Conheci você naquele aniversário anos 60, amigo da Carla.
Fiquei bastante comovido com seu texto dedicado à Flávia. Principalmente quando você toca na questão do efêmero.
Vezenquando, penso que nossas escolhas são feitas dentro de uma crença ilusória da eternidade. Exigimos o eterno do perecível, loucos que somos. Escolhemos pessoas que mal existem e não aquelas que existem com delicado cuidado.
Não há ponte entre o que foi e o que não era. A memória falha. Sei que é difícil abandonar os limites do corpo sem premir o seio amigo. Necessário então invocar os deuses e as almas saídas da cidade. Caso contrário quem deterá O curso do rio Trácio: Orfeu depondo num inquérito ou Ofélia carregando um séquito de imagens? E no entanto e no entanto esta inexplicável solidão sobre as ex- tensões dos ares e o absurdo soluço dos que não chegam nenhum adeus Em nenhuma imagem Em nenhum poema.
Quando e quando vamos introduzir sob a face neutra da palavra O fôlego de um atleta e a direção de qualquer caminho?
As pessoas falam e por trás do que dizem há o que se sente e não se mostra nunca. A palavra é tudo o que se tem, a única forma de penetrar no universo alheio. Porque então as pessoas dizem aquilo que sabem que nunca irão cumprir?
Porque não se pesa o que de fato é uma passagem e o que é raíz em nossas vidas?
E quem disse que era pra dar certo?! Temos, nessa vida, um monte de caminhos. Uns mais "certos" e outros mais "errados". Alguns escolhem os primeiros, outros os segundos. E vão vivendo. E vão comparando suas vidas com as alheias. E o tempo vai passando. Então as vidas começam a tomar rumos diferentes, os resultados das escolhas começam a aparecer, a curto prazo, a longo prazo.
Inevitavelmente, um dia, os que escolheram a vida "certa" irão olhar para os que escolheram a vida "errada" e terão seu momento de glória: verão que aqueles que escolheram esta forma de viver se deram mal. Ou não. Já estarão cegos e nada mais será visto, o passado já será pequeno e distante demais.
Estão pobres, e / ou com o fígado baleado, e/ ou o pulmão encardido, e / ou HIV no sangue, e / ou com alguma passagem policial e /ou e / ou e /ou...
Estarão envelhecidos antes do tempo, sem plano de previdência privada, solteiros, uns filhos espalhados pelo mundo, e um currículo apenas com coisas como uso de drogas e amnésias lacunares.
Isso se já não estiverem mortos. (Melhor ainda...)
Dará tudo errado.
Mas...
E quem disse que era pra dar certo?!
Já a vida confusa... A vida confusa não é para dar certo! O que ninguém entende é isto. Às vezes, nem mesmo quem leva a vida assim. Torcem, no fundo, para que dê certo. Esqueça! Vai dar tudo errado, uma hora ou outra.
Não dará certo porque o objetivo não é este. Não há objetivo! Não há "futuro". Não há "terceira idade". Não há um depois.
É agora, e é assim. Não sei. Seu texto me fez pensar. Divaguei demais. Desculpe por esse lixo todo.
2 comentários:
Estou velejando por seus textos.
Conheci você naquele aniversário anos 60, amigo da Carla.
Fiquei bastante comovido com seu texto dedicado à Flávia. Principalmente quando você toca na questão do efêmero.
Vezenquando, penso que nossas escolhas são feitas dentro de uma crença ilusória da eternidade. Exigimos o eterno do perecível, loucos que somos. Escolhemos pessoas que mal existem e não aquelas que existem com delicado cuidado.
Não há ponte entre o que foi
e o que não era. A memória falha.
Sei que é difícil abandonar os limites do corpo sem premir o seio amigo. Necessário então invocar os deuses e as almas saídas da cidade. Caso contrário quem deterá
O curso do rio Trácio: Orfeu depondo num inquérito ou Ofélia carregando um séquito de imagens?
E no entanto e no entanto esta inexplicável solidão sobre as ex-
tensões dos ares e o absurdo soluço dos que não chegam
nenhum adeus
Em nenhuma imagem
Em nenhum poema.
Quando e quando vamos introduzir sob a face neutra da palavra
O fôlego de um atleta e a direção de qualquer caminho?
As pessoas falam e por trás do que dizem há o que se sente e não se mostra nunca. A palavra é tudo o que se tem, a única forma de penetrar no universo alheio. Porque então as pessoas dizem aquilo que sabem que nunca irão cumprir?
Porque não se pesa o que de fato é uma passagem e o que é raíz em nossas vidas?
E quem disse que era pra dar certo?! Temos, nessa vida, um monte de caminhos. Uns mais "certos" e outros mais "errados". Alguns escolhem os primeiros, outros os segundos. E vão vivendo. E vão comparando suas vidas com as alheias. E o tempo vai passando. Então as vidas começam a tomar rumos diferentes, os resultados das escolhas começam a aparecer, a curto prazo, a longo prazo.
Inevitavelmente, um dia, os que escolheram a vida "certa" irão olhar para os que escolheram a vida "errada" e terão seu momento de glória: verão que aqueles que escolheram esta forma de viver se deram mal. Ou não. Já estarão cegos e nada mais será visto, o passado já será pequeno e distante demais.
Estão pobres, e / ou com o fígado baleado, e/ ou o pulmão encardido, e / ou HIV no sangue, e / ou com alguma passagem policial e /ou e / ou e /ou...
Estarão envelhecidos antes do tempo, sem plano de previdência privada, solteiros, uns filhos espalhados pelo mundo, e um currículo apenas com coisas como uso de drogas e amnésias lacunares.
Isso se já não estiverem mortos. (Melhor ainda...)
Dará tudo errado.
Mas...
E quem disse que era pra dar certo?!
Já a vida confusa... A vida confusa não é para dar certo! O que ninguém entende é isto. Às vezes, nem mesmo quem leva a vida assim. Torcem, no fundo, para que dê certo. Esqueça! Vai dar tudo errado, uma hora ou outra.
Não dará certo porque o objetivo não é este. Não há objetivo! Não há "futuro". Não há "terceira idade". Não há um depois.
É agora, e é assim.
Não sei. Seu texto me fez pensar. Divaguei demais. Desculpe por esse lixo todo.
Abraços,
Tiago
P.S. rendelli@gmail.com
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