19.12.08

Idiossincrasias simbólicas

Em minha relação estranha com algumas palavras - relação esta que todos acabamos por ter -, gosto particularmente de dois momentos.

O primeiro é a ligação indestrutiva que se realiza entre os termos rúcula e ridícula. Sempre que ouço ou falo sobre um deles me vem o outro em mente. Não sei como mudar isso. O resultado é o seguinte: os pés de rúcula me parecem sempre esdrúxulos, dando a sensação de que acabaram de fazer algo imbecil, e, em contrapartida, toda vez que penso ou vejo uma pessoa que classifico como ridícula a enxergo encoberta por uma espécie de invólucro em tom esverdeado, assim como me parece de pronto que ela possui um sabor um tanto amargo, mas que eu gosto.

Salada de pessoas ridículas, rúculas circulando por aí.

A segunda coisa está ligada àquela canção do Gilberto Gil que era tema do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Naquele momento em que ele diz "o sol nascente é tão belo" eu entendia - e ainda entendo - "o sol nascente à tobello". Eu acho essa palavra linda: tobello! Uma das mais bonitas que eu conheço. E o que é tobello? Como eu delirei para resolver isso? Ué: tobello é um tipo, um gênero. Bife à milanesa, pizza à portuguesa, sol nascente à tobello. Óbvio.

Mais tarde, para reforçar a minha relação estranha, aprendi que o poente, em italiano, é chamado de "tramonto" - l'ora del tramonto. Perfeito: o nascente é tobello, o poente é tramonto. L'ora del tobello.

Considerando tudo posso concluir que: duas rúculas comendo uma pizza de rídiculas é algo possível e que pode ser ainda mais prazeroso se feito, com bastante riso, no nascente à tobello.

A linguagem é um instabilíssimo parque de diversões.

Um comentário:

Lélia Campos disse...

Achei que isso só acontecesse na leliolândia... rs...