25.4.09

Hermetismos da memória

Já se vai muito tempo desde então. O ano era qual: 1991, 92, 93? Em uma quinta à noite, no ginásio do Tênis Clube de Campinas, veríamos o Hermeto Pascoal.

Fomos eu e Carlão (lembrei-me melhor hoje Rodrigo - nesta você faltou). O lugar estava lotado. Ficamos bem localizados: na quadra, a uns 15 metros do palco. Hermeto veio sem banda e usaria os músicos da OSMC.

A coisa teve início da forma esperada: aquelas maluquices experimentais com panelas, potes e outros objetos inesperadamente sonoros. Aliás, é bom que se diga: erra feio quem acha que Hermeto é só isso ou mesmo que a maior parte de sua música se restringe a isso - há coisas demais, e é bom que conheçamos. Recado dado, voltemos à história: a questão é que, conforme o show andava, as pessoas eram envolvidas por uma espécie de transe geral e bastante particular: particular porque o tipo de música que Hermeto produz é de uma cinestesia ímpar.

Senti-me, em um dado momento e como se diz por aí, bolado. Olhei ao redor e estavam todos da mesma maneira. As pessoas riam à toa. Uma lente de aumento foi interposta entre nós e as coisas e tudo era mais intenso e bom. O controle que o homem exercia sobre o público também era interessante: se empolgava, literalmente entusiasmava e levava todos consigo.

No último número uma boa história: Hermeto fôra convidado para escrever uma música a respeito de Berlim, tendo sido uns dos poucos compositores - talvez 10 do mundo todo - chamados para presentear a cidade em seu aniversário. Mas como, disse o homem, escrever para uma cidade a qual eu não conheço? Então fui até lá, passei uns 3, 4 dias, entrei no quarto e saí com a música pronta. Pois bem: a composição era poderosa, muito poderosa! Chegou um momento, lá pelos seus 10 minutos, no qual as pessoas gargalhavam, as pessoas choravam, as pessoas davam cambalhotas, rodopiavam, viravam estrela. Fabuloso. Grandioso. E foi assim que a noite acabou, deixando algumas perguntas em nossas cabeças: o que é aquele homem, a relação que ele estabelece com a música e o que mais consegue produzir?

As duas últimas questões podem começar a ser respondidas da seguinte maneira:

1) do site do próprio Hermeto,



Não há o que comentar. Conteúdo e forma: tudo muito significativo, terno demais. Entrem no site e vejam outras coisas legais que estão lá.


2)Uma mostra de sua produção. Exemplo de como, ao gastarmos nosso tempo com algumas coisas, na verdade o ganhamos.




Isso nos salva, nos salvará das trevas, como diz a canção? Sei não: no post seguinte falarei a respeito.

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