A rasidão não é algo que aparece de surpresa. Assim como um balde furado se esvazia, uma piscina se esvazia, uma latrina se esvazia, você também é capaz de esvaziar-se. E mais: assim como os objetos citados, você não tem a mínima consciência de estar a perder algo. A sua, ou a nossa diferença para com os baldes e as piscinas e as latrinas se dá apenas quando a coisa já se perdeu, esvaiu-se, morteceu.
Quando este ponto é chegado, a renitência das coisas diárias força o surgimento de uma consciência que é trazida de fora. O que se exige não encontra onde nadar, se angustia e se bate, bate em você, que sufoca e só então repara.
Só poder reproduzir automatismos é um dos primeiros sinaisintomas da rasidão. Ele não dói, não pode ser percebido comportamentalmente e, portanto, não exige remédios ou terapias.
Já o segundo sinalsintoma da rasidão machuca bastante, muito. É quando ela se torna reflexiva, ou seja, você reconhece com todos os pregos, arames farpados, agulhas, alfinetes e lanças que são inerentes ao reconhecer, que perdeu a manivela do ímpeto.
E o que sou eu sem alavanca? Boçal, é mais do que provável.
Um rato.
Uma semilatrina, um semibalde, uma semipiscina.
A rasidão impede, dentre todas as outras isquemias, que se articule o suficiente sobre ela.
Um comentário:
É isso mesmo...
Perfeito do início ao fim!
Show de bola!
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