19.10.06

Aqualogia I

N U V E M

D
E

G
O
T
A

E
M

G
O
T
A

ENXURRADARIO
FALTADESEDEBRINCADEIRABANHO

P
A
R
A

A
S

G
O
T
A
S

QUE

RESTAM

O C E A N O

18.10.06

Coisas

Preleções à Ética Divinesca
Primeiro Cantoração

Ferrolhas lâmpadas incandescentes
Saltando afora da vagina multicircular
Pasmada pelo choque errol-methenyiano
Que com baquetas tocaram-lhe carinhosamente
O complementar ânus vegeto e semiverde
Causando-lhe prazerosas constrições de chacoalho
À medida que pesapoderosos carros atravessam
As vias gerando agito trepido à lépida trepadolha.

A conectura elétrica da lâmpada
Cocegando como se dentro da
Boceta fechada a sêmen-de-contato
Possível fosse abandono da prenha
Centopéia agitada a passadas curtas que
Jamais voltaria a rever néonbregadeputeiro
Ou moleques famintos de sinaleiros ou rimas
Que não dizem a que vieram a rins alugados
Necroses e tetas de vacas parindo leiteritema
Para amanhã cedo pós charuto pustulento.

boa noite mamãe boa noite papai boa noite papai do céu amém



Segundo Cantoração


Apreciai as colunas similiformes.
Agradecei à beleza das eqüidades
E das impessoais doações de
Excessivas claridades bondosumanas.

Observai pássaros divinizadores
Sussurrando o verbo do bem-aventurado
Futuro sobrevoando de modo
Arquejante auréolas cranianas.

Agradecei e lembrai e pensai
Sobre o verme no interior
Do pássaro.

Emnomedopaifilhodatrepadorapombabrancamém



Terceiro Cantoração


Espremeduras de fezes cantarolando
Pseudointelectocanções avermelhadas
No embalejante instrumentalizar
Do violinista caolho e agora ventríloco
Colóstomosingers ou os omd amer da
No programadeaumictório do sábado
À tarde não perca mais aberratrações
Engraçadelhosas no próximo dia.

O homemacriançaamulher
Família formante do balletcancróide
E a satisfagarantida do outro lado
Da tela com as moscas do lado de
Fora que nadamaisé que teto e parede
E frestas de minh´alma cacarejante de
Pensar no menino comendocudegalinhashow.
P.S – Caipira, claro.

Papai do céu proteja todos os meus amigos amém


Interlúdico



Mesmo se pudesse realizar
Todas as vontades a que tenho
Dado o nome de sonhos,
Ainda sentiria náuseas do
Cansaço de estar sonhando.



Quarto Cantoração


Pólipos policiassassinos
Estrangulandoas putas munição
Na boca de crianças e sanguessugas
De escritório escritas strippers tripas
No corredor de ônibus pobrejos malcheirosos
Recriando nordestinamente a cidade arte
À la pixopichadoentescerebelais.

Chuva lavando sangue hic et nunc e
Chavébrios de mentalodosos baréticos
Pela madrugada inssossana e a urbe pletora
De continuências acidentórias e asfálticas
O que se verá na manhã cagada pelo
Peristaltioso universo humanobrado onde
Em manhãs de domenica putas oram enquanto
Freiras recolhem o viril metal por conta da nova
Diversão que começa.

Boa noite irmãzinha irmãozinho bichinhos amém


Quinto Cantoração
ou
Dísticos quasiversinhoanglosaxão de inspiração nietzschidéciopivaniana a serem reiterados a cada refedefecção.


Em construção...




God is dead,

But his flesh still smelling mad.




Adeus mamãe adeus papai adeus papai do céu do seu menininho amém



B


M A D

S


UP SET

16.10.06

Eu apertei a mão do poeta

Textinho do Click:

Sim, eu também tenho ídolos. Todos nós os temos. A maioria dos meus escrevem ou escreviam.

Na semana passada, eu apertei a mão de um deles e me senti novamente criança: apertando a mão do Papai Noel, achando os ovos de páscoa, um passo acima da realidade, no mundo da fantasia, na lua.

os fios telegráficos simplificam as enchentes e as secas
os telefones anunciam a dissolução de todas as coisas
a paisagem racha-se de encontro com as almas

Pois bem, ele estava lá, bem na minha frente, lendo suas poesias. Dizendo seus textos, fazendo suas divagações, sendo sarcástico consigo mesmo.

O poeta tem 68 anos, sofre de Mal de Parkinson, mas não perde a fala potente, a língua construtora.

o vento sul sopra contra a solidão das janelas e as gaiolas de carne crua
Eu abro os braços para as cinzentas alamedas de São Paulo
e como um escravo vou medindo a vacilante música das flâmulas


Eu, como um aluno aplicado, levei os meus livros e acompanhei as leituras com o poeta. Descobri coisas novas em palavras que havia lido cem vezes. Nas fotos que havia olhado umas dez. Novas revelações que eu via como quem vê pela primeira vez um acrobata.

e um milhão de vaga-lumes trazendo estranhas tatuagens no ventre
se despedaçam contra os ninhos da Eternidade

O encontro estava próximo do fim. O que eu faria depois? Será que o poeta maldito, que sabia muito de filosofia, muito de história, muito de literatura, receberia alguém? Daria autógrafos? Algumas pessoas se dirigiram à mesa. Eu fui atrás.

minha vertigem entornando a alma violentamente por uma rua estranha
os insetos as nuvens costuram o espaço avermelhado de um céu sem dentes

O poeta visionário, louco, era um senhor doce, tranqüilo, que trazia carimbos para os autógrafos.

Pegou o meu livro e disse – Ah, você gosta de Paranóia é... – e eu – Poxa, é uma referência pra mim, uma paixão - ou seja, aquela fala inútil de fã.

E ele - Eu tinha 22 anos nesta época. Eu era bonito, né? Agora virei este caco.

O poeta colocou os carimbos, assinou com a mão trêmula.

Eu disse – Olha, eu trouxe uns poemas que escrevi pensando na sua obra, mas não sei se tenho cópias em casa.

Ele pegou os papéis, escreveu um endereço e falou – Mande pra cá, pra minha casa. Devolveu pra alguém uma caneta que havia emprestado, virou-se pra mim e perguntou - Qual o seu nome? Eu respondi.

Ele estendeu a mão e me disse – Muito prazer.

Que novo pensamento, que sonho sai de tua fronte noturna?
É noite. E tudo é noite.


E eu fui embora com meus presentes. Com minhas novas lembranças de criança. Divagando.

Eu havia apertado a mão do poeta. A mão que havia produzido sonhos que eu adorava ter.

Estranho, isto me fez produzir lembranças do tipo das que eu não deveria mais guardar na minha idade. Lembranças que de tão doces parecem carinhos de avó.

Onde exercitas os músculos de tua alma, agora?
Aviões iluminados dividem a noite em dois pedaços
Eu apalpo teu livro onde estrelas se refletem
Como numa lagoa


Eu também tenho ídolos.

15.10.06

Sem maiores comentários.
Da série coisas que têm que calar pra depois oxalá virarem futuro.
Boa viagem.

Estudos para uma bailadora andaluza

Dir-se-ia, quando aparece
dançando por siguiryas,
que com a imagem do fogo
inteira se idenifica.

Todos os gestos do fogo
que então possui dir-se-ia:
gestos da folha do fogo,
de seu cabelo, sua língua:

gestos do corpo do fogo,
de sua carne em agonia,
carne de fogo, só nervos,
carne toda em carne viva.

Então o caráter do fogo
nela também se adivinha:
mesmo gosto dos extremos,
de natureza faminta,

gosto de chegar ao fim
do que dele se aproxima,
gosto de chegar-se ao fim,
de atingir a própria cinza.

Porém a imagem do fogo
é num ponto desmentida:
que o fogo não é capaz
como ela é, nas siguiryas,

de arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca,
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,

que somente ela é capaz
de acender-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incediar-se sozinha.