Ler Nietzsche é uma experiência no mínimo das mais peculiares. É necessário que todas as armas estejam empunhadas, que todas as referências estejam dispostas, que todas as possibilidades de interpretação se atentem para que se chegue a algum lugar.
Dias atrás estava lendo a Terceira Dissertação de A genelogia da moral, e isto por conta de uma questão que eu achava que poderia ser interessante pesquisar. Nesta dissertação Nietzsche trata sobre os ideais ascéticos, fazendo um levantamento da psicologia do sacerdote. Ora, haverá aqui alguma indicação aproveitada por Freud desta análise quando este estrutura a sua psicologia da religião? É cedo ainda para que eu possa responder.
Mas o que eu quero, meus caros, não é falar disso. Eu quero é citar uma passagem extraordinária a qual eu ainda não havia entendido. E nao havia entendido porque não estava devidamente gaio para entendê-la. Estava levando o texto muito a sério para poder rir dele. Afinal, não era aquele um texto filosófico? Errado, era um texto nietzschiano. A passagem:
O que significam ideais ascéticos? - Para os artistas nada, ou coisas demais; para os filósofos e eruditos, algo como instinto e faro para as condições propícias a uma elevada espiritualidade; para as mulheres, no melhor dos casos um encanto mais de sedução, um quê de morbidezza na carne bonita, a angelicidade de um belo e gordo animal;
Quando a "ficha caiu" eu ria sem parar. Como é que se pode escrever isso num texto "sério"? Pois bem, a filosofia de Nietzsche se constrói assim: fazendo o que se diz que tem que ser feito. Desestrurar a linguagem, exceder em figuras, não ser emburrado demais.
A questão do artista
Em um post abaixo, em que eu falava da classe artística tomando as rédeas do pensamento tupiniquim, deixei em aberto a questão sobre se aquele destranbelhamento acontecia no mundo todo. Bem, ainda lendo a Terceira Dissertação, me deparei com isto: eles estão longe de se colocar independentemente no mundo, e contra o mundo, para que as suas avaliações, e a mudança delas, mereçam em si interesse! Eles sempre foram os criados de quarto de uma religião, de uma filosofia, de uma moral; sem contar que, infelizmente, não raro foram dóceis cortesãos de seus seguidores e patronos, e sagazes bajuladores de poderes antigos, ou poderes novos e ascendentes. Ao menos necessitam sempre de uma proteção, de um amparo, uma autoridade estabelecida: os artistas não se sustentam por si sós, estar só vai de encontro a seus instintos mais profundos.
Pois bem, qualquer semelhança com o que acontece hoje não é mera coincidência. E a minha pergunta está respondida.
* Pra quem não sabe, Porquê não somos nietzschianos é um livro escrito por vários marxistas franceses. Tem coisa pior do que ter estes dois qüalificativos trabalhando juntos: marxista e francês? Só juntando mais qüalificativos: barata marxista-francesa; fiscal de trânsito marxista-francês; pedagoga construtivista marxista-francesa (apesar de que esta é uma tautologia); psicóloga comportamental marxista-francesa.
Ai, sai pra lá: paro por aqui porque já estou ficando arrepiado!
22.9.07
17.9.07
Essa aí só falta internar...
Leiam, e depois façam o que quiser:
Em entrevista à revista argentina "Debate", a filósofa Marilena Chaui admitiu pela primeira vez a possibilidade de que tenha existido o mensalão, que ela antes qualificava de uma "construção fantasmagórica" da mídia.
A filósofa petista, porém, mantém sua tese de que a imprensa manipulou o caso para criar uma imagem negativa do governo Lula, buscando seu impeachment.
Para ela, se ocorreu, o mensalão não foi algo inédito: "Nenhum governante governa sem fazer alianças e negociações com outros partidos. Essa negociação tende à corrupção. Essa compra e venda ocorreu sistematicamente nos governos José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, sem que os meios se manifestassem sobre o assunto", disse.
