7.2.09

A moralidade adversativa

Tese sobre o desenvolvimento da moralidade é coisa que não falta no mercado. Todas com suas belas divisões etárias, suas interpretações sobre a anomia e a autonomia, suas digressões canhestras - na maioria das vezes - a respeito da internalização da lei moral e da própria lei moral. Observações, fichas técnicas e estatísticas: veja só, este menino é ainda um heterônomo, pobre coitado.

Modos de compreender à parte, o Centro Fabianesco de Estudos sobre o Homem tem chegado a ótimas conclusões fazendo uso de uma técnica menos constrangedora: a leitura gramatical. Como o único pesquisador do centro soy yo, passo rapidamente às percepções e conclusões. E a coisa é a seguinte: enquanto o sujeito continuar usando conjunções adversativas em frases iniciadas com pronomes pessoais na primeira pessoa, a coisa ainda não anda bem. Aliás, a coisa está longe de andar bem.

O verdadeiro ser moral é capaz de frases curtas e diretas das do tipo Eu fiz, e ponto, ou seja, sem trelelés. O verdadeiro ser moral não recorre a conjunções coordenativas que o salvem depois da coisa feita, que o justifiquem fazendo da linguagem, da oração sendo mais específico, uma balança que tenta se equilibrar, pois é nisso que ela se transforma quando a conjunção é colocada. Vejamos os exemplos:

Eu quebrei o braço do Zequinha, mas ele tinha passado a mão nos meus fundilhos.

Peguei o dinheiro sim, contudo eu não sabia de quem era.

Eu fui canalha até o fim, mas ela fez por merecer porque deu mole prum sujeito naquela festa.

Eu sequer olhei na cara dele, porém ele foi injusto comigo.



Pois então: ficou clara a questão da balança?

Em um primeiro momento, o pré conjunção, você joga o motivo pelo qual você poderia ser culpado; a balança então pende para o seu lado e apita: errado é você. Eis então que surge a bela e límpida conjunção coordenativa adversativa para salvar a sua pele, seja da ira dos outros, seja da sua mesmo. Mas, porém, todavia, contudo, entretanto há algo a ser dito e que pode aliviar a coisa. E aí surge o momento pós conjunção, que é aquele no qual você revela o podre dos outros ou no qual inventa um fato em um delírio desesperado, fazendo entender que aquele erro justifica o seu, isto é: fornece razão a sua ação, equilibrando a contenda e horizontalizando a balança.

Essa forma de expressão moral, a que eu nomeio de moralidade adversativa, é comumente usada por adultos não tão adultos assim, e isto dependendo da sua expectativa a respeito da chamada autonomia moral. É só prestar um pouco de atenção que vocês perceberão exemplos a todo momento, o que lhes permitirá um certo cuidado no trato destes seres com M.A, evitando transtornos futuros.

No mais, se vocês acharem tudo isso balela e pensarem que eu esteja falando besteira, OK, eu posso até estar errado sobre estas questões de desenvolvimento da moralidade, mas Piaget também estava.

Um comentário:

rico disse...

Adorei a idéia de um centro fabianesco! Vou adotar a idéia e abrir um núlceo de pesquisa ricardianesco. Grande abraço