Houve uma coisa nesta semana que me incomodou um tanto. Um tantão, na verdade, eu diria.
Tratou-se uma entrevista concedida pelo Ziraldo a um jornal de Campinas. O figura havia aparecido por aqui a fim de participar de um projeto sobre leitura, e resolveu doar um pouco do seu pensamento torto para a galera provinciana. Lá pelas tantas, o cabeça de capacete de algodão soltou a seguinte pérola: "O Maurício de Sousa ganha mais dinheiro do que eu porque ele é mais antigo e menos ideológico do eu".
Sobre a questão do "mais antigo" eu sinceramente não entendi, e na verdade não me preocupa o que ele quis dizer com isso. O que me chamou a atenção foi o resto... Ah, o resto...
Todo mundo aqui sabe que o Ziraldo é o tiozão da esquerda. Aquele povo que só pensa no coletivo, que não liga pra dinheiro, que é aprioristicamente bondoso. Pois bem: só o fato de Ziraldo andar tão preocupado com grana já seria algo - para os desavisados, digamos - esquisito. Mas o irritante aqui é a quantidade de coisas que estão escondidas no "menos ideológico que eu".
Primeiro: o espertalhão faz parecer que é algo menor não ser ideológico, quando na verdade é que isto que se espera, no mínimo, de quem lide com crianças. Ideologia para crianças é crime, apesar de a maioria de nossos educadores - que são da patota - acharem o contrário.
Segundo: foi justamente por ser tão, como ele mesmo disse, ideológico, que Ziraldo ganhou tanto dinheiro, sendo que parte dele saiu de nossos bolsos. Vejamos: Ziraldo é o que é porque participou do Pasquim. Não ponho em dúvida aqui a qualidade de seu trabalho, que se garantia também pela luta que assumiu. E então: ora, se Ziraldo é o que é por conta das coisas que fez contra a ditadura, podemos dizer que, de certa forma, ela não foi lá tão má assim para a sua carreira e, conseqüentemente, para o seu cofre.
E aí vocês podem se irritar comigo e pensar: mas como assim, Fabiano - você exagerou um pouco aqui! Dizer que alguém pode ter se aproveitado do sofrimento de toda uma nação para ganhar com isso? Pois é: e enquanto ganhou dinheiro trabalhando, sem problemas - fez o seu papel. Mas quero lembrar a vocês que em abril deste ano este senhor, que defende com unhas e dentes o seu comunismo, recebeu, dos cofres públicos, R$ 1.000.253,24. Junte a isto o fato de que a partir da mesma data o honorável terá direito também a um salário mensal de R$ 4.376,00. De onde saiu e sairá esse dinheiro? Como já disse acima - repetindo, portanto -, do seu, do nosso bolso, é claro. E por quê? Porque ele se achou prejudicado no exercício de seu trabalho durante os anos de repressão.
No dia em que a coisa foi decidida, o nosso aliciador de menores disse: "Eu quero que morra quem está criticando. Porque é tudo cagão e não botou o dedo na seringa. Enquanto eu estava xingando o Figueiredo e fazendo charge contra todo mundo, eles estavam servindo à ditadura e tomando cafezinho com o Golbery (do Couto e Silva, general, chefe da Casa Civil da Presidência no governo Geisel)".
Entenderam? É isso aí: Ziraldo recebeu uma indenização gigantesca porque pôde trabalhar durante a ditadura. Porque pôde exercer o seu papel. Porque pôde construir seu nome e ganhar muito bem o seu sustento com isso.
Agora pensemos um tanto, neste texto já repleto de dois pontos: o que dá para fazer com 1 milhão de reais e mais 50 mil por ano? Quantas casas se contrói, quanto leitos são atendidos, quantas crianças vão para a escola?
É esse o pensar no coletivo deste povo. É assim que se cria uma classe a que chamamos de burguesia do capital alheio, da qual Lula é seu maior expoente. É assim que ainda se faz graça, criticando quem ganha dinheiro com trabalho correto.
P.S - Por que será que o que Menino Maluquinho gosta de se vestir de Napoleão? Já começo a achar, pelo que disse o criador, que aquela imagem não é tão inofensiva assim. Do que será que Mao, Pol Pot, Pinochet ou Fidel brincavam quando eram crianças?
Um comentário:
Camarada F.
agora só falta vc me dizer que vai de Carlão/Leão!
Amigo, amigo, acho que aquelas nossas cervejas, andam nos fazendo falta...
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