- Mas por que você quer depilar as pernas justo hoje? Tá frio, chovendo, não vamos sair de casa...
- Eu quero, ué. Será que você pode me ajudar? É óbvio que não consigo com este barrigão.
- Tudo bem, tudo bem. Vai entrando no banho.
- Você acha que está ficando bom?
- Eu sei lá. Não consigo enxergar também. Ao menos não tá doendo... ou seja, você não está me cortando.
- Pois é. Agora vira, vou fazer a parte de trás. Meus joelhos estão me matando. Que situação, viu...
- Parece velho...
- Flávia!?!?
- Oi.
- Tem um negócio pendurado entre as suas pernas.
- O que? Como assim?
- Sei lá. Parece uma clara de ovo gigantesca.
- Pára de brincar.
- É sério.
- Será que vai nascer?
- Pois é... eu acho que sim.
- Ai caramba, me ajuda!
- Você está sentindo alguma coisa?
- Não.
- Vou me trocar. Güenta aí.
- Hã? E essa coisa? Precisa limpar.
- Pois, é: precisar, precisa. Mas eu é que não ponho a mão nisso. Não sei se vai doer. Nunca ouvi falar disso antes. É seu, faz parte de você (rindo) você dá um jeito nisso.
- Estamos sem carro. Vou encontrar um vizinho. Bete: o João tá nascendo e estamos sem carro - daria pra vocês levarem a gente pro hospital? Flávia, a Bete e o Chico vêm vindo.
- Tá. Mas não tá doendo. Só estou nervosa.
- Fica calma. Já peguei as coisas. Vamos lá.
- Nossa, Chico: numa van?
- Pois é, tem que ser confortável.
- Já tá todo mundo na van? Vambora...
- Meu Deus, o Chico quase entrou com a van no hospital!
- Assim fica mais fácil, ela anda menos.
- Chico, você é louco.
- E então?
- Olha, aquilo era somente uma espécie de tampão. É algo gelatinoso que fica na base da placenta.
- E?
- Não significa que vai nascer agora. Monitoramos e está tudo normal. Podem ficar tranqüilos.
- Vamos pra casa? Você está se sentindo bem?
- Sim. Vamos.
- Caramba Flávia, mas que pratinho de estrogonofe, hein? Você vai conseguir se deitar depois disso tudo?
- Tô morrendo de fome. Tá uma delícia. E olha só o seu prato, tá maior que o meu!
- Já escovei os dentes: vamos nos deitar?
- Vamos.
- Está confortável? Posso apagar a luz?
- Pode.
- Boa noite. Até amanhã...
- Que barulho foi esse?
- Você também ouviu?
- Sim: parecia uma bexiga estourando... fez puf...
- Foi. Um baita estouro. Foi dentro da minha barriga.
- Hã?
- Tô sentindo alguma coisa vazando...
- Foi a bolsa.
- Foi a bolsa.
- Tá doendo muito.
- Calma, são as contrações. Eu coloco a roupa em você. Este vestido é mais fácil, né?
- Não vou sair daqui, tá doendo muito!
- Flávia, como é que você não vai sair daqui? Vai ter a criança aqui?
- Não vou sair, tá doendo muito!
- Tá bom Flávia, tá bom...
- Boa sorte hein! Fica calma...
- Oi Lêda.
- Cadê a Flávia?
- Acabou de passar numa maca. Foi pra lá. Disseram que já vai nascer.
- Ai meus Deus!
- Oi mãe.
- E aí?
- Nada ainda.
- Você tá bem? Tá com fome? São seis da manhã e acho que você ainda não comeu.
- Pois é. Vou enfrentar a chuva e comprar alguma coisa numa lanchonete logo ali.
- Vai lá.
- Já volto.
- O senhor é o pai do João?
- Sim.
- Seu filho acabou de nascer.
- Sério? E aí: foi tudo bem? Ele está bem? Ela está bem?
- Estão sim: foi tudo tranqüilo.
- Ouviram? Pelamor né: chorando abraçadas? Vou ter que contar pra tudo mundo qual foi o "Momento Piegas" da história...
- Vocês já podem subir pra ver o bebê. Mas são duas pessoas por vez.
- Quem de vocês duas vai comigo?
- Vai você primeiro, Lêda.
- Tá bom.
- Ai, caramba... olha ele aí.. eu não acredito... como é que estão as coisas?
- Comigo tá tudo bem. Com dor. Querendo sair daqui o mais rápido possível. Mas tudo bem. Ele tá ótimo. E lindo né? Já mamou, não teve problemas...
- Olha a mãozinha...
- Mãe, você não vem ver seu neto: parece louca... fica aí só tirando foto.
- Tô indo. É que se chega alguém talvez não deixe fotografar...
- Ai meu Deus! Oi João...
- Eu vou descer porque sua mãe deve estar ansiosa. Você fica aí.
- Ué, Emílio? E minha mãe?
- Ela disse que quer estar perto da sua avó quando ela for ver. Tem medo que ela passe mal. Aí pediu pra eu subir.
- Olha ele aí, rapaz...
- Aha...
- Está tudo bem mesmo? Há previsão pra saída?
- Amanhã. Acho que amanhã já saímos.
- Vamos Emilião?
- Vamos lá, cara. Parabéns...
- Fiquem direitinho, ok?
- Pôxa, como você está se sentindo?
- Não sei: sinceramente não sei. É algo que vai ser daqui pra frente. Não adianta dizer que quando nasce você já ama loucamente. Você sequer conviveu! Mas é maravilhoso, você não tem idéia. O João nasceu cara, o João nasceu!
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- Tá com sono, pai?
- Mais ou menos, por quê?
- Eu queria usar aí.
- Usa o do Pedro... eu já tô terminando... escrevendo uma coisa pro seu aniversário.
- Tá...
- E agora, tá com sono agora João?
- Tô.
- Vamos?
- Vamos lá...
- Vou desligar aqui então...
10 comentários:
PARABÉNS!
Parabéns Fabiano!
Parabéns João!
Lindos, o texto, o filho, o pai não, o pai é feio...
Fabiano e Joao....aqui estou em longe, longe, chorando apos ler este seu post!! E olhar para tras e lembrar esta historia de outro angulo, onde nos estavamos a tantos anos atras...Minha mae sempre falou que desde a primeira vez que ela te viu segurando o Joao quando nos fomos visita-los pela primeira vez, ela sabia que vc já era um paizao e os anos só vieram a confirmar isso. Parabéns para vc como pai, pois toda vez que um filho nasce, nascemos de novo também, em outros papeis na vida. E para vc Joao...que voce siga crescendo este menino lindo, inteligente, sensivel, divertido e que sua madrinha mesmo desnaturada e longe te ama muito muito mesmo!!Daqui a pouco estou no Brasil para te dar um beijao!!!
Amigo, lagrimas nos aolhos...parabéns!!te amo! Crisinha
Lindo conto da vida real!
PARABÉNS, MEU CARO! O TEXTO É ABSOLUTAMENTE COMOVENTE, ASSIM COMO A SUA RELAÇÃO COM O JOÃO.
GRANDE ABRAÇO PRA TI E PRO JOÃO!
lindo texto
Linda história! Lindas vidas!! Parabéns.
parabéns primos!
abraço
Jardel
Que homenagem emocionante de um pai...Parabéns atrasado João...Guarde para os 16...rs. Vc é um primor Fabiano Conte!
Ah! Que lindo!!!!
Ah! Que lindo!!!!
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