Ela admite agora que "há indícios de que alguns membros do primeiro governo de Lula negociaram com parlamentares, de acordo com essa mesma tradição. Mas o PT e seu presidente operário, como ousam fazer o mesmo que os partidos da classe dominante? Que ousadia absurda! Resultado: os meios de comunicação transformaram a situação em um caso único, nunca visto antes, e construíram a imagem do governo mais corrupto da história do Brasil", disse.
Para Chaui, "o falso moralismo ocupou o lugar de uma discussão de ética republicana porque permite atacar o PT naquilo que é seu ponto de honra: a ética na política". (RODRIGO RÖTZSCH)
Deu pra entender a lógica da mulher, não deu? Vamos lá:
Todo partido político comete falcatruas.
O PT é um partido político.
Logo, o PT comete falcatruas.
O que não deu pra entender foi a ética. Ela se tranformou em moral de classes. Será isso mesmo?
A vontade que dá é de abrir um processo e fazer a dita provar o que diz sobre os governos anteriores. E prendê-la, ao final, por dois motivos: falar besteira, e ser condizente com o crime organizado.
Em entrevista à revista argentina "Debate", a filósofa Marilena Chaui admitiu pela primeira vez a possibilidade de que tenha existido o mensalão, que ela antes qualificava de uma "construção fantasmagórica" da mídia.
A filósofa petista, porém, mantém sua tese de que a imprensa manipulou o caso para criar uma imagem negativa do governo Lula, buscando seu impeachment.
Para ela, se ocorreu, o mensalão não foi algo inédito: "Nenhum governante governa sem fazer alianças e negociações com outros partidos. Essa negociação tende à corrupção. Essa compra e venda ocorreu sistematicamente nos governos José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, sem que os meios se manifestassem sobre o assunto", disse.
Ela admite agora que "há indícios de que alguns membros do primeiro governo de Lula negociaram com parlamentares, de acordo com essa mesma tradição. Mas o PT e seu presidente operário, como ousam fazer o mesmo que os partidos da classe dominante? Que ousadia absurda! Resultado: os meios de comunicação transformaram a situação em um caso único, nunca visto antes, e construíram a imagem do governo mais corrupto da história do Brasil", disse.
Para Chaui, "o falso moralismo ocupou o lugar de uma discussão de ética republicana porque permite atacar o PT naquilo que é seu ponto de honra: a ética na política". (RODRIGO RÖTZSCH)
Deu pra entender a lógica da mulher, não deu? Vamos lá:
Todo partido político comete falcatruas.
O PT é um partido político.
Logo, o PT comete falcatruas.
O que não deu pra entender foi a ética. Ela se tranformou em moral de classes. Será isso mesmo?
A vontade que dá é de abrir um processo e fazer a dita provar o que diz sobre os governos anteriores. E prendê-la, ao final, por dois motivos: falar besteira, e ser condizente com o crime organizado.
3.9.07
Enquanto isso, o nosso Sócrates...
E o homem do "só sei que nada sei" continua aprontando das suas.
Nesta semana disse coisas de arrepiar os cabelos, e isso com aquela altivez de sempre, trazida pela segurança de quem pode falar o que quer que seja por estar protegido por seus escudos míticos.
Duas foram as pérolas. Na primeira delas, afirmou sem constrangimentos que não tem dúvidas de que "as coisas boas feitas por seu governo hão de fazer esquecer os crimes referentes ao mensalão". Ora, há duas leituras-descontruções possíveis aqui, cada uma delas deixando a fala ainda mais caduca.
Na primeira podemos ignorar o argumento fundante porque simplesmente ele é falso: foram tantas coisas boas assim? Qual a melhor? A estabilidade econômica a que chegamos por conta do governo FHC? O PROUNI que financia também, e em sua maioria, universidades desqüalificadas? O Bolsa-Família que já existia e foi ampliado sem que um objetivo mais eficaz, a inserção no mercado de trabalho, viesse à tona? O aparelhamento do Estado por companheiros?* Ou a eficácia e a presteza mostradas no caso dos acidentes aéreos? A escolha aqui fica difícil, o que nos fornece o sentido da primeira leitura.
