A rasidão não é algo que aparece de surpresa. Assim como um balde furado se esvazia, uma piscina se esvazia, uma latrina se esvazia, você também é capaz de esvaziar-se. E mais: assim como os objetos citados, você não tem a mínima consciência de estar a perder algo. A sua, ou a nossa diferença para com os baldes e as piscinas e as latrinas se dá apenas quando a coisa já se perdeu, esvaiu-se, morteceu.
Quando este ponto é chegado, a renitência das coisas diárias força o surgimento de uma consciência que é trazida de fora. O que se exige não encontra onde nadar, se angustia e se bate, bate em você, que sufoca e só então repara.
Só poder reproduzir automatismos é um dos primeiros sinaisintomas da rasidão. Ele não dói, não pode ser percebido comportamentalmente e, portanto, não exige, segundo as psicologias ditas eficazes, remédios ou terapias.
Já o segundo sinalsintoma da rasidão machuca bastante, muito. É quando ela se torna reflexiva, ou seja, você reconhece com todos os pregos, arames farpados, agulhas, alfinetes e lanças que são inerentes ao reconhecer, que perdeu a manivela do ímpeto.
E o que sou eu sem alavanca? Boçal, é mais do que provável.
Um rato.
Uma semilatrina, um semibalde, uma semipiscina.
A rasidão impede, dentre todas as outras isquemias geradas, que se articule o suficiente a seu respeito.
P.S - Ela pode durar mais do que se imagina.
2 comentários:
um filósofo pode virar uma semi-piscina, semi-balde, semi-latrina e rasa ainda por cima?
to duvidando , hein?
e esse post, vem de onde?
da rasidão é que não é.
Rasidão de uma piscina por exemplo, nos permite vê-la de fato como é e até mesmo andar dentro dela. E as vezes, a água que se esvaiu, tava suja, turva... Talvez a rasidão sirva p/ renovar. Não acho de todo ruim andar pela piscina vazia, pq consigo imaginar que ela, em algum momento, estará cheia novamente.
Postar um comentário