“Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele, confesso, não me merecem nem admiração nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V.Exa. precisa menos cinqüenta anos de idade, ou então mais cinqüenta de reflexão."
Adoro este texto acima. Foi escrito pelo poeta lusitano Antero de Quental (1842-1891) para alfinetar um outro poeta, Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875).
Primeiro, o que se vê é muita ironia. E depois, uma infeliz verdade. Que chatice é uma criança querendo se passar por adulto. Que horrendo é um velhinho dando uma de bacana. Os dois são espetáculo fácil na TV. Carregam o tom do inusitado, do diferente, do bom. O que haverá de bom nisso? Pra mim é só tolice.
E vem o menininho de 8 anos falar de política, de economia, de religião. E vem o velhinho dar cambalhotas, tocar bumbo e jogar bola com sua roupa brilhante.
Ambos vindo do campo dos horrores como a mulher barbada, o homem elástico, os anões siameses.
Tudo até que suportável se o horror não tivesse hoje se transformado em objetivo cultural, virado moda.
- Vai Pedrinho, analisa a queda do Renan Calheiros.
- Aí bisavô, me empresta essa regata colada e os alteres.
Hummm, e eu tranco as portas para o mundo. Hummm, e eu dou uma de Antero de Quental. Menos idade ou menos reflexão pra mim? Ainda não sei, mas tirem estes moleques logo da minha frente pelo amor de Deus!
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