23.9.08

Nós, robôs

Alguns livros e filmes de ficção científica bem interessantes como Blade Runner, I.A - Inteligência Artificial, ou Eu - Robô trazem em seus enredos questões sobre a capacidade de se criar máquinas próximas ao homem, com ações determinadas por níveis bem complexos de pensamento e - o que parece menos plausível - demonstrando emoções ou até mesmo sonhando.

No mundo real, pesquisas com inteligência artificial vêm se desenvolvendo em busca da realização destas possibilidades abertas pelo mundo da ficção. A Filosofia tem participado ativamente deste processo, e isto através de uma área de estudos chamada Filosofia da Mente. Este campo tenta desvendar as relações existentes entre o nosso cérebro (que é um órgão e, portanto, algo físico) e a mente (ou seja, nossos pensamentos, aquilo que nos diz o que somos, o que fazemos ou devemos fazer).

Um dos liames que conectam os caminhos entre a Filosofia da Mente e Inteligência Artificial toma como base a idéia de que, se pudermos compreender fatos sobre como se dá a criação da mente pelo cérebro poderemos, algum dia, reproduzir este processo, criando máquinas como aquelas da ficção científica. Exemplos bem interessantes das questões feitas pela Filosofia da Mente podem ser retiradas de um livro do filósofo americano John Searle, chamado A redescoberta da mente. Vamos hoje a uma delas:

Imagine que seu cérebro comece a degenerar-se de tal forma que, aos poucos, você vai ficando cego. Imagine que os médicos, desesperados... experimentem qualquer método para recuperar sua visão. Como último recurso, tentam implantar circuitos integrados de silício em seu córtex visual. Suponha que... os circuitos integrados devolvam sua visão a seu estado normal. Agora imagine que, para sua maior depressão, seu cérebro continue a degenerar-se, e que os médicos continuem a implantar mais circuitos integrados de silício... no final, podemos imaginar que seu cérebro está inteiramente substituído por circuitos integrados de silício; que, ao balançar a cabeça, você poderá ouvir os circuitos integrados chocalhando por todos os lados dentro do seu crânio.


A questão que aparece no texto do filósofo, aquela considerada de fundo, diz respeito às relações entre a mente e as conexões cerebrais, ou seja, sobre a mente ser ou não apenas uma resultante de funções específicas, não dependendo da completude tanto do aparelho quanto de suas ligações neurais. Uma das possibilidades oferecidas para a sua resposta, e que está demonstrada no texto, é bastante clara: ainda que partes de seu cérebro fossem trocadas por circuitos eletrônicos, você continuaria a ter os mesmos pensamentos, experiências e lembranças que tinha antes das mudanças.

Isto significa que a mente é simplesmente algo configurado por partes de matéria, sendo que estas podem ser substituídas por outras coisas. E mais: que esta substituição, no final das contas, não faria com que fôssemos diferentes.

Bem, considerando as coisas desta maneira, nós poderíamos ser facilmente transformados em espécies de robôs como os dos filmes: parte humanos, parte circuitos eletrônicos.

Mas será mesmo que tudo se passa desta forma, e que porções do cérebro - e conseqüentemente, suas ligações - podem mesmo ser substituídas sem alteração daquilo que chamamos de mente?

Existe, claro, outra possibilidade de resposta para esta pergunta e, por conseguinte, para a questão que está por detrás da construção hipotética colocada pelo filósofo.

É sobre isto, pois, que vou escrever um tanto amanhã, além de outras coisas interessantes sobre a mente e a inteligência artificial.

Inté moçada...

Um comentário:

Anônimo disse...

Aguardo cenas dos próximos capítulos...