Pessoa já dizia que somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de nós. Para Freud o desejo é algo puramente ligado à memória: só podemos desejar aquilo que já foi vivenciado e causou prazer - se não formos masoquistas, claro -: todo o novo, assim, tende a ser apenas repetição. Já Lacan... Bem, pra Lacan, somos o resultado do desejo do Outro, e só. Para Hobbes, a felicidade se encontra no caminho para a realização do desejo. Assim que o desejo é satisfeito, corremos atrás de outro porque então tudo já ficou sem graça.
Eu só sei que desejo e que não consigo fazer com que este desejo flutue. Aceitar que certas coisas definitivamente não funcionam e ligá-lo a algo que o faça valer, que o aceite e dele faça bom uso. Eu quero que o desejo dos outros atue sobre mim e que me torne um objeto a ser por ele modelado. Quero que meu desejo diga qualquer coisa nova sobre a qual já sei. Que trilhas se refaçam todas as vezes que isso for possível.
Sigo tentando.
21.1.09
19.1.09
15.1.09
Outro do Contardo
Existem alguns textos que deveriam ser obrigatórios: nasceu, viveu um tanto pra compreender, tem que ler. Alguns sujeitos conseguem escrever um bom tanto deles. Contado Calligaris se enquadra nesta categoria. Leiam!!!
Ah: e qualquer semelhança com você, seu vizinho ou primo, não será mera coincidência...
"Closer - Perto Demais": por que somos infelizes em amor?
Concordo com Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal". Mas "Closer - Perto Demais", de Mike Nichols, me deixou pensando diferente: de perto, somos normais demais.
O filme é uma demonstração tocante de nossas impotências e incompetências sentimentais. Se você quer saber por que, em regra, somos infelizes em amor, não perca.
Para não estragar o prazer de quem não viu o filme, nada de resumo, apenas as reflexões fragmentárias com as quais passei a noite, depois de ter assistido a "Closer - Perto Demais".
1) Por que, no meio de uma história amorosa que funciona, um encontro (que sempre parece mágico) pode levar alguém a trocar a intimidade de um casal companheiro por uma visão?
Os evolucionistas dizem que os homens são infiéis por necessidade biológica. Para que a espécie continue, os machos seriam programados com o desejo de fecundar todas as fêmeas possíveis. A teoria tem uma falha: as mulheres são tão infiéis quanto os homens (embora os homens se recusem a acreditar nessa banalidade).
O senso comum tem outra explicação: a paixão iria se apagando com a repetição, os humanos gostariam de novidade. Pequeno problema: a idéia de que a novidade seja um valor é especificamente moderna; no entanto a inconstância em amor é um hábito antigo. Outro problema ainda maior: na condução de nossas vidas, somos obstinadamente repetitivos. Insistimos nas mesmas fantasias e nos mesmos sintomas. Contrariamente ao que diz o provérbio, errar é divino, perseverar é humano. Por que seria diferente em matéria amorosa? Como pode ser que um encontro, em que mal se sabe quem é o outro ou a outra, contenha uma promessa que basta para levar alguém a dar um chute num amor que dura?
Tento responder: apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do amado ou da amada. Antes de ponderar os charmes da idealização, duas observações.
Um impasse: para manter a paixão, devo continuar idealizando o parceiro. Mas, para idealizar o outro, devo mantê-lo a distância. Se mantenho o outro a distância, renuncio aos prazeres de amor, companheirismo, cumplicidade, convivência.
Um paradoxo: se me separo porque me apaixono por outra ou outro, o parceiro que deixei se distancia de mim, portanto volto a idealizá-lo e a me apaixonar por ele.
2) Por que gostaríamos tanto de idealizar o outro que vislumbramos num novo encontro? Uma nova paixão amorosa é provavelmente o sentimento que mais pode nos transformar, para o bem ou para o mal. Por exemplo, se o outro me idealiza, carrego seu ideal como um casaco novo: modifico minha postura para que o pano caia bem no meu corpo. De uma certa forma, tento me parecer com o ideal que o outro ama em mim.
Cada amor, quando começa, é uma aventura. Não porque encontro um novo parceiro, mas porque, ao me apaixonar, descubro ou invento um novo ideal e, ao ser amado, mudo para me aproximar do que o outro imagina que eu seja.
A inconstância amorosa talvez seja a expressão imediata do desejo de mudar - não de trocar de parceiro, mas de se reinventar.
Não é estranho que, na hora em que um amor começa, alguém decida se dar um novo nome. Nenhuma mentira nisso, apenas a convicção e a esperança de que a paixão nos transforme.
Infelizmente, mudar é difícil: a sedução exercida pelos novos amores é uma veleidade, um pouco como as resoluções de que as coisas serão diferentes no ano que começa.
3) Dizem que um casal que se ama briga muito. O uso erótico das brigas é conhecido: a paz se faz na cama. Menos conhecido é o uso amoroso das brigas: chegar ao limite da ruptura pode ser um
jeito de recomeçar, de voltar ao momento inicial da paixão, quando ambos esperavam que o amor os transformasse.
Problema: ninguém sabe qual é o ponto de equilíbrio além do qual as brigas não garantem renovação nenhuma, apenas desgastam um amor que se perde.
4) Alguém se apaixona por outra pessoa porque, ele se queixa, sua parceira precisa dele. É aquela coisa: seu amor me exige demais, você me sufoca, me prende. Isso, é claro, é um jeito de
dizer: com você sou sempre o mesmo. Também é uma projeção: separo-me porque não agüento minha própria dependência de você. Visto que me detesto por estar a fim de lhe pedir amor a cada minuto, acho intolerável que você me peça. Quem pensa e age assim, em geral, fica sozinho no fim.
5) Um homem volta para o lar depois de ter estado nos braços de outra. Sua mulher pergunta: você me ama ainda? Ela tem razão, é a única pergunta que importa.
Uma mulher volta para o lar depois de ter estado nos braços de outro. Seu homem pergunta: você esteve com ele? Insiste: quero a verdade. Pede os detalhes: gostou? Gozou? Onde aconteceu, em que posição, quantas vezes?
O ciúme feminino é uma exigência amorosa. O ciúme do homem é uma competição com o outro, um duelo de espadas, uma esgrima homossexual que tem pouco a ver com o amor pela amada e muito a ver com as excitantes lutinhas masculinas da infância.
Enfim, quem sabe o filme nos ajude a inventar jeitos de amar menos desafortunados e mais interessantes.
Ah: e qualquer semelhança com você, seu vizinho ou primo, não será mera coincidência...
"Closer - Perto Demais": por que somos infelizes em amor?
Concordo com Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal". Mas "Closer - Perto Demais", de Mike Nichols, me deixou pensando diferente: de perto, somos normais demais.
O filme é uma demonstração tocante de nossas impotências e incompetências sentimentais. Se você quer saber por que, em regra, somos infelizes em amor, não perca.
Para não estragar o prazer de quem não viu o filme, nada de resumo, apenas as reflexões fragmentárias com as quais passei a noite, depois de ter assistido a "Closer - Perto Demais".
1) Por que, no meio de uma história amorosa que funciona, um encontro (que sempre parece mágico) pode levar alguém a trocar a intimidade de um casal companheiro por uma visão?
Os evolucionistas dizem que os homens são infiéis por necessidade biológica. Para que a espécie continue, os machos seriam programados com o desejo de fecundar todas as fêmeas possíveis. A teoria tem uma falha: as mulheres são tão infiéis quanto os homens (embora os homens se recusem a acreditar nessa banalidade).
O senso comum tem outra explicação: a paixão iria se apagando com a repetição, os humanos gostariam de novidade. Pequeno problema: a idéia de que a novidade seja um valor é especificamente moderna; no entanto a inconstância em amor é um hábito antigo. Outro problema ainda maior: na condução de nossas vidas, somos obstinadamente repetitivos. Insistimos nas mesmas fantasias e nos mesmos sintomas. Contrariamente ao que diz o provérbio, errar é divino, perseverar é humano. Por que seria diferente em matéria amorosa? Como pode ser que um encontro, em que mal se sabe quem é o outro ou a outra, contenha uma promessa que basta para levar alguém a dar um chute num amor que dura?
Tento responder: apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do amado ou da amada. Antes de ponderar os charmes da idealização, duas observações.
Um impasse: para manter a paixão, devo continuar idealizando o parceiro. Mas, para idealizar o outro, devo mantê-lo a distância. Se mantenho o outro a distância, renuncio aos prazeres de amor, companheirismo, cumplicidade, convivência.
Um paradoxo: se me separo porque me apaixono por outra ou outro, o parceiro que deixei se distancia de mim, portanto volto a idealizá-lo e a me apaixonar por ele.
2) Por que gostaríamos tanto de idealizar o outro que vislumbramos num novo encontro? Uma nova paixão amorosa é provavelmente o sentimento que mais pode nos transformar, para o bem ou para o mal. Por exemplo, se o outro me idealiza, carrego seu ideal como um casaco novo: modifico minha postura para que o pano caia bem no meu corpo. De uma certa forma, tento me parecer com o ideal que o outro ama em mim.
Cada amor, quando começa, é uma aventura. Não porque encontro um novo parceiro, mas porque, ao me apaixonar, descubro ou invento um novo ideal e, ao ser amado, mudo para me aproximar do que o outro imagina que eu seja.
A inconstância amorosa talvez seja a expressão imediata do desejo de mudar - não de trocar de parceiro, mas de se reinventar.
Não é estranho que, na hora em que um amor começa, alguém decida se dar um novo nome. Nenhuma mentira nisso, apenas a convicção e a esperança de que a paixão nos transforme.
Infelizmente, mudar é difícil: a sedução exercida pelos novos amores é uma veleidade, um pouco como as resoluções de que as coisas serão diferentes no ano que começa.
3) Dizem que um casal que se ama briga muito. O uso erótico das brigas é conhecido: a paz se faz na cama. Menos conhecido é o uso amoroso das brigas: chegar ao limite da ruptura pode ser um
jeito de recomeçar, de voltar ao momento inicial da paixão, quando ambos esperavam que o amor os transformasse.
Problema: ninguém sabe qual é o ponto de equilíbrio além do qual as brigas não garantem renovação nenhuma, apenas desgastam um amor que se perde.
4) Alguém se apaixona por outra pessoa porque, ele se queixa, sua parceira precisa dele. É aquela coisa: seu amor me exige demais, você me sufoca, me prende. Isso, é claro, é um jeito de
dizer: com você sou sempre o mesmo. Também é uma projeção: separo-me porque não agüento minha própria dependência de você. Visto que me detesto por estar a fim de lhe pedir amor a cada minuto, acho intolerável que você me peça. Quem pensa e age assim, em geral, fica sozinho no fim.
5) Um homem volta para o lar depois de ter estado nos braços de outra. Sua mulher pergunta: você me ama ainda? Ela tem razão, é a única pergunta que importa.
Uma mulher volta para o lar depois de ter estado nos braços de outro. Seu homem pergunta: você esteve com ele? Insiste: quero a verdade. Pede os detalhes: gostou? Gozou? Onde aconteceu, em que posição, quantas vezes?
O ciúme feminino é uma exigência amorosa. O ciúme do homem é uma competição com o outro, um duelo de espadas, uma esgrima homossexual que tem pouco a ver com o amor pela amada e muito a ver com as excitantes lutinhas masculinas da infância.
Enfim, quem sabe o filme nos ajude a inventar jeitos de amar menos desafortunados e mais interessantes.
14.1.09
Quem é o babaca, mesmo?
Leiam primeiro, depois eu comento e peço algo. Do Correio Popular de hoje:
A babaquice infesta a música pop. Leio hoje nos jornais que o astro Elton John, que fará dois shows no Brasil, exigiu que seu camarim fosse decorado com cinco rosas vermelhas e duas brancas. Até aí tudo bem. O detalhe fabuloso é o seguinte: as astes das rosas devem medir exatamente 112 milímetros.
Em seu staff pessoal virá um camarada designado apenas para fazer a medição das hastes. Se as mesmas não apresentarem o tamanho desejado pelo artista, ele promete dar chilique e ameaça não subir no palco - o que, cá para nós, não seria nada mau.
Contudo, a produção não revelou o que Elton John fará com as hastes de 112 milímetros após o espetáculo. Particularmente, acho as medidas muito pequenas para o histórico do cantor.
E então: chocados? Abismados? Embasbacados? Pois é: este texto foi publicado numa coluna do caderno de cultura do grande jornal de Campinas, que deve ser o maior em tiragem do interior de SP.
Foi escrito, por acaso, pelo mesmo sujeito que escreveu aquele texto mequetrefemente bizarro sobre a questão Israel/ Palestina. Normalmente ele escreve sobre sambas e botecos. Agora anda exercitando a sua anencefalia em outras áreas.
Uma das questões que me deixam estupefato e que deve ser retomada é a seguinte: que alguém escreva com a articulação mental e preconceitos de um quiabo, vá lá, mas e aquele que trata das coisas que devem ser ou não impressas - não deveria ter um mínimo de bom senso?
Ora, temos aqui um texto que nada informa, que não possui sequer uma linha crítica - no sentido cordato da palavra - e que além e acima de tudo é declaradamente e, desculpem a expressão mas não há como dizer de outra forma, nojentamente homofóbico.
O que fazer?
Estou encaminhando este texto para a editora do caderno "cultural" do jornal. Pra quem quiser reclamar, ou fazer o mesmo, o endereço é: daniela@rac.com.br.
Pra terminar, um videozinho pra gente se lembrar de como Elton John é realmente um artista péssimo. E nem vou comentar o fato de sempre ter achado de que se trata de um dos sujeitos de comportamento mais respeitável e digno do todo o mundo pop. Deixa isso pra lá: não vem ao caso.
A babaquice infesta a música pop. Leio hoje nos jornais que o astro Elton John, que fará dois shows no Brasil, exigiu que seu camarim fosse decorado com cinco rosas vermelhas e duas brancas. Até aí tudo bem. O detalhe fabuloso é o seguinte: as astes das rosas devem medir exatamente 112 milímetros.
Em seu staff pessoal virá um camarada designado apenas para fazer a medição das hastes. Se as mesmas não apresentarem o tamanho desejado pelo artista, ele promete dar chilique e ameaça não subir no palco - o que, cá para nós, não seria nada mau.
Contudo, a produção não revelou o que Elton John fará com as hastes de 112 milímetros após o espetáculo. Particularmente, acho as medidas muito pequenas para o histórico do cantor.
E então: chocados? Abismados? Embasbacados? Pois é: este texto foi publicado numa coluna do caderno de cultura do grande jornal de Campinas, que deve ser o maior em tiragem do interior de SP.
Foi escrito, por acaso, pelo mesmo sujeito que escreveu aquele texto mequetrefemente bizarro sobre a questão Israel/ Palestina. Normalmente ele escreve sobre sambas e botecos. Agora anda exercitando a sua anencefalia em outras áreas.
Uma das questões que me deixam estupefato e que deve ser retomada é a seguinte: que alguém escreva com a articulação mental e preconceitos de um quiabo, vá lá, mas e aquele que trata das coisas que devem ser ou não impressas - não deveria ter um mínimo de bom senso?
Ora, temos aqui um texto que nada informa, que não possui sequer uma linha crítica - no sentido cordato da palavra - e que além e acima de tudo é declaradamente e, desculpem a expressão mas não há como dizer de outra forma, nojentamente homofóbico.
O que fazer?
Estou encaminhando este texto para a editora do caderno "cultural" do jornal. Pra quem quiser reclamar, ou fazer o mesmo, o endereço é: daniela@rac.com.br.
Pra terminar, um videozinho pra gente se lembrar de como Elton John é realmente um artista péssimo. E nem vou comentar o fato de sempre ter achado de que se trata de um dos sujeitos de comportamento mais respeitável e digno do todo o mundo pop. Deixa isso pra lá: não vem ao caso.
13.1.09
12.1.09
Feito!
A filosofia é capaz de propiciar, a quem aceita e trabalha o suficiente para isso, o desenvolvimento de uma relação muito, mas muito peculiar entre o iniciado, entre aquele se dispõe a encará-la, e os textos a partir dos quais ela se apresenta. Eu diria sem ressalvas que se trata de uma relação quase psicótica, na qual ocorre uma espécie de fundição entre aquilo o que Kant chama de sujeito transcedental, somadas aí as experiências preenchedoras deste sujeito, e os dados dos texto. E quando digo dados não afirmo apenas o conteúdo semântico mais geral como também as relações gramaticais, as ondulações discursivas, o ritmo, a simpatia - sim! - e tudo o mais o que um escrito teórico pode comportar.
Lembro-me da minha primeira leitura esquizofrênica de um texto. Foi em 1994. Fausto Castilho - e que professor era, e é, Fausto! que cabeça poderosa tem esse homem! - pedia como trabalho semestral uma paráfrase das meditações cartesianas. Quem já teve o prazer de atravessar uma Meditatio que seja sabe que o texto já é pra lá de embrumador. É como se Descartes pegasse na mão do leitor e, através de rigorosas deduções, o fizesse caminhar por um espaço qualquer. É esta a sensação ao final da leitura: de deslocamento, de passagem. É a lógica atuando como poesia. Sentei-me no segundo andar da biblioteca às 9h. Saí para almoçar às 13h e retornei às 15h. Às 19h30 mais ou menos começou a me bater um pavor. Eu havia me misturado ao texto. Eu era Descartes, eu era a cêra, eu era o gênio maligno embusteiro, eu era eu mesmo, a folha branca, o texto em latim da página ao lado, Deus, o ergo sum.
Levantei a cabeça completamente apavorado, com um medo terrível daquilo. Aconteceria de novo? O que foi: Hume, Hobbes, Kant, Platão, Montesquieu, Schopenhauer, Nietzsche, Bachelard, Hegel, blá, blá, blá, blá. Até que resolvi estudar filosofia da psicanálise; até que resolvi tentar compreender o que aquele tal de Freud dizia e o que estava em jogo ali para a história das idéias. Hummm: que embaraço!
Lidar com os escritos freudianos através de uma leitura filosófica não é fácil. Alguns que aqui aparecem o sabem. É uma porrada na cara atrás de outra. Espetos no cérebro. Agulha sob as unhas. Pau-de-arara. Uma terapia das mais cruéis pelas quais se pode passar. Talvez a pior delas. Uma simbiose extremamente doentia. Os psicanalistas mesmo admitem esta posição, e se sentem acuados frente a ela.
Escrevo este texto porque finalmente eu consegui. Porque finalmente eu ultrapassei algo que por pouco não me venceu. Sim, sim: eu senti cada linha de Inibição, sintoma e angústia. Demorei 1 ano para completar as suas 70 páginas, e para isso tive que enfrentar as minhas resistências mais duras. Avançava dez páginas e voltava. Tinha fortes crises de tremor em muitas delas. Olhava pro texto e tinha vontade de chorar. Eu não olhava pro texto: eu olhava pra mim, que era picotado em tiras pelas linhas impressas. Pisoteado por parágrafos. Para todas as minhas inibições, para boa parte do meus sintomas. As angústias...
bem...
Foi isso meu caros, mas agora passou. Estou finalmente a salvo. Posso seguir pela vida com muito mais donaire e segurança. Andar lépido e intrépido por aí, com estes novos chumbos instalados nos calcanhares.
11.1.09
5.1.09
4.1.09
Bandeira branca, amor...
Pra começar bem o ano, a absurda tenuidade de um Bandeira.*
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
*Para o meu amigo Ricardo, que em nossas saudosas conversas citybareanas - quando estávamos pra lá de Punjab - dividia comigo - e quiçá tornará a dividir - a entusiasmada percepção de que Manuel é, realmente, foda.
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
*Para o meu amigo Ricardo, que em nossas saudosas conversas citybareanas - quando estávamos pra lá de Punjab - dividia comigo - e quiçá tornará a dividir - a entusiasmada percepção de que Manuel é, realmente, foda.
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