Já para inaugurar uma segunda, vamos nos esquecer destes fatos e aceitar que "nunca antes neste país" havíamos tido um governo como esse. Ao assumirmos esta hipótese a colocação ganha outro sentido, sentido este por assim dizer, mais histórico: algo com o qual já tínhamos trabalhado antes. Querem ver? É só seguir a lógica, o que podemos fazer juntos: se o que há de bom supera o que há de mal, estamos novamente do campo do... rouba mas faz. Sim meus caros: roubamos, desviamos, ocultamos, mas se em contrapartida fazemos, o que há de mal nisso?
E assim se faz a ética neo-socrática de Garanhuns. Uma retomada de argumento de outro grande pensador brasileiro, o senhor Paulo Maluf.
Bem, desvendados os sentidos da frase de nosso líder, podemos continuar e pensar um pouco sobre a outra boa fala da semana: o PT é o partido mais ético do Brasil.
Para entendermos melhor esta aqui façamos o mesmo processo de leitura da primeira pérola já que, veremos, elas possuem estruturas idênticas. O PT é o partido mais ético do Brasil: baseado em quais fatos isto é dito? Destes que vêm a público? De todas as histórias que já conhecemos e que serão ainda mais abertas pelo julgamento no Supremo? Algo nos diz aqui que esta afirmação não passa de balela. Mas haveria uma saída sim, podemos ler isto de outra maneira, e o que é pior, de um modo mais preocupante.
Ao afirmar que "o PT é o partido mais ético do Brasil" Lula pôde querer dizer que o seu partido é o que "menos apronta". Sim, é o mais ético porque é o que menos usa a máquina do Estado para benefício próprio. E o que se fez aqui? Aqui Lula afirmou que, para ele e para os seus, a ética não é algo do campo do absoluto mas sim do relativo. Traduzindo: se X roubou R$20,00 e Y R$30,00, X é mais ético do Y. Não é fantástico isso? Sim, sabemos que existem crimes diferentes e que para tipo ou gravidade há diferentes penas. Mas não existe um linha que diga que, se aquele matou, o outro que só tirou um braço é um bom homem. É um homem mais ético. Esta aberração do pensamento é o que foi afirmado por nosso presidente, nosso líder-filósofo.
Um viva ao nosso Kant barbado!
* - o número de funcionários públicos contratados desde o início do governo Lula já chegou a quase 200.000, ou seja, 20% do que é hoje o número total. É, nunca antes neste país se apadrinhou tanta gente...
Nesta semana disse coisas de arrepiar os cabelos, e isso com aquela altivez de sempre, trazida pela segurança de quem pode falar o que quer que seja por estar protegido por seus escudos míticos.
Duas foram as pérolas. Na primeira delas, afirmou sem constrangimentos que não tem dúvidas de que "as coisas boas feitas por seu governo hão de fazer esquecer os crimes referentes ao mensalão". Ora, há duas leituras-descontruções possíveis aqui, cada uma delas deixando a fala ainda mais caduca.
Na primeira podemos ignorar o argumento fundante porque simplesmente ele é falso: foram tantas coisas boas assim? Qual a melhor? A estabilidade econômica a que chegamos por conta do governo FHC? O PROUNI que financia também, e em sua maioria, universidades desqüalificadas? O Bolsa-Família que já existia e foi ampliado sem que um objetivo mais eficaz, a inserção no mercado de trabalho, viesse à tona? O aparelhamento do Estado por companheiros?* Ou a eficácia e a presteza mostradas no caso dos acidentes aéreos? A escolha aqui fica difícil, o que nos fornece o sentido da primeira leitura.
Já para inaugurar uma segunda, vamos nos esquecer destes fatos e aceitar que "nunca antes neste país" havíamos tido um governo como esse. Ao assumirmos esta hipótese a colocação ganha outro sentido, sentido este por assim dizer, mais histórico: algo com o qual já tínhamos trabalhado antes. Querem ver? É só seguir a lógica, o que podemos fazer juntos: se o que há de bom supera o que há de mal, estamos novamente do campo do... rouba mas faz. Sim meus caros: roubamos, desviamos, ocultamos, mas se em contrapartida fazemos, o que há de mal nisso?
E assim se faz a ética neo-socrática de Garanhuns. Uma retomada de argumento de outro grande pensador brasileiro, o senhor Paulo Maluf.
