Quanto mais está a vida de um homem governada por acidentes, mais aumenta neste a superstição.
Hume, em sua História natural da religião, 1757
Antes que vocês comecem a ler de verdade este post chora-pitangas, é de bom senso que coloquem à frente do monitor: uma edição do Corão, uma da Bíblia, patuás - todos os possíveis, alho, uma cruz, imagens de santos e um copo com água e sal grosso. O último será particularmente necessário no final do processo.
Feito isso - e espero que vocês tenham feito mesmo já que é para o bem de todos, posso começar a saga sem correr o risco de ser acusado do que seja. Vamos lá.
Vocês já ouviram falar de inferno astral? Pois é: eu nunca havia fornecido a devida atenção a este negócio, considerado o seu possível valor, imaginado que seria por ele atingido.
Misifios à parte, sempre fui muito bem provido daquilo que Freud chamou de princípio de realidade, o que me impediu por toda vida de acreditar em coisas esotéricas e/ ou exotéricas, no próprio Freud ou mesmo em minha mãe.
Pois bem: agora tudo mudou. Uma enxurrada de acontecimentos desabados nos últimos dias está me fazendo mudar de idéia. Fatos perversos e estranhos estão fazendo com que estabeleça um novo padrão interpretativo da natureza. Universal do Reino de Deus, Universo em Desencanto, Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Lugbara, Universo para Cristo, Bushongo e Lotuko: aí vou eu.
Mas vamos ao fatos dramáticos para que vocês também deixem de nutrir dúvidas sobre o funcionamento cósmico.
Nos últimos 30 dias eu: a) fui acometido por duas cólicas renais, b) tive um balaco-baco com uma pessoa que eu amo de verdade e que me deixou muito, mas muito triste, c) perdi um casamento - deixei de me casar com uma moça legal que eu conheci, coisa com a qual não me conformo até agora e que também me chateou demais, d) estou com uma inflamação na região da mandíbula o que me causou dor, febre e o apelido semanal de Kiko.
OK. OK. Eu sou exagerado, não é? Essas coisas acontecem com todo mundo. Tentei manter um padrão mínimo de sanidade pensando desta forma, mas isto até me deparar com um evento há cerca de 40 minutos. Vejam bem, notem bem e acreditem: não foi delírio ou alucinação - foi um sinal. Só pode ter sido isso - um sinal. Eu eu entendi.
Estava caminhando em direção à minha casa quando notei que uma pomba passava sobre mim, numa velocidade considerável e a cerca de 4 metros de altura. Tão logo percebi o fato, notei que uma outra havia acabado de sair voando de um telhado que estava por volta de 20 metros à frente. E o aconteceu? Sim, meus caros: elas bateram, colidiram, deram um encontrão. Póf... e as pobres caíram estateladas.
Foi o evento mais nonsense ao qual já tive acesso. Tá, eu aceito: afora certa vez em que um sujeito cruzou a Alberto Sarmento correndo atrás de uma roda de carro, que descia rolando em direção ao centro, às 5h30 da manhã, enquanto eu e Emerson tomávamos a última cerveja do dia.
Acontece que nesta época nada mais havia acontecido de estranho ou ruim. Nesta época eu era um sujeito em paz, não afetado por sortilégios cosmogônicos e que, por isso, podia manter a capa bem costurada pela Aufklärung.
Hoje fui iluminado de outra forma. Agora eu sei tudo. Neste momento acredito mesmo que o tal do inferno astral exista, que ele me afetou e afeta, e mais: que posso causar mal às pessoas-coisas-animais que me cercam.
Por isso escrevo este post de dentro do guarda-roupa. Por isso peço a vocês que, após lerem isso, façam uso da água com sal grosso que está aí ao lado, e lavem as mãos.
Torçam para que mais nada, pelamor, aconteça até segunda.
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