Hoje pela manhã fui a um laboratório fazer exames.
Peguei o ônibus com uma sacolinha de O Boticário contendo 1l de xixi, e andei pelo centro da cidade como se nada houvesse de estranho. Sim , as aparências enganam e, neste caso, gargalham também.
Cheguei ao lugar às 10:30h, bem a tempo de encontrar uma menininha imbecil, com cerca de 4 anos de idade, que batia com os pés no chão, que rolava, que berrava, que irritava. Ela queria ficar sentada no balcão e o pai não deixava. Motivo suficiente pro show.
Bem, o que seguiu acabou por deixar tudo às claras.
Um tempinho se passou, e a enfermeira veia à porta chamar a criatura: - Maitê, box 1.
Sim meus amigos, a criatura se chamava Maitê. Isto explica tudo, não? Se você quiser ter uma filha minimamente interessante e consciente não ponha o nome de Maitê. A culpa ali era, portanto, dos pais, e Maitê só tratava de manter a escrita.
Dois minutos depois de a pentelha entrar comecei a ouvir os berros.
Sim, Maitezinha foi fazer exame de sangue.
Todos que estavam na sala de espera se entreolharam e se sentiram vingados.
Sim Maitezinha, tudo pode piorar.
Sim Maitezinha, agora você tem motivos pra espernear.
Sim Maitezinha, é provável que você nunca aprenda a hora certa de chorar.
Esta será tua herança maldita, colocada em seu caminho antes de você nascer, Maitê.
Maitê, a culpa é também, neste caso, dos seus pais.
Maitezinha saiu e eu fui chamado: - Fabiano Roberto, Box 3. Quase mandei uma cadeira na cabeça da enfermeira. Não bastava ter levado xixi pra passear. Não bastava a dor. Não bastava a Maitezinha: ela tinha que me lembrar de que meu nome é Fabiano Roberto - sim Mônica, pode rir. Aliás, não só me lembrou, como espalhou pro lugar todo. Deveria ter aberto o xixi e jogado na cabeça de todo mundo que ria por dentro.
Fabiano Roberto fez o que tinha que fazer e foi embora.
O centro é estranho em feriados.
Muitos mendigos que, é claro, estão sempre ali, mas se tornam imperceptíveis por conta do vai e vem das pessoas. Nos dias vazios eles não se misturam à paisagem; saltam dela, se ressaltam: feios, tristes, desesperadamente sós - Ah look at all the lonely people. E Fabiano Roberto vai pelo centro fazendo sua redução fenomenológica sobre os mendigos.
À noite vi o filme do Cazuza que só eu não tinha visto. Cortes muito mal feitos entre uma cena e outra. Cortes-tapa. Cortes-sopetão. Deixaram o filme feio, irritante, parecendo cinema nacional das antigas. Chorei com "se eu não posso te levar, quero que você me leve". É lindo isto, não?
Amanhã tem mais.
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