Todo início leva consigo o destrambelhamento. Os primeiros passos, as primeiras transas, os primeiros picolés, as primeiras palavras: em todos os começos o ritmo descompassado, o tropeço, a falseadura e a falta de jeito irão, inadvertidamente, dar as caras. Faz pouco e erra, faz demais e ultrapassa. Lacunas e excessos sem que haja a mínima idéia do que seja o meio.
É interessante e, porque não, divertido, notar como esse atrapalhamento é capaz de surgir nos lugares mais abstrusos. No homem tímido que começa a falar e mais preocupado com o "estar a" do que com qualquer outra coisa desacerta em tudo: interlocutor, volume e conteúdo. Na menina que começa a se pintar e pavoneia o que nela poderia haver de encantamento. Na mulher que acredita ser chegada a hora do relumbramento e exagera.
Há uma destas transmutações que me acossa: a da passagem, a partir de qualquer pólo original, do apolíneo ao dionisíaco, da moderação ao excesso. Tudo que há ao redor e por dentro parece muitas das vezes pendular por estas pontas. Eu quero, eu posso seguir sem riscos para o outro lado: o dos exagerados, o dos festivos, e abandonar meu posto de basbaque. No inverso: então eu posso sim me mudar em ser observador, em ser do canto, em admirador longínquo.
Mas quais cacos surgem na passagem, quais gafes são inerentes à tentativa de mudança ou ao simples reconhecimento do outro lado?
De sophrosyne a hybris ando me atrapalhando. De um a outro cometo ridiculices e me estranho - e incomodo com minha falta jeito.
Até quando?
Até o equilíbrio, não é? - penso a borbotões na tentativa de substituir meu jeito monótono por lufadas. - Hummm..., com esta resposta fica claro que voltou ao começo de onde, é provável, sequer saiu, não é? - diz com seu riso preso o lado direito de meu cérebro descaído.
Ao lado esquerdo diminuto não é permitido sequer o esboço de uma risada.
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