18.1.07

Como e drumo

Cheguei.

Parafusos devidamente postos no lugar, estou pronto para falar um pouco sobre aqueles que não os têm.

Existe um quiprocó de 14 páginas em um site por aí do qual eu preciso falar mal, e então eu resolvi emprestar um trechinho, um pedacinho apenas, porque é este que conta a hipótese, ou seja, é ele que movimenta o quiprocó.

Dêem uma olhada na situação:

O modelo de organização social padrão nas cidades está esgotado, insatisfatório como habitat ou ecossistema humano, manifestando-se em distúrbios sociais, quais sejam: violência, aética, desemprego, desabrigo, inchaço populacional, epidemias, dentre outros, e na dicotomia entre a veloz evolução tecnológica e a superlativa desigualdade social, perpetuada por um interesse soberano.

Alguém aí consegue me dizer por onde começar?

Olha só: já li Kant, já li Hegel, já li Nietzsche, já li Aristóteles, até o tonto do Marx já li e nenhum deles conseguiu fazer tamanha confusão. Isto me inclina a crer que este negócio não passa de um poema dadaísta, daqueles de jogar as palavras no saco, ir tirando e montando o dito. Um poema feito por pré-adolescentes, por tem aquela coisa ali de soberano, e poder soberano é coisa de pré-adolescente.

Sim, lembram-se de quando a gente achava que havia um poder soberano e maldoso? Na minha época a gente o chamava de sociedade ou de sistema - Porque a sociedade não aceita este pensamento!!!; ou - O sistema está acabando com o homem, o sistema não perdoa.

Lembram-se disto? Fernando Pessoa chama isto de infância do pensamento. Eu assino em baixo.

Mas voltando ao texto em si, vamos fazer algo que deixa a coisa mais engraçada: vamos desmontar as orações coordenadas. Olhem só como fica:

O modelo de organização social padrão nas cidades está esgotado, insatisfatório como habitat ou ecossistema humano, manifestando-se na dicotomia entre a veloz evolução tecnológica e a superlativa desigualdade social, perpetuada por um interesse soberano.

Muito interessante não? Quer dizer que o fato de as cidades se tornarem lugares inabitáveis é o mote pela dicotomia entre evolução tecnológica e desigualdade social?

Meu Deus do céu, perdoai as criancinhas.

Fazer ligação entre a organização social padrão e a tal dicotomia é obviamente impossível, coisa de louco, agora, na segunda parte da coisa, quiseram dizer que o desenvolvimento de novas técnicas tornam obsoletos os que não sabem manejá-las. Não foi isso?
E que isto causa desigualdade social. Não foi isso?

Hummm, não será um problema de políticas educacionais a de não inclusão de trabalhadores em setores que exijam novos saberes?

Ah, é aí que entra o soberano? E agora é dar um soco no ar, fazer cara de gênio e soltar um huhu, Nossa Senhora, com eu sou foda!!!

Sabem o que isto me lembra? Quando há uns dez anos atrás, alguns setores (que nós sabemos quais são) não queriam que o Brasil abrisse as fronteiras para a importação.
Você já pensaram no que seríamos hoje?
Este mesmo povo também não queria que as teles fossem privatizadas.

Sabe como este texto chegaria até vocês se a coisa fosse da forma como eles queriam?

Eu arrumaria um mimeógrafo, compraria 58 litros de álcool, 50 folhas de estêncil e 400 de sulfite, ficaria 10 dias rodando este negócio e depois mandaria pra vocês pelo correio.

Não seria ótimo? Imaginem em que situação o país estaria.

Pois bem, é o mesmo pensamento que "talvez", bem "talvez" mesmo, esteja ali.

Então que se refaçam as carroças, os carros de boi, joguem os micros fora, reponham os telefones pretos de um quilo, e faça-mos a revolução, a revolução da inclusão. Ou melhor, a involução. Quem sabe, daqui a uns 20 anos, não cheguemos na revolução industrial?

Nossa, é não ter uma idéia minimamente próxima da complexidade das questões. Triste, triste demais pra quem emite pareceres sobre a inteligência alheia. Aliás, é só este tipo de gente que é capaz de fazer isto.

Volto amanhã porque agora eu estou cansado. O sossega leão já desceu pela güela, e há perigo de eu sentar a testa na barra de espaço.

Só mais um aviso: volto pra falar mais do quiprocó de cabeça vermela e ornamentos de joaninha.

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Mais uma coisa, a última: estou ouvindo Vocalise, do Rachmaninoff. Se ouvesse naquele época esta história toda de plágio, As rosas não falam não existiria, e o Cartola não teria pulado tantos carnavais à solta.

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Beijos carinhosos demais da conta pra besta...

Um comentário:

Anônimo disse...

Por incrível que pareça, cada dia mais...