7.12.06

Todas as vezes que eu acesso o blog pra escrever alguma coisa há uma frase, um trecho de poema que nunca sai do campo de digitação.

Finalmente ele ganhou: já que insiste tanto em aparecer, agora vai. Quem sabe assim ele some.
Com vocês, o dito:

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que,
tecido, se eleva por si: luz balão. (JCMN)

Agora posso voltar a escrever em paz.

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Ontem escutei uma música que não ouvia há uns dez anos.
Normal, vocês poderiam dizer. E o que isso teria de mais? Dããã...
Aí é que entra a questão: era uma das minhas cançoes preferidas e simplesmente tinha sumido, tinha se apagado da minha cachola. Coisa estranha, hein...?

Bom, o fato é que eu adorava Fala, dos Secos & Molhados.
Adorava porque é o tipo de composição que gosto: piano, violinos em "crescendo", um teclado malucão, uma melodia linda, um vocal sem comentários.

Adorava porque a letra falava sobre mim de uma maneira assustadora.

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto.

Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto.

Fala.

Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto.

Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto.

Fala.


Sim, meus caros, demorei-me bastante a começar a falar.

Ouvia, observava, observava mais um pouco e ouvia: jamais achava que a minha fala era necessária. Poucas vezes acreditava que falar certas coisas valia a pena. Pensava que as pessoas falavam demais. Fabiano mudo até vinte e poucos anos.

Disto coisas boas e más:

1) agora tenho certeza de que não há necessidade de se falar tanto;
2) sei muito sobre os outros, percebo muito, noto nuances divertidíssimas;
2) não sei me expressar direito quando falo. Se pudesse, escreveria sempre;

Mas o fato é que o feitiço se virou: ando verborrágico, falando demais.
E como não sei falar, acabo falando besteira, me excedendo, fazendo o desejo jorrar da ponta da língua (língua como o maior orgão para satisfação de desejos), o que me tem feito falar ainda mais um pouco pra pedir desculpas, pra explicar que sei que a minha fala pode estar atravessando o desejo alheio, que a minha fala não deve ser muito considerada.

Cala.

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Fato: os bebês de colo me amam. Não sei o que eles vêm de tão engraçado em mim, mas olham pra minha cara e começam a rir.
Fato: eu nunca sei e nunca saberei o que fazer, simplesmente porque não sei lidar com pessoas desconhecidas. Tenho dificuldade em primeiros contatos, ainda que sejam com bebês.
Então eu pego uma revista, me viro, vou tomar água.
Mas se alguém já a viua cena, aí fudeu. Moço mal, não gosta de crianças, coisa e tal.
- Não minha senhora, mas é que com o bebê não há linguagem fática. Com bebê eu não posso falar sobre o tempo ou sobre o jogo da seleção. Então eu fico sem graça. Então eu é que fico com vontade de chamar a minha mãe.

Ontem fui fazer um exame e um deles ficou rindo pra mim. Fui ao banheiro e não voltei mais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei!!!
ufa! existem outras pessoas no mundo que tem problemas de comunicação com bebês... mais tranquila agora...