2.4.12

Paisagem pelo sonho

Eu dormia dentro do sonho, e nesse apagamento secundário lidava com uma única sensação: calor, apenas calor.

E dentro do sonho acordei.

E acordei em um quarto todo bege bem claro, um quarto gigantesco, com o pé direito enorme e uma janela que cobria todo o meu lado direito.

Minha tinha Iara então caminhou até mim e disse, vagarosamente, com seu modo de falar tranquilo e aconhegante: Bom dia... Veja só o que tenho pra você...

E puxou uma cortina de uns 5 metros de altura por cerca de quinze de comprimento, a que cobria todo o espaço da janela.

E um vento bom entrou através daquele espaço sem vidros que tinha do outro lado um céu azul, um mar azul e a areia da praia.

Ainda que todas as coisas fossem muito claras, e solares, meus olhos não doíam ao olhar aquilo tudo.

E dentro do sonho pensei: conheço o  que estou sentindo agora... Hummm: sim, foi um poema que trouxe isso... É algo despertado por um poema.

Estou sonhando exatamente a mesma a sensação que tive ao ler Paisagem pelo telefone.

E tão logo me dei conta disso, acordei.

PAISAGEM PELO TELEFONE


Sempre que no telefone
me falavas, eu diria
que falavas de uma sala
toda de luz invadida,

sala que pelas janelas,
duzentas, se oferecia
a alguma manhã de praia,
mais manhã porque marinha,

a alguma manhã de praia
no prumo do meio-dia,
meio-dia mineral
de uma praia nordestina,

Nordeste de Pernambuco,
onde as manhãs são mais limpas,
Pernambuco do Recife,
de Piedade, de Olinda,

sempre povoado de velas,
brancas, ao sol estendidas,
de jangada, que são velas
mais brancas porque salinas,

que, como muros caiados
possuem luz intestina,
pois não é o sol quem as veste
e tampouco as ilumina,

mais bem, somente as desveste
de toda sombra ou neblina,
deixando que livres brilhem
os cristais que dentro tinham.

Pois, assim, no telefone
tua voz me parecia
como se de tal manhã
estivesses envolvida,

fresca e clara, como se
telefonasses despida,
ou, se vestida, somente
de roupa de banho, mínima,

e que por mínima, pouco
de tua luz própria tira,
e até mais, quando falavas
no telefone, eu diria

que estavas de todo nua,
só de teu banho vestida,
que é quando tu estás mais clara
pois a água nada embacia,

sim, como o sol sobre a cal
seis estrofes acima,
a água clara não te acende:
libera a luz que já tinhas.


  

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