Bem, desvendados os sentidos da frase de nosso líder, podemos continuar e pensar um pouco sobre a outra boa fala da semana: o PT é o partido mais ético do Brasil.
Para entendermos melhor esta aqui façamos o mesmo processo de leitura da primeira pérola já que, veremos, elas possuem estruturas idênticas. O PT é o partido mais ético do Brasil: baseado em quais fatos isto é dito? Destes que vêm a público? De todas as histórias que já conhecemos e que serão ainda mais abertas pelo julgamento no Supremo? Algo nos diz aqui que esta afirmação não passa de balela. Mas haveria uma saída sim, podemos ler isto de outra maneira, e o que é pior, de um modo mais preocupante.
Ao afirmar que "o PT é o partido mais ético do Brasil" Lula pôde querer dizer que o seu partido é o que "menos apronta". Sim, é o mais ético porque é o que menos usa a máquina do Estado para benefício próprio. E o que se fez aqui? Aqui Lula afirmou que, para ele e para os seus, a ética não é algo do campo do absoluto mas sim do relativo. Traduzindo: se X roubou R$20,00 e Y R$30,00, X é mais ético do Y. Não é fantástico isso? Sim, sabemos que existem crimes diferentes e que para tipo ou gravidade há diferentes penas. Mas não existe um linha que diga que, se aquele matou, o outro que só tirou um braço é um bom homem. É um homem mais ético. Esta aberração do pensamento é o que foi afirmado por nosso presidente, nosso líder-filósofo.
Um viva ao nosso Kant barbado!
* - o número de funcionários públicos contratados desde o início do governo Lula já chegou a quase 200.000, ou seja, 20% do que é hoje o número total. É, nunca antes neste país se apadrinhou tanta gente...
Cartola na cadeia
Hahaha... Tem gente que vai querer me matar aqui, mas o que é que eu posso fazer?
Para levantamento de provas, sigam as instruções: cliquem no vídeo abaixo e, quando o baixo começar a tocar (baixo ou cello?) cantem: Bate outra vez, com esperanças no meu coração...
A estrutura de "As rosas não falam" é toda baseada neste trecho, concordam? É, na verdade, quase sempre uma repetição deste trecho.
E o que se percebe quando se escuta Vocalise, de Rachmaninoff? Que quem compôs "As Rosas não falam" não foi um brasileiro do tipo mítico (pobre, morador do morro, sambista de nariz esquisito), mas sim um russo! Isso mesmo, um russo, o que significa que "As rosas não falam" é um... plágio (ainda que inconsciente, sei lá!).
Não dá aqui nem pra dizer que se trata de um caso de zeitgeist, ou que, como disse Bento Prado de forma divertida, havia mais coisas no ar na época do que os aviões da VASP.
E agora, o que faremos?
Já me disseram que o fato foi inverso, ainda que Vocalise seja de 1912 e "As rosas..." de 1976. É a nossa lógica-esquisita de novo tentando salvar a pátria.
E viva a castanha!
Para levantamento de provas, sigam as instruções: cliquem no vídeo abaixo e, quando o baixo começar a tocar (baixo ou cello?) cantem: Bate outra vez, com esperanças no meu coração...
A estrutura de "As rosas não falam" é toda baseada neste trecho, concordam? É, na verdade, quase sempre uma repetição deste trecho.
E o que se percebe quando se escuta Vocalise, de Rachmaninoff? Que quem compôs "As Rosas não falam" não foi um brasileiro do tipo mítico (pobre, morador do morro, sambista de nariz esquisito), mas sim um russo! Isso mesmo, um russo, o que significa que "As rosas não falam" é um... plágio (ainda que inconsciente, sei lá!).
Não dá aqui nem pra dizer que se trata de um caso de zeitgeist, ou que, como disse Bento Prado de forma divertida, havia mais coisas no ar na época do que os aviões da VASP.
E agora, o que faremos?
Já me disseram que o fato foi inverso, ainda que Vocalise seja de 1912 e "As rosas..." de 1976. É a nossa lógica-esquisita de novo tentando salvar a pátria.
E viva a castanha!
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