13.11.08

I can't see me loving nobody but you, for all my life...

Nietzsche disse certa feita que, sem música, a vida seria um erro. Eu acrescentaria aí, fomando uma listinha das coisas sem as quais a vida seria um erro, as Tostitas e o chutney.

Idiossincrasias à parte, uma coisa que sempre me espantou foi a capacidade que a música tem de potencializar aquilo que lhe cerca. Um texto bobo é um texto bobo, até que lhe adicionem uma boa música e ele passa a ganhar contornos de algo mais do que decente. Uma prova disso está nas próprias letras das canções: longe de chegarem perto de um poema denso, ao serem musicadas fazem parecer com que Peninha possa se aproximar bastante de Pessoa. É esse tipo de persuasão causada pelo impacto musical que faz com chamemos muitos de nossos compositores de "poetas". Não, não e não: Chico Buarque está a uns 25.879 quilômetros de ser João Cabral neste aspecto. Como explicar isso num país em que Sarney é membro da Academia de Letras? Deixa pra lá...

Voltando ao assunto, é um tanto óbvio que não sejam apenas as palavras as únicas potencializadas pelos sons minimamente coordenados. As imagens também o são, e se torna cada vez mais difícil observarmos algo sem umas notas na cachola. O mecanismo da trilha sonora invadiu o cotidiano, e os MP3 da vida possibilitam que uma ida ao centro da cidade se torne um evento de grandes proporções. Uma "Fanfarra ao homem comum" do Copland faz qualquer um descer a rua 13 de maio no mínimo arrepiado por conta do filminho individual que ajuda produzir.

Bem, essa coisa toda acima só apareceu porque o que eu queria mesmo dizer é algo bem curto e em certo sentido bastante pontual: o uso da música numa propaganda. Desde o século passado quando me deliciava vendo o comercial do cigarro Hollywood ao som de Run Like Hell que isso me chama bastante a atenção. Que a criação de temas que, em certo sentido, contextualizam a marca dando o tom do que ela quer ser fazendo uso de imagens atreladas à musica me deliciam. Sim, me deliciam* - porque o que se vê ali é algo do campo da distração, do vídeo clipe, e querendo ou não, faz com que passemos o tempo de espera de um modo um tanto mais divertido.

Há um comercial no ar no qual conseguiram fazer o tal casamento anúncio - imagem - música de uma maneira magistral. Pra quem ainda não viu, a propaganda do Ford Focus é fabulosa: divertida no ponto certo, leve e não insistente. A música usada? Happy Together, dos Turtles: uma canção que rendeu mais dinheiro por sua aplicação comercial do que por venda de disco. Há no site da banda, que hoje se resume a dois senhores um tanto quanto ridículos porque se recusam a envelhecer, até uma página onde se vê uma listagem dos anúncios feitos com a música.

Pra não dizerem que dei crédito apenas ao resultado, e não ao seu real causador, aí vai o clipe de 1967.

É isso.

*Aos pentelhos arrubrados que vão me encher o saco por eu estar falando de propagandas comerciais: guardando a devida proporção, não é porque sou ateu que não vou gostar de arte sacra. Sacaram?


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