18.8.08

E o Paulo Freire, é coisa nossa...

Estava lendo algumas páginas de "Pedagogia da Autonomia", do Paulo Freire, por sugestão de uma colega que citou o livro em seu blog.

Para ser sincero, bastante sincero, fiquei mais assustado do que qualquer coisa. O livro me pareceu bastante confuso no que diz respeito a algumas conceitualizações, e peca muito ao repetir algumas balelas ideológicas que não fazem o menor sentido quando contrastadas com dados, principalmente os da história recente. Isto tudo por um motivo: "Pedagogia da Autonomia" não é apenas um livro que trata sobre educação – a este respeito, coisas até interessantes são ditas – mas pretende ser um libelo marxista, um grande panfleto que mistura economia, ética e política, tudo devidamente lido nas chaves do materialismo histórico.

É de se destacar, entretanto, que estas chaves de leitura se apresentam fazendo uso também de inúmeros conceitos (ou pseudo conceitos) fenomenológicos, tão acessados que acabam por dar as cartas no que diz respeito à linguagem do texto. Isto faz com nos lembremos bastante (mutatis mutandis)da segunda fase do pensamento sartreano, e falo aqui de "Crítica da Razão Dialética".

Aliás, aproveitando a entrada, dialética é algo que não falta no livro: além do próprio termo ser usado algumas vezes, os seus afluentes estão em todos os lugares: não linearidade do caráter evolutivo, seja em qual área for; passagem da quantidade a qualidade; a negação da negação – tudo colocado de uma maneira que chega a parecer uma leitura didática da obra do barbudo. Aliás, barbas não mentem, não é? Hehe

Mas o que parece mesmo ser a preocupação de Freire - além das questões pedagógicas, inclusive - é estabelecer um enfrentamento com o famoso texto de Fukuyama sobre o fim da história. A partir deste posicionamento, toda a presepada é despachada já a partir da introdução. À opção óbvia pela concepção histórica de natureza humana se segue uma ética caduca, fruto claro desta pueril escolha, e que repete aquilo que já sabemos ser, empiricamente – e ele já tinha como saber também – uma piada: se você é vermelho você é bom, se você é azul você é mal. Tudo assim, posto como algo do campo das transcendências, tão péssimo quanto a análise que é feita da relação entre capitalismo e educação.

Outro ponto que me chamou a atenção foi o uso exacerbado do termo crítica. Longe do sentido kantiano, a "crítica" de Freire parece se referir ao simples ser do contra, ainda que este ser do contra seja a propedêutica do que ele chama de “curiosidade epistemológica”.

É uma pena que o próprio Freire tenha caído na armadilha de se utilizar não apenas de conceitos básicos problemáticos, mas que se tenha deixado levar pelas leituras mais estranhas destes conceitos. Tais conceitos e leituras acabaram por impedir uma observação menos bipartida do mundo, observação esta que não escamotearia todas as nuances da ética, da política, da economia, da ontologia e da própria educação. É preciso que, antes da “curiosidade epistemológica”, sejamos afetados por uma espécie de “curiosidade meta-epistemológica”, a fim de que uma leitura mais livre (autônoma?) do mundo seja possível.

P.S - Há passagens em que Freire diz poder ser lido como um ingênuo, mas que este não vem a ser o caso. Acho que tinha uma pulga atrás da orelha, e por isso este quase argumentum ad hominem. Mas a questão mesmo, como já disse, diz respeito ao que falei em outro lugar: há muito que possuímos ferramentas mais refinadas do que a foice e o martelo, e devemos usá-las.

2 comentários:

Lélia Campos disse...

Como � que voc� pode discorrer sobre algo que leu "umas p�ginas", hein senhor fil�sofo?
Se voc� falar portugu�s comigo, talvez a gente possa conversar a respeito um dia.
Vou refletir sobre o post, mas ainda h� coisas a serem entendidas, percebidas...

cris disse...

vc tem implicância com barbas ou é impressão minha????

hehehehehhe.....!