18.7.09

Bleuler em Brasília

Existe aquela seriíssima teoria a respeito da criação literária que diz o seguinte: se o realismo fantástico não fez muito sucesso no Brasil enquanto forma de expressão, isso se deu justamente por conta de nossa capacidade ímpar de produzir bizarrices no mundo real.

Quando vejo a figura de Lula, toda vez que ouço ou leio a respeito das coisas que ele diz, essa teoria me vem à cabeça. Deve acontecer com a maior parte das pessoas, mas devo admitir que em mim a coisa tem ganho um caráter tamanho que não consigo mais, sequer, classificar o que se passa em termos de intuição ou percepção: insólito, absurdo, insano, esquizofrênico - nada é capaz de traduzir aquela coceira no córtex que sinto quando entram por meus tímpanos as declarações psicóticas de nosso presidente; e aqui não exagero. O universo de Lula é absolutamente descolado de qualquer evento exterior à sua presunção, e as falas que se geram deste estado têm, há muito, extrapolado qualquer tipo de verificação, seja ela estatística ou ética.

Acredito que algumas coisas devam ser ditas a este respeito; coisas que, como veremos, acabarão dando em outro lugar. Mas vamos lá.

Primeiro - parece não haver mais necessidade alguma de que os números que Lula informa em suas aparições se liguem a tabelas de um instituto qualquer, sejam algum dado sério e/ou que tenham vindo de um lugar a partir do qual eles se justifiquem: a única necessidade é de que eles possuam, à moda dos alienados, uma existência mental, que tenham se gestado na cachola do homem. E só. É esta a metodologia do DataLula. Do PAC – que praticamente não existe – à extração do petróleo, há pouquíssimos dados que correspondam à realidade, por mais que esta possa ser recriada.

Segundo - a quantidade de absurdos morais que este homem tem dito e com o assente de todos, inclusive daqueles que são ultrajados, não é normal. Para ficarmos apenas nos últimos exemplos, citarei cinco falas, as mais graves, sendo que mais tarde voltarei à terceira:

a) Lá (nos EUA), ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar.
b) Um país que acha petróleo a seis mil metros de profundidade pode achar um avião a dois mil.
c) Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos.
d) Tem uma, duas ou três denúncias em fase de apuração. Apura-se e toma-se as medidas. O que não pode é um país com tantas coisas importantes como o Brasil ficar discutindo coisas menores que o Tribunal de Contas [da União] pode investigar.
e) Depende. Todos eles são bons pizzaiolos.

Pensem com carinho em cada linha destas aí. É preciso estômago para suportá-las sem uma estremecida.

Terceiro – há uma brincadeira que todos conhecemos que é a seguinte: quando dizemos que alguém está louco, logo em seguida soltamos um – o médico falou que é para não contrariar! Pois então: o que há com Lula é que, a partir do óbvio momento em que todas as suas excentricidades descompassadas são deixadas para lá, atravessam a linha que deveria contê-las e se tornam ululâncias. Cada criação despreocupada ou mesmo indecente, quando afirmada pelo universo exterior, ganha o carimbo da realidade. E assim Lula vive e caminha em seu País das Maravilhas, enquanto que a maioria esquece de se perguntar: qual é a função de um presidente, mesmo?

Quarto – quem captou esta composição toda de forma esplendorosa e vem sabendo dela se aproveitar foi Barack Obama e sua equipe. Mais do que qualquer outra coisa, Obama percebeu que Lula adora ser adulado, que adora ser reafirmado, e que acaso necessite jogar com o Brasil, seja de qual maneira for, tudo deve se iniciar no fortalecimento da alucinação lulista. É como se dissesse: “Vai aí falando suas bobalhadas, meu amigo, porque internacionalmente elas não fazem efeito, mesmo. Mas você é um grande líder, uma cabeça pensante e eu te admiro, muito. Cof... Cof...”. E então lemos os jornais e nos sentimos felizes, sorrimos marotamente e achamos bonito: um se ilude, o outro afirma a ilusão para dela tirar proveito e nós, que adoramos os dois sujeitos, que os vemos como os supra-sumos da pureza da alma, nos regozijamos; além de exercemos, é claro, a nossa bocozisse com a coisa estrangeira, jacus que somos.


Continua...

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