-datado, uma UNE que não é presidida por um estudante e as ONGG´s, Organizações Não-Governamentais Governamentais.

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Estava me lembrando do caso Collor e das questões que permearam o afastamento: quem pagou a reforma na casa da Dinda? Quem comprou o FIAT Elba?

Mal sabíamos o que viria. E olha que engraçado: o Collor foi afastado e o Lula não.

Isto gera uma enquete:

Quando fomos mais jecas?

( ) Naquela época?
( ) Agora